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Como latinos, “moderados” e apoiadores de Trump estão definindo a eleição

Últimos resultados das primárias indicam que Democratas apostam no centrismo de Biden para derrotar Trump, cujo apoio no interior cresceu

Bernie Sanders e Joe Biden se cumprimentam em 2013. Foto: Senado dos EUA
The Conversation
04 de março de 2020, 18h45

Tradução Cynara Menezes

O site The Conversation pediu a três especialistas para analisar os resultados  da Super Terça, que tirou Michael Bloomberg do páreo e resumiu a competição que vai definir o candidato Democrata à presidência dos Estados Unidos a um duelo entre Joe Biden e Bernie Sanders.

Andrea Kent, Professor Assistente de Ciência Política da Universidade de West Virginia: 

A “Super Terça” (Super Tuesday, em inglês) de 2020 mostrou a resiliência do centro “moderado” do Partido Democrata contra a esquerda do partido.

Este ano, a Super Terça incluiu 10 Estados que também votaram na Super Terça em 2016, e adicionou quatro novos Estados, California, Maine, North Carolina and Utah. Dos 14, Sanders venceu seis em 2016 e aproximadamente 44% dos delegados. Este ano, Sanders conquistou apenas quatro Estados.

Biden se mostrou particularmente forte no Sul, chegando em primeiro em todas as primárias da região. As vitórias de Biden em 2020 superam as de Hillary Clinton em 2016; ela perdeu para Sanders em Oklahoma. Biden também recuperou Minnesota, que tinha ido para Sanders em 2016. Mas Sanders levou a Califórnia, que, com seu enorme número de delegados, pode ajudar a diminuir a diferença na contagem por delegados.

Os resultados sugerem que a preferência pelos políticos de esquerda não cresceu entre muitos votantes democratas nas primárias. Já os de centro superaram o número de votos recebidos em 2016 por Clinton em vários Estados

A partir das performances dos pares ideologicamente similares (os centristas Biden e Bloomberg e os “esquerdistas” Sanders e Warren), os resultados sugerem que a preferência pelos políticos de esquerda não cresceu entre muitos votantes democratas nas primárias estaduais. Já a dupla centrista superou Clinton no ColoradoMaineMinnesotaOklahoma e Vermont. Enquanto poucos Estados viram um aumento significativo de apoio para os candidatos de esquerda, os dois que tiveram –Califórnia e Texas– possuem um número significativo de delegados.

As próximas duas semanas irão dar uma visão mais clara das primárias Democratas nos EUA. No dia 10 de março, seis Estados, incluindo Washington –onde Sanders venceu com larga vantagem em 2016– e Michigan, onde Sanders levou raspando. Na semana seguinte, quatro Estados grandes –incluindo Estados decisivos como Ohio e Flórida, assim como Illinois e Arizona– votam, e todos eles preferiram a mais “moderada” Clinton em 2016.

Biden recebe o apoio do ex-deputado texano Beto O’Rourke. Foto: divulgação

Katie A. Cahill, Diretora Associada do Centro de Políticas Públicas Howard H. Baker Jr., Universidade do Tennessee:

Em 2016, o presidente Donald Trump ganhou em meu Estado do Tennessee pela maior diferença desde a disputa entre Richard Nixon e George McGovern em 1972. Trump recebeu 60.7% do total de votos, comparado a 32.1% para Hillary Clinton.

Embora poucos analistas achem que haja alguma reviravolta no Estado em 2020, o que a Super Terça nos permite pensar sobre as preferências dos que vivem nos rincões profundos do “Trump country”? Nas primárias republicanas do Tennessee em 2020, Trump recebeu 384.034 votos –50 mil a mais do que na disputada corrida pelas primárias em 2016.

Comparando com 2004, a última primária com um presidente republicano no cargo concorrendo à reeleição, apenas 99.061 pessoas votaram na primária do partido, no total. Isso sugere que a base  eleitoral leal e entusiasmada de Trump no Estado permaneceu estável e até cresceu potencialmente desde a última eleição.

O Estado é reconhecido por ser politicamente moderado. Mas, apesar das críticas públicas ao presidente e a sua administração feitas por algumas lideranças republicanas –inclusive o ex-governador Bill Haslam e os ex-senadores Bob Corker e Lamar Alexander–, aparentemente a atual administração continua bastante popular entre os eleitores conservadores do Estado.

Aumento dos votos para Trump nas primárias republicanas no Tennessee sugere que a base  eleitoral leal e entusiasmada do presidente no Estado permaneceu estável e até cresceu potencialmente desde a última eleição

Ao mesmo tempo, na primária Democrata de 2020, havia um total de 142.945 mais votos do que em 2016, sugerindo que há bastante empenho em ambos os lados da disputa, o que é particularmente interessante em um Estado que costuma estar entre os últimos no ranking nacional de comparecimento às urnas.

Joe Biden liderou os Democratas no Estado com aproximadamente 42% dos votos da Super Terça. No entanto, ele recebeu cerca de 30 mil votos a menos do que Hillary Clinton em 2016. Enquanto isso, Bernie Sanders obteve mais de 7 mil votos no Estado do que quatro anos atrás.

Ainda assim, dos 95 condados do Estado, Biden levou 91, com Sanders vencendo em apenas quatro. Este resultado sugere que, para os eleitores Democratas do interior do país, a postura centrista de Biden é a melhor aposta para as eleições presidenciais de 2020.

Sanders com jovens eleitores em St.Paul, Minnesota. Foto: divulgação

Rey Junco, Diretor de Pesquisa no Centro de Informação e Pesquisa em Aprendizado e Engajamento Cívico do Jonathan M. Tisch College of Civic Life, Tufts University:

Texas era o segundo maior prêmio da Super Terça, e Joe Biden ganhou as primárias no Estado com 33.7% dos votos. No entanto, o voto latino foi para Bernie Sanders: 45% dos texanos de origem hispânica votaram em Sanders e 24% em Biden. Enquanto 44% de todos os votantes na primária Democrata são brancos, 31% são latinos.

A diferença entre Biden e Sanders foi ainda maior entre os latinos na faixa etária entre os 18 e os 29 anos: 66% preferiram Sanders contra 10% que preferiram Biden. E eles compareceram mais às urnas do que os jovens texanos brancos: 8% contra 5%. Como Biden aparentemente ganhou por menos de 4 pontos percentuais, um comparecimento da juventude latina às urnas poderia ter mudado os resultados.

Durante anos, os observadores políticos vêm falando sobre a força que os votantes latinos têm para ressignificar a política norte-americana. Eles certamente têm o potencial: o censo mostra que os latinos representam 13% da população em idade de votar –e esse número está crescendo.

Biden ganhou por menos de 4 pontos percentuais de Sanders no Texas, onde 66% dos jovens latinos preferiram Bernie. Isso sugere que um maior comparecimento da juventude latina às urnas poderia ter mudado os resultados

Nas eleições para o Congresso em 2018, os norte-americanos tiveram uma amostra de como os jovens latinos já estão influenciando as eleições. Análises feitas pelo CIRCLE –o grupo de pesquisa do qual faço parte– apontam que o candidato Democrata ao Senado Beto O’Rourke teve mais votos nos condados do Texas com maiores populações de jovens e latinos do que nos condados com poucos jovens e poucos latinos. Esta dinâmica tende a fazer do Texas um Estado bastante polarizado num futuro próximo.

Entretanto, como acontece com todos os jovens eleitores, manter a juventude latina no Texas engajada depende de manter um contato contínuo. Isto tem sido um desafio: nossa pesquisa com votantes jovens no Texas antes das primárias mostrou que os latinos do Estado abaixo dos 40 eram bem menos abertos a serem contactados por uma campanha ou organização do que os não-latinos. 75% dos latinos não haviam sido contactados, contra 60% dos não-latinos.

Talvez como resultado disso, os latinos receberam menos informações essenciais sobre a votação. Apesar de as primárias no Texas permitirem que qualquer eleitor registrado vote tanto como Republicano quanto como Democrata, dois terços dos latinos pensavam que tinham de estar registrados em um partido para participar ou disseram não saber como.

 


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