Socialista Morena
Feminismo

O homem que carrega a bolsa da mulher, o elo perdido do patriarcado

Devo confessar que o conceito de patriarcado me traz algumas incertezas. Não que eu duvide do machismo ou do poderio do masculino na sociedade, razão de submissão para muitas mulheres ou de situações inexplicáveis como as disparidades salariais entre os gêneros, mesmo ocupando postos de trabalho idênticos. Me refiro às relações interpessoais. Dentro das famílias […]

Ilustra do Cris Vector
Cynara Menezes
21 de abril de 2015, 16h04

Devo confessar que o conceito de patriarcado me traz algumas incertezas. Não que eu duvide do machismo ou do poderio do masculino na sociedade, razão de submissão para muitas mulheres ou de situações inexplicáveis como as disparidades salariais entre os gêneros, mesmo ocupando postos de trabalho idênticos. Me refiro às relações interpessoais. Dentro das famílias heteronormativas (pai, mãe, filhos), a mulher “manda” muito mais do que o homem percebe ou do que ela própria consegue enxergar.

Pense na sua própria casa: por mais “submissa” que sua mãe ou sua avó aparentem, de quem é a última palavra? Na Espanha, um dos países mais machistas do mundo, todo mundo sabe que funciona ali, por mais contraditório que pareça, um matriarcado. A mulher manda em tudo. Também no megamachista mundo árabe, se a mulher é oprimida fora de casa, dentro dela é enorme a sua força. No Brasil, segundo o IBGE, as mulheres são as chefes da família em 38,7% dos domicílios. Que patriarcado pode existir numa família assim?

Talvez o patriarcado seja tão dominante na sociedade como um todo que a gente deixou de prestar a devida atenção às sutilezas do poderio feminino no seio familiar e nas relações amorosas. Tomemos como exemplo um personagem que me parece emblemático: o homem que carrega a bolsa da mulher. Ele não é uma raridade, pelo contrário. Está cada dia mais presente. Olhe ao lado no cinema, nos restaurantes, nos shows. Lá está o homem que carrega a bolsa da mulher, acanhado, diminuto, à espera da amada que conversa ou se despede dos amigos. Onde exatamente se encaixa essa figura no patriarcado?

– É um homem submisso? Mas se todos os homens têm machismo em si, como muitas feministas acreditam, onde se situa o submisso?

– É um cavalheiro e portanto um machista benevolente, porque está transmitindo a mensagem de que a mulher é incapaz até mesmo de carregar a própria bolsa?

– É o homem ideal, porque, além de não reclamar de nos acompanhar ao shopping vai carregar nossas sacolas e ainda a bolsa?

– É um cara amoroso? (Em Singapura, carregar a bolsa da mulher é considerado uma prova de amor.)

– É um banana?

O homem que carrega a bolsa da mulher é o elo perdido do patriarcado. Sua existência me provoca sentimentos contraditórios. Toda vez que vejo um homem carregando a bolsa da mulher/namorada, primeiro me comovo com a capacidade dele de amar tanto ao ponto de sacrificar o velho conceito de masculinidade segurando um objeto cheio de enfeites dourados, cor-de-rosa ou com um chaveiro do ursinho Puff pendurado no zíper. Mas logo torço o nariz e acho meio mico um homem se sujeitar a um negócio desses. Em seguida repenso e vejo que é machismo da minha parte: por que um homem não pode carregar a bolsa da mulher amada? E aí mais uma vez o pensamento retorce e decreto mentalmente que a mulher é folgada e o cara é mané.

Acho que a parte que mais me incomoda nessa história de o homem carregar a bolsa da mulher é que, geralmente, ela inclui a imagem da mulher que vai abrindo caminho, andando na frente toda poderosa, enquanto o homem vai atrás segurando a tal bolsa, como um carneirinho. Tanto a ideia de eu andar na frente de um homem quanto a de ele andar atrás de mim (ainda mais segurando a minha bolsa) me são igualmente incômodas. Gosto da ideia de andar ao lado da pessoa que amo, não na frente e muito menos atrás. E carregando minha própria bolsa, claro. É uma concepção que serve tanto para as situações sociais como para a vida.

No fundo, o que me perturba na imagem do homem carregando a bolsa da mulher é que é uma imagem de dominação: dele por ela. Fica claro, para mim, que esta questão não se define por gênero, mas pela natureza do indivíduo que domina e do que é dominado. Relações de dominação me parecem detestáveis, tanto por parte do homem quanto por parte da mulher –a não ser como uma fantasia sexual, na privacidade da alcova, onde tudo vale. Mas se lutamos por igualdade de gênero, por que passaríamos a fazer o mesmo que eles e passar a tratá-los de maneira servil?

Se você gosta que carreguem sua bolsa, beleza. Se você gosta de carregar a bolsa de sua mulher, não tenho nada a ver com isso. Se você acha que é só uma gentileza, ok. Para mim é uma cena significativa de um modo de pensar unilateral, que deixa de observar nuances de algo muito mais complexo. Se, por um lado, a noção de uma sociedade dominada pelo patriarcado denuncia as disparidades, as desigualdades e o machismo, por outro também subestima, de certa forma, a força da mulher.

(Veja mais ilustras do excelente Cris Vector aqui.)

 


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(12) comentários Escrever comentário

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Um nome não define uma ideia em 10/01/2019 - 03h53 comentou:

Coisa mais preconceituosa que li hj foi esse texto! Não parou pra pensar que pode ser que o homem em questão e a mulher tbm em questão podem estar dividindo a bolsa por estar pesada, talvez lá dentro tenha pertences dos dois (como é o meu caso quando saio com meu namorado carteiras, celulares, balas, fones de ouvidos, chaves do carro meus e dele vão todos para dentro de uma única bolsa, podendo ser a minha ou ser a dele tbm.) É sinal de diminuição do homem ou da mulher se o peso é revezado durante o passeio? Não seria igualdade e cumplicidade o sentido mais correto a ser declarado aqui? Preconceito não seria julgar um homem como pequeno ou inferior ou ainda um “Zé mané” por estar ajudando sua companheira a levar os seus próprios pertences? E pior julgar pelo fato de ser uma bolsa “feminina”.. Afinal que vergonha existe para uma mulher andar segurando uma bolsa considerada anteriormente pela moda como “masculina” (como uma pasta social, mochila ou pasta tiracolo)? Nenhuma não é mesmo? Então porque para um homem deveria ser vergonhoso usando o mesmo princípio?.. Talvez o pior problema seja as próprias pessoas que se dizem defender os direitos das mulheres pararem com esse tipo de feminismo burro e pensarem mais em igualdade entre os gêneros e começar fazer menos problematização com esse assunto.

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Gabriela De Paula Silva em 19/08/2019 - 15h13 comentou:

Affe, que comentário mais ridículo! Melhor apagar todo esse lixo que escreveu…

O cara por ajudar a namorada é mané, e ela por deixar ser ajudada é abusadora?

Sinceramente, você deve ter conhecido uns homens muito bostas que deturparam sua cabeça….

Tratamento já!

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Ray em 23/10/2019 - 13h45 comentou:

Não precisam ter tanta raiva ao ouvir que homem também pode ser submisso, e a mulher a controladora. Existem casos e casos, e tudo realmente pode não passar de preconceito ao ver um casal andando na rua, cujo o cara é quem tá com a bolsa da mulher. Mas existem casos muito explícitos que basta uma olhada, pra sacar boa parte do relacionamento de certas pessoas. O corpo fala, as ações mais ainda; tem um casal na minha faculdade, em que o cara além de levar a própria bolsa, leva a da namorada. Sempre. Ela quem conduz ele, ele só fala com os amigos dela, só conversa em grupo quando ela tá presente. Se ela chega enquanto ele tá falando com sozinho alguém, ele se despede e sai. É mais do que claro que há uma dominação dele por ela, e pude observar tudo isso, quando achei estranho o fato dele sempre carregar a bolsa dela. Nenhuma espécie de dominação me parece saudável, mas cada um com seus pepinos, e sempre deve ser levado em consideração a margem de erro quando se analisa o comportamento humano. Ademais, gostei do texto, achei surpreendentemente reflexivo.

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Marie em 06/06/2021 - 20h49 comentou:

Texto ruim e demasiado incoerente.

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Tania em 28/08/2021 - 23h00 comentou:

Texto muito interessante que nos provoca uma reflexão sobre a questão do equilíbrio e parceria que deveria haver em toda relação, que busca a igualdade. Concordo com a percepção de domínio do homem sobre a mulher, leitura que faço através da posse de sua bolsa. De modo inconsciente é uma limitação que segura a mulher que não irá muito longe, sem seus documentos e pertences. Gostei!

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Francisca em 22/10/2021 - 20h16 comentou:

Você deve achar legal um homem gritar e bater em uma mulher todos os dias!
É uma gentileza sim!!
Pois talvez essa mulher domine ele lavando as suas roupas?!?
E pelo jeito você nunca deve ter tido um homem que se ofereceu para segurar a sua bolsa.
E a mulher é muito forte sim com essa situação, pois a escolha é dela entregar a bolsa ao seu gentil homem……

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Lusia Helena em 26/01/2022 - 07h55 comentou:

Esse texto é pura dispeita,coisa mesmo de uma pessoa muito complexada que nunca na vida teve alguém pra ser gentil carregando sua bolsa. Meu marido carrega a minha,acho super chique,um ato de cavalheirismo muito grande e desmontamos confiança.

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Hooi Clark em 06/02/2022 - 11h26 comentou:

O negócio de homem carregar a bolsa da mulher dele, seja namorada ou esposa, muitas vezes é um fetiche de uma relação, onde a mulher chefia o marido com o consentimento dele.
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Esse negócio de inventar regras da sociedade, para dizer como o casal deve construir a estrutura da realidade dele é uma aberração contrária à própria natureza saudável da formação de qualquer povo; porque o casal é que é a base da “Sociedade” e não a “Sociedade” que gera o casal. Logo, o que o casal decidir que seja, então é isso que é bom e é isso em que consiste o bem. E todos os moralistas devem se calar.
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E se para um homem o melhor sexo que existe é o que só uma fêmea Alfa pode dar, e toda fêmea Alfa sabe disso, e por isso, ela só aceita homem que lhe obedeça, então se esse casal decidir que a mulher manda ao seu homem obedecê-la, e ele a obedece com vontade de ele ser mandado por ela, para que a existência da soberania de sua esposa dentro de casa seja uma realidade, e que quem faz essa soberania existir é o marido, pela sua submissão voluntária ao governo da mulher sobre a vida dele e sobre a casa; então o que os moralistas vão dizer? que as regras da “Sociedade” devem ser o que a raça mais imoral que já existiu disser? isso é, os marxistas.
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Ora, se num casal governado somente pela mulher, a mulher manda seu homem carregar a sua bolsa e ele a carrega, porque a sua mulher mandou a ele obedecê-la, e ele a obedece, para que ela seja quem manda, então ela fez a parte dela nesse fetiche dos dois, que é a mulher obrigar seu marido a andar sob a direção das mãos da esposa, onde essa fêmea Alfa está mostrando o interesse, que ela tem por ele, quando ela se interessa em obrigar seu marido a obedecê-la, e ele só está fazendo a dele, que é respeitar submisso à sua esposa como quem o obriga a andar sob a direção das mãos dela.
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E há o caso simétrico, onde é a fêmea também gosta de ser rediada pelo macho dela. E quando, logo na primeira intimidade que um macho tem com uma fêmea assim, e lhe diz brincando: __ me respeita, porque senão eu vou te pegar pelos cabelos, e te levar arrastada para dentro de minha caverna; então, surpreendentemente de modo inusitado para ele, o que ele escuta dessa fêmea tarada como resposta é ela dizer-lhe: _ então, por quê? você não faz isso?
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Também há casal, que o o sexo pode até ser melhor que esses fetiches, mas o principal e que realmente importa para eles é a família, é um prazer eterno. Aí não interessa se o homem carrega a bolsa da esposa, ou se a esposa é submissa ao marido. Eles estão no Céu e o resto do povo na Terra. Então, os demônios não se metam a bancar o senso moral da “Sociedade”, para atacar a soberania de um casal assim. O que se pode dizer deles está escrito no Novo Testamento da Bíblia. Somente as palavras divinas podem penetrar dentro de uma casa com espíritos magníficos assim. Mas os demônios, porque eles acham que o resto de todos os seres são iguais a eles, deturpam as palavras sagradas, para eles mesmos se pôrem na posição ridícula de mostrarem aos prudentes a revelação das trevas aberrantes que os movem ocultas dentro de seus corações podre cheios só de morte e amor à maldade, como são os corações diabólicos dos marxistas.
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Sayonara em 22/01/2023 - 15h08 comentou:

Eu carrego a minha própria bolsa,não
Aceito que homem nenhum pegue,lá está os meus pertences,minhas coisas pessoal,a feminilidade da mulher com,seus acessórios ,e outra o machismo pode está bem perto de um homem desse,que quer mandar até na bolsa da mulher,pq se ela quiser algo da bolsa,ela tem que pedir a ele.

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Raiane em 03/05/2023 - 11h06 comentou:

Acho texto não muito bom porque o meu namorado carrega minha bolsa assim mas eu não ando na frente dele abrindo caminho como ele disse ai que as tem mulher quer faz isso mais se tem mulher que faz isso já não é meu caso eu não sou essa mulher que se sentindo a tal eu ando lado dele de Mãos dada e acho que não tem problema algum o parceiro carregar a bolsa da parceira não tem problema algum isso não vai interferir em nada dele ele vai continuar sendo homem mais a pena vai segurar a bolsa da namorada ou mulher só isso mais ele vai continua sendo Homen , uma coisa não tem nada a ver com a outra não……

Responder

Beatriz em 21/11/2023 - 09h42 comentou:

Meu marido carrega minha bolsa, que tem as minhas coisas e as coisas dele.
Quando meu ombro está doendo do peso eu dou a bolsa pra ele e pronto. É só isso, cansaço de pegar peso muito tempo.
Que ideia

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Fernando em 16/12/2023 - 14h56 comentou:

Em qqrer shopping vejo a cena e tenho certeza q significa: até na bolsa dela eu mando, aliás fui eu quem comprei, etc. toda mulher sabe o q a bolsa dela significa e só ela deve ter o poder de carregar sozinha sua individualidade…. Imaginem a mulher carregando a carteira do homem…como vcs interpretariam?????

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