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Caiu o primeiro: derrota de Macri anuncia mudança de ventos na América do Sul

Coalizão de Cristina Kirchner, que se torna presidenta do Senado, também levou o governo da província de Buenos Aires

Macri chau, chau, chau... Foto: Casa Rosada
Cynara Menezes
27 de outubro de 2019, 23h04

Os ventos estão mudando de direção na América do Sul. A “onda neoliberal” começa a ser derrotada por seu próprio projeto econômico, propulsor da desigualdade e da recessão. Com a queda de Mauricio Macri neste domingo, a esquerda inicia sua volta ao poder pela Argentina, exatamente como temia Bolsonaro. Com 97% dos votos apurados, o peronista Alberto Fernández, da coalizão Frente de Todos, cuja vice é a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, conseguiu 48,1% dos votos contra 40% de Macri e venceu no primeiro turno.

Os argentinos disseram “não” à continuidade do desastroso governo de direita, que levou o país de volta ao FMI após 15 anos e os indicadores sociais a uma queda vertiginosa, embora o presidente tenha prometido “pobreza zero” ao assumir: nosso vizinho tem hoje o nível mais alto de pobreza desde 2001, com 52,6% das crianças na pobreza e 13,1% estão em situação de miséria. A inflação é a maior dos últimos 27 anos.

Os argentinos disseram “não” à continuidade do desastroso governo Macri, que levou o país de volta ao FMI e os indicadores sociais a uma queda vertiginosa: nosso vizinho tem o nível mais alto de pobreza desde 2001. A inflação é a maior dos últimos 27 anos

Um dado importante dessa vitória é que, pela legislação argentina, o vice-presidente ocupa a presidência do Senado. Cristina Kirchner, portanto, é a nova presidenta do Senado argentino. A coalizão de Cristina também ganhou na província de Buenos Aires: seu ex-ministro da Economia, Axel Kiciloff, derrotou a atual governadora Maria Eugenia Vidal, aliada de Macri, por uma diferença superior a 13 pontos percentuais: 52,29% a 38,39%, com 95% das urnas apuradas.

Na manhã de domingo, o novo presidente Alberto Fernández havia felicitado Lula pelo seu aniversário de 74 anos. “Hoje faz aniversário meu amigo Lula, um homem extraordinário que está injustamente preso há um ano e meio”, escreveu, fazendo o sinal de Lula Livre. Fernández já havia visitado o ex-presidente na cadeia em Curitiba em julho.

À noite, Fernández voltou a pedir “Lula Livre!” diante da multidão que festejava a vitória em frente ao comitê central da Frente de Todos no bairro de Chacarita, em Buenos Aires.

Após ser informado da derrota de seu candidato Macri, Bolsonaro disse que não ia cumprimentar o novo presidente argentino, como se não fosse o chefe da Nação e sim um menino birrento. “A Argentina escolheu mal. Não pretendo parabenizá-lo”, disse. Já o atual presidente mostrou mais apreço à democracia, reconheceu a derrota e recebeu Fernández na Casa Rosada na manhã de segunda. “Eu e minha equipe estamos à disposição para trabalhar juntos e conseguir uma transição democrática que beneficie a todos os argentinos”, afirmou Macri. O presidente eleito qualificou o encontro como “positivo”.

“É um grande dia para a Argentina”, disse Fernández, prometendo colaborar com Macri na transição. “A única coisa que nos preocupa é que os argentinos deixem de sofrer de uma vez por todas”

Alberto Fernández tem 60 anos, é professor e advogado. Ocupou a chefia de gabinete da presidência no governo de Néstor Kirchner e durante parte da presidência de Cristina, de quem se tornaria crítico. Daí a surpresa quando decidiram formar a dobradinha que se sagrou vencedora. Suas primeiras palavras após o final da contagem foram para agradecer ao povo pela votação. “É um grande dia para a Argentina”, disse, também prometendo colaborar com Macri na transição. “Vamos colaborar em tudo que pudermos, porque a única coisa que nos preocupa é que os argentinos deixem de sofrer de uma vez por todas.”

Menos diplomática, a nova presidenta do Senado, Cristina Kirchner, pediu a Macri que “suavize a situação dramática” das finanças públicas. “É sua responsabilidade. Os presidentes são presidentes desde o primeiro dia que assumem até o último”, disse.

No Uruguai, haverá segundo turno entre o candidato da Frente Ampla, o ex-prefeito de Montevidéu Daniel Martínez, e o candidato da direita, o ex-senador Lacalle Pou, derrotado pelo atual presidente Tabaré Vázquez em 2014. Pepe Mujica foi eleito senador em uma lista com votação recorde: 262.124 votos. Mujica havia renunciado ao cargo em agosto do ano passado alegando “cansaço” e “razões pessoais”.

 


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Paulo Roberto Martins em 28/10/2019 - 09h26 comentou:

Quando o gado daqui vai se mexer? Cadê nossos oposicionistas? Viajando para palestras? Escrevendo análises conjunturais,biografias ou livros de auto-ajuda? Cadê a esquerda militante? Cadê os beneficiados pelas politicas de combate à pobreza nos governos petistas? Será que se tornaram todos pentecostais e andam de portão em portão com a Bíblia embaixo do sovaco? Cadê os cara-pintadas,os estudantes universitários,os cantores de protesto? Cadê a mídia alternativa,que fora Carta Capital levaram um sumiço? Cadê os senadores,deputados,vereadores dos partidos oposicionistas? Cadê o movimento dos professores que já lutaram tanto no passado? Será que terei de contratar algum poderoso bruxo vudu para ressuscitar de seus túmulos os heróis da geração de sessenta e setenta,jovens mortos lutando para mudar o país,para ensinarem os de hoje a serem homens?

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Carlos de Vale em 02/11/2019 - 20h22 comentou:

Não tem oposição no Brasil. Vivemos num regime de partido único entreguista dividido em mais de 30 legendas, onde algumas destas legendas simulam uma oposição em modo telecacth. A despeito disso, tem uma tal “esquerda” (que de esquerda não tem nada”) que ficam criando ódio na sociedade com pautas que visam afrontar os valores da sociedade: os identitários. E não se iluda, não tem vento mudando. Macri ficou com 40% dos votos e tem muita representatividade na sociedade que fará da Argentina um inferno assim que trocar o governo. O Chile convulsionado está a beira de um novo golpe militar porque sempre foi laboratório dos EUA na América do Sul. Nada de vento virando, viagem pura. Lula está preso, mais que nunca, e os vazamentos do Gleen tiveram EFEITOS ZERO e foi um diversionismo do capital para tirar o foco da reforma da previdência. JAndira Feghali mesmo desobstruiu a pauta da previdência em troca de chamar Gleen no congresso, ou seja, ouvir Gleen e deixar passar a previdência era mais importante que proteger a aposentadoria do povo. Essa mesma Jandira em dobradinha com Flávio Dino entregaram Alcântara para os ianques. Tudo comprado, gente vil. Não tem oposição no Brasil.

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