Socialista Morena
Feminismo

O incrível fenômeno dos homens sem testosterona que se gabam de ter testosterona

Para mim, esse papo é o clichê do clichê da "masculinidade", mas já que foram os supostos "homens com testosterona" que começaram, vou cobrar

É esse o parâmetro para os "homens com testosterona"?
Cynara Menezes
09 de maio de 2024, 13h24

Para começo de conversa, eu acho essa história de “homem com testosterona” um clichê dos mais babacas. Esse negócio de se dizer “imbrochável” ou falar que “tem o saco roxo” como metáfora de “valentia” para mim é típico de homem que não se garante na sua hombridade: ser trabalhador, bom pai, bom filho, bom marido, bom cidadão. De mais a mais, posso dizer que a maioria dos homossexuais que conheço são mais corajosos do que muito hétero.

Alguém, em sã consciência, pode olhar para Nikolas Ferreira e dizer que “tem pegada”, como caberia no clichê? Eu não consigo nem sequer encaixar Nikolas e “pegada” numa mesma frase, até porque, em plena lua-de-mel, ele foi capaz de gritar por… Bolsonaro

Mas já que o clichê está sendo usado por alguns homens de extrema direita para se gabar de serem machos, me sinto autorizada a usá-lo e cobrar essa testosterona toda. Me parece irônico, para dizer o mínimo, que homens sem nenhuma identificação com, por exemplo, os cowboys e valentões de Hollywood que fizeram o imaginário da tal “masculinidade”, estejam bradando por homens com testosterona.

Em quê o deputado federal Nikolas Ferreira, que usou a expressão em um dos carnagados convocados pelo bolsonarismo, se enquadra no estereótipo do “homem com testosterona”? É mirrado, imberbe e já usou até peruca loira em plenário. Alguém, em sã consciência, pode olhar para Nikolas e dizer que ele é um cara “com pegada”, como caberia no clichê? Eu não consigo nem sequer encaixar Nikolas e “pegada” numa mesma frase, inclusive porque, em plena lua-de-mel, ele foi capaz de gritar por… Jair Bolsonaro.

A própria família Bolsonaro contradiz a macheza com testosterona tão necessitada por Nikolas –ou Nikole, como ele se autodenominou no dia da performance de peruca. Flávio Bolsonaro, o senador, desmaiou em um debate (e dizem que teve até piriri); Jair, o pai, toda vez que é envolvido em alguma denúncia, foge para o hospital com dor de barriga ou pernoita na embaixada da Hungria; e que homem “de verdade” é capaz de tratar a própria filha como “fraquejada”?

Prefiro não dar margens à homofobia ao falar de Carluxo, que nunca foi visto com mulher, só com o primo. Mas a imagem dele sentado na cadeirinha do carro presidencial no dia da posse é símbolo de masculinidade para quem? Eduardo Bolsonaro é tão “macho” que tem apelido de Bananinha! Que tipo de “homem com testosterona” é esse que fica conhecido por “bananinha”, gente? E quem deu o apelido foi o general Mourão, não foi a gente, não!

Não vou nem mencionar o Jair Renan, um marmanjo de 26 anos que age como eterno adolescente problemático, incapaz de pagar as próprias contas e cuja mamata no gabinete de um senador catarinense foi obtida pelo pai, que pagou também a dívida de 360 mil reais do filho com o banco Santander. Desculpa, mas no meu conceito de “homem com testosterona” está, em primeiro lugar, a pessoa trabalhar e se sustentar.

Quem mais são os “machos com testosterona” do bolsonarismo? O pastor Marco Feliciano, que deve passar horas no cabeleireiro para arrumar aquele topetinho que não sai do lugar nem com vendaval, que teve os dentes consertados com dinheiro público e que só usa paletós bem ajustados ao corpo? Aliás, tá cheio de coaches bolsonaristas que parecem usar ternos de lycra, de tão grudadinhos. Mas não era o Doria o “calça apertada”? Ué? Mudaram de ideia?

Nos anos 1990, quando surgiram os metrossexuais, muitos “homens com testosterona” se indignaram com a mudança de padrão de masculinidade. Foi uma revolução: homens que faziam as sobrancelhas e as unhas, que se preocupavam com o físico, que cuidavam dos cabelos e usavam roupas de marca foram ridicularizados por muitos que duvidavam da “macheza” dos que agiam assim. Pois eu não vejo diferença entre os “homens com testosterona” do bolsonarismo e os metrossexuais. Talvez o fato de que são feios.

Eu desafio os bolsonaristas a me mostrar um só dos mitos deles que se encaixe no clichê do “homem com testosterona” do imaginário popular, que lembre um Clint Eastwood, um Charles Bronson, um Nuno Leal Maia, um Jece Valadão, para usar a iconografia dos macho men do cinema e da televisão. O Mauro Cid? O Silviney? O Pazuello? Os Red Pills carecas que estabelecem mil e uma condições para gostar de mulher? Ah, já sei: o delegado de peruca que é deputado federal do Pará! Né?

 

 


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(2) comentários Escrever comentário

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Luiz Fernando Melo em 13/05/2024 - 17h00 comentou:

Muito bom o artigo. Chega às raias da genialidade. É isso aí Cynara.

Responder

Eugênio Bh em 13/05/2024 - 18h21 comentou:

… Eles venceram,
e o sinal está fechado pra nós,
que somos velhos,
para abraçar e etc e tal

Responder

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