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O perfeito imbecil politicamente incorreto

Este meu texto, publicado em outubro de 2011 no site de CartaCapital, voltou a circular espontaneamente hoje na rede como reação à absurda falta de ética travestida de humor praticada pelo programa CQC, da Bandeirantes, contra o deputado federal José Genoino, do PT –que já foi julgado e condenado pelo STF e merece respeito, inclusive […]

Cynara Menezes
28 de março de 2013, 18h57

Este meu texto, publicado em outubro de 2011 no site de CartaCapital, voltou a circular espontaneamente hoje na rede como reação à absurda falta de ética travestida de humor praticada pelo programa CQC, da Bandeirantes, contra o deputado federal José Genoino, do PT –que já foi julgado e condenado pelo STF e merece respeito, inclusive como ser humano. Para refletir sobre o que é liberdade de expressão e o que é simplesmente agressão ao próximo.

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O perfeito imbecil politicamente incorreto

Em 1996, três jornalistas –entre eles o filho do Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa, Álvaro –lançaram com estardalhaço o “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”. Com suas críticas às idéias de esquerda, o livro se tornaria uma espécie de bíblia do pensamento conservador no continente. Vivia-se o auge do deus mercado e a obra tinha como alvo o pensamento de esquerda, o protecionismo econômico e a crença no Estado como agente da justiça social. Quinze anos e duas crises econômicas mundiais depois, vemos quem de fato era o perfeito idiota.

Mas, quem diria, apesar de derrotado pela história, o Manual continua sendo não só a única referência intelectual do conservadorismo latino-americano como gerou filhos. No Brasil, é aquele sujeito que se sente no direito de ir contra as idéias mais progressistas e civilizadas possíveis em nome de uma pretensa independência de opinião que, no fundo, disfarça sua real ideologia e as lacunas em sua formação. Como de fato a obra de Álvaro e companhia marcou época, até como homenagem vamos chamá-los de “perfeitos imbecis politicamente incorretos”. Eles se dividem em três grupos:

1. o “pensador” imbecil politicamente incorreto: ataca líderes LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Trânsgeneros) e defende homofóbicos sob o pretexto de salvaguardar a liberdade de expressão. Ataca a política de cotas baseado na idéia que propaga de que não existe racismo no Brasil. Além disso, ações afirmativas seriam “privilégios” que não condizem com uma sociedade em que há “oportunidades iguais para todos”. Defende as posições da Igreja Católica contra a legalização do aborto e ignora as denúncias de pedofilia entre o clero. Adora chamar socialistas de “anacrônicos” e os guerrilheiros que lutaram contra a ditadura de “terroristas”, mas apoia golpes de Estado “constitucionais”. Um torturado? “Apenas um idiota que se deixou apanhar.” Foge do debate de idéias como o diabo da cruz, optando por ridicularizar os adversários com apelidos tolos. Seu mote favorito é o combate à corrupção, mas os corruptos sempre estão do lado oposto ao seu. Prega o voto nulo para ocultar seu direitismo atávico. Em vez de se ocupar em escrever livros elogiando os próprios ídolos, prefere a fórmula dos guias que detonam os ídolos alheios –os de esquerda, claro. Sua principal característica é confundir inteligência com escrever e falar corretamente o português.

2. o comediante imbecil politicamente incorreto: sua visão de humor é a do bullying. Para ele não existe o humor físico de um Charles Chaplin ou Buster Keaton, ou o humor nonsense do Monty Python: o único humor possível é o que ri do próximo. Por “próximo”, leia-se pobres, negros, feios, gays, desdentados, gordos, deficientes mentais, tudo em nome da “liberdade de fazer rir.” Prega que não há limites para o humor, mas é uma falácia. O limite para este tipo de comediante é o bolso: só é admoestado pelos empregadores quando incomoda quem tem dinheiro e pode processá-los. Não é à toa que seus personagens sempre estão no ônibus ou no metrô, nunca num 4X4. Ri do office-boy e da doméstica, jamais do patrão. Iguala a classe política por baixo e não tem nenhum respeito pelas instituições: o Congresso? “Melhor seria atear fogo”. Diz-se defensor da democracia, mas adora repetir a “piada” de que sente saudades da ditadura. Sua principal característica é não ser engraçado.

3. o cidadão imbecil politicamente incorreto: não se sabe se é a causa ou o resultados dos dois anteriores, mas é, sem dúvida, o que dá mais tristeza entre os três. Sua visão de mundo pode ser resumida na frase “primeiro eu”. Não lhe importa a desigualdade social desde que ele esteja bem. O pobre para o cidadão imbecil é, antes de tudo, um incompetente. Portanto, que mal haveria em rir dele? Com a mulher e o negro é a mesma coisa: quem ganha menos é porque não fez por merecer. Gordos e feios, então, era melhor que nem existissem. Hahaha. Considera normal contar piadas racistas, principalmente diante de “amigos” negros, e fazer gozação com os subordinados, porque, afinal, é tudo brincadeira. É radicalmente contra o bolsa-família porque estimula uma “preguiça” que, segundo ele, todo pobre (sobretudo se for nordestino) possui correndo em seu sangue. Também é contrário a qualquer tipo de ação afirmativa: se a pessoa não conseguiu chegar lá, problema dela, não é ele que tem de “pagar o prejuízo”. Sua principal característica é não possuir ideias além das que propagam os “pensadores” e os comediantes imbecis politicamente incorretos.


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(17) comentários Escrever comentário

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Guaracy Araujo em 28/03/2013 - 21h07 comentou:

Cynara, este foi um texto infeliz antes, e continua sendo agora. Estupidificar o outro é uma estratégia inadequada e inaceitável. E te digo isso como um admirador dos teus artigos.

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    Flávio Alimandro em 29/03/2013 - 03h33 comentou:

    Concordo em gênero numero e gral

    Lais em 29/03/2013 - 18h08 comentou:

    Desculpe, mas não concordo. O texto além de bem escrito, tem o mérito de responder aos direitistas enrustidos, ou não, em seus próprios termos, que são os únicos que eles entendem ( pouco). Não se trata de estupidificar o outro, trata-se de sair das cordas em que a esquerda se colocou nos últimos trinta e poucos anos. A tática de suposta superioridade intelectual da esquerda está dando nisto que vemos todo dia, nas televisões, nos jornalões e nas revistas semanais de consultório de dentista : o achincalhe diuturno de qualquer ideia ou forma de governo progressista, não só no Brasil, como em qualquer parte do mundo. Pra terminar, mal comparando, me lembra a situação que circulou fartamente na Internet, do menino australiano que um dia cansou de ser assediado pelo valentão da turma e deu-lhe uma surra, deixando-o de cabeça para baixo dentro de um latão de lixo… O incentivo à violência não cabe, mas infelizmente tem gente que só aprende provando do próprio remédio…E eu acho que estamos precisando reagir, parar de rir amarelo e deixar os ignorantes tomarem conta da nossa vida.

Almir Ferreira em 28/03/2013 - 21h53 comentou:

Excelente texto, ainda não tinha lido.
Infelizmente nosso país está cheio de gente assim, e agora com um elemento ideológico relativamente novo para reforçar o arsenal dos idiotas: o fundamentalismo moralista neopentecostal.
Textos assim são importantes para combater essa nova onda de obscurantismo que ronda o Brasil. Parabéns.

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Marco em 28/03/2013 - 22h53 comentou:

Eles também gostam da mássima: "Ema, Ema, Ema, cada um com seus problemas"

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Mára em 29/03/2013 - 02h46 comentou:

Tem o cidadão politicamente imbecil que se acha muito politicamente esclarecido e taxa todo mundo que pensa diferente de politicamente alienado. Claro que devemos respeitar as pessoas como seres humanos mas ver políticosconduzidos ou reconduzidos ou novamente duzidos a cargos em comissões é dose até pra quem é politicamente político politizado. A esquerda não aceitaria isso se os políticos fossem doutro partido político politicamente de direita por exemplo.

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Flávio Alimandro em 29/03/2013 - 03h32 comentou:

Com certeza um dos textos mais imbecis que já li na minha vidas.

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José Carlos Peliano em 29/03/2013 - 15h41 comentou:

Excelente texto, sempre atual. Permiti-me reproduzi-lo em http://www.blogglostora.com.br. Parabéns.

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Fábio em 29/03/2013 - 21h34 comentou:

De idiota o Malfaia e sua quadrilha só tem a fala, suas ações ludibriam e induzem, esperamos mudar isso com uma forte e contundente revolução!!

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Marcia em 30/03/2013 - 21h45 comentou:

Perfeito seu texto. Gosto das suas reflexões.

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LeoContesini em 01/04/2013 - 23h40 comentou:

O estereótipo descrito no texto não é politicamente incorreto, é apenas imbecil.

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Darlene em 01/05/2013 - 19h56 comentou:

Por acaso vc respeita Maluf? Por favor, n me venha dizer que sim. Alias, respeito eh uma coisa que passa longe em tudo o que foi dito no texto. Queria ver se vc eh capaz de fazer o mesmo tipo de critica em relacao as pessoas de esquerda, rotulando-as em grupos e tecendo muitos comentarios preconceituosos. N aguento mais este papo de que gente de direita eh lobo mau. Tadinho do Genoino! Ele merece respeito como ser humano. Rafinha Bastos tb. Joaquim Barbosa tb.

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Talita em 28/12/2013 - 14h24 comentou:

A figura mais esquisita pra mim, é a do "comediante imbecil politicamente incorreto", apesar de saber que esses três grupos são grandes aliados. Por isso é que diferente de todos os outros dias do ano, hoje, ele tem minha atenção.

Alguns "humoristas" de gosto duvidoso insistem em protestar contra o politicamente incorreto em nome de uma suposta liberdade de expressão.

Essa reação, que se diz libertária, na verdade é contra a perda de liberdade que grupos historicamente dominantes gradativamente estão perdendo. As minorias(gays, negros, mulheres e etc.), estão se organizando e levantando a voz contra a opressão de seus algozes.

Revolucionário seria ouvir mias piadas satirizando o lado de lá: homens, heterossexuais, brancos, ricos, católicos.

Apesar de acreditar que deva existir limites para o humor, não acredito que isso deva ser feito através de censura, como pensam alguns. Vivemos em um Estado democrático. Basta não curtir ou compartilhar a piada. Não seguir o perfil do palhaço decadente nas redes sociais.

Nada mais constrangedor para um humorista do que ser considerado um palhaço SEM GRAÇA e SEM PUBLICO.

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jaspion em 05/02/2014 - 14h10 comentou:

Cynara não aceita o fato de que em uma democracia livre é legítimo a existência de concepções opostas sobre qualquer assunto. Sendo assim o politicamente incorreto é a prova de que finalmente a oposição existe e que conseguimos ver que a liberdade de expressão estava acabando e agora retornou.

mas Cynara quer que todos mundo seja PC e que não haja oposição nenhuma. Como todo socialista, Cynara é tbm uma ditadora.

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Eduardo em 27/02/2014 - 21h23 comentou:

Texto mais cheio de preconceitos dos que os que a autora elenca.
Ficam só duas perguntas:

1. Onde o socialismo deu (ou dá) certo?

2. Quantos morreram na ditadura brasileira e quantos, pra ficar num só exemplo, morreram no paraíso de Cuba (nem precisa incluir os que tentam fugir nadando)?

Aguardo texto inteligentinho e sagaz sobre a deserção dos médicos-escravos importados de Cuba – um deles que fugiu para o imperio "duzamericanu"? Bom de fato deve ser aquela ilha… que tal se mudar pra lá, Morena, e denunciar num blog o que vir de pouco humanitário. Isso seria coragem!!! Desafio-a!

Atte
Eduardo

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Leandro Verissimo em 01/03/2014 - 13h21 comentou:

Jose Genoino não merece respeito de ninguem, quem defende corruptos ou é tão corrupto quanto ele ou tem deficiência intelectual.

Responder

Miguel Jorge em 01/03/2014 - 13h58 comentou:

Amiga, vai estudar, a crise de 2008 foi criada justamente por intervencionismo de mercado, principalmente pelo bancos centrais (leia "Como ocorreu a crise financeira americana" de Leandro Roque), com a doutrina de um ídolo dos esquerdistas "pragmáticos", John Maynard Keynes, a ideia do estado como promotor do crescimento, criação de moeda do nada, populismo, etc. A crise de 2008 ajudou a acelerar o que era inevitável, queda do querido Estado do bem Estar Social, principalmente o europeu, vai ler sobre a Espanha, Grécia, Portugal. Quanto ao chororô sobre as "minorias", aí é caso de psicologia, chantagem emocional, coisa pro Luciano Ayan. Os demais argumentos são risíveis, tem comediante que faz humor com várias classes, tipos, mas são acusados de elitistas, machistas, aquele chororô esquerdista de sempre, certamente você não assistiu Vida de Brian onde, por exemplo, tecem enormes elogios aos romanos (tem povo mais elitista, militarista, imperialista que os romanos?), Monty Pyton é cheio de piadas com minorias, nem isso você estudou.

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