De Piketty e cia. para Merkel: “Chérie, seu plano de austeridade deu errado, reconheça”
O badalado autor de O Capital no Século 21, Thomas Piketty, se aliou a quatro outros colegas intelectuais e divulgou esta semana uma carta pública à chanceler alemã Angela Merkel onde a exorta a reconhecer que o plano de austeridade que traçou para a Grécia deu errado e a corrigir urgentemente o rumo para o […]
O badalado autor de O Capital no Século 21, Thomas Piketty, se aliou a quatro outros colegas intelectuais e divulgou esta semana uma carta pública à chanceler alemã Angela Merkel onde a exorta a reconhecer que o plano de austeridade que traçou para a Grécia deu errado e a corrigir urgentemente o rumo para o bem do mundo. Lembrou do perdão à dívida alemã no passado e pediu que a dívida grega seja reduzida. “É hora de um reexame humanitário do punitivo e falido programa de austeridade dos últimos anos”, diz o texto. Confira, traduzi da The Nation.
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Por Heiner Flassbeck, Thomas Piketty, Jeffrey D. Sachs, Dani Rodrik e Simon Wren-Lewis
A austeridade ‘sem fim’ que a Europa está enfiando ‘goela abaixo’ do povo grego simplesmente não está funcionando. Agora a Grécia disse bem alto: “chega”.
Como a maior parte do mundo sabia que iria acontecer, as exigências financeiras feitas pela Europa destroçaram a economia grega, levaram ao desemprego em massa, a um colapso do sistema bancário e fizeram com que a crise da dívida externa ficasse pior ainda, com o problema subindo para impagáveis 175% do PIB. A economia agora está quebrada, com as receitas fiscais em queda livre, produção e emprego em baixa e os negócios famintos por capital.
O impacto humanitário tem sido colossal –atualmente, 40% das crianças vivem na pobreza, a mortalidade infantil sobe à estratosfera e o desemprego dos jovens chega perto de 50%. Corrupção, evasão de impostos e uma terrível contabilidade do governo grego anterior ajudaram a criar o problema da dívida. Os gregos cumpriram com muito do pedido da chanceler alemã Angela Merkel por austeridade –cortaram salários, cortaram os gastos do governo, reduziram as pensões, privatizaram e desregularam e aumentaram os impostos. Mas, nos últimos anos, uma série dos tais ‘programas de ajuste’ infligidos à Grécia serviu apenas para fazer uma Grande Depressão, do tipo que não era visto na Europa desde 1929-1933. O remédio prescrito pelo Ministério das Finanças alemão e por Bruxelas fez sangrar o paciente, não curou a doença.
Juntos, nós exortamos a chanceler Angela Merkel e a Troika a considerarem uma correção de curso, para evitar maiores desastres e permitir que a Grécia continue na Zona do Euro. Neste momento, estão pedindo ao governo grego para que aponte uma arma para sua cabeça e puxe o gatilho. Infelizmente, a bala não irá matar apenas o futuro grego na Europa. O efeito colateral irá matar a zona do euro como um baluarte da esperança, democracia e prosperidade, e poderia levar a consequências econômicas de longo alcance ao redor do mundo.
Nos anos 1950, a Europa foi fundada graças ao perdão de dívidas passadas, notadamente as alemãs, o que gerou uma contribuição massiva à paz e ao crescimento econômico do pós-guerra. Hoje, nós precisamos reestruturar e reduzir a dívida grega, dar à economia um espaço para se recuperar e permitir que a Grécia pague um fardo menor de dívida em um longo período de tempo. É hora de um reexame humanitário do punitivo e fracassado programa de austeridade dos últimos anos e de aceitar uma redução substancial das dívidas gregas em conjunção com as tão necessárias reformas necessárias no país.
Para a chanceler Merkel nossa mensagem é clara: nós a exortamos a tomar essa atitude vital de liderança para a Grécia e Alemanha, e também para o mundo. A história irá lembrar de você por suas ações esta semana. Nós esperamos e contamos com você para dar os passos corajosos e generosos em direção à Grécia e que serão úteis à Europa por gerações.
Atenciosamente,
Heiner Flassbeck, ex Secretário de Estado no Ministério Federal das Finanças alemão
Thomas Piketty, Professor de Economia na Escola de Economia de Paris
Jeffrey D. Sachs, Professor de Desenvolvimento Sustentável, Professor de Políticas Públicas e Gestão e Diretor do Instituto Terra na Universidade de Columbia
Dani Rodrik, Professor da Fundação Ford de Economia Política Internacional, Escola Harvard Kennedy
Simon Wren-Lewis, Professor de Política Econômica, Escola de Governo Blavatnik, Universidade de Oxford
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