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10 perguntas que você sempre quis fazer sobre o socialismo (mas deveria ter vergonha de perguntar)

Para tentar aplacar a ignorância sobre a ideologia que qualquer pessoa preocupada com a igualdade entre os seres humanos consegue entender –e amar

Pôster do artista húngaro Sándor Pinczehelyi, 1973
Cynara Menezes
27 de abril de 2015, 18h35

Dada a imensa ignorância e falta de leitura sobre o socialismo que grassa nas redes sociais, resolvi fazer um rápido P & R (pergunta e resposta) sobre a ideologia que qualquer pessoa minimamente preocupada com a igualdade entre os seres humanos consegue entender –e amar. (Todos os itens em destaque são clicáveis.)

1. Para ser socialista é preciso gostar do Taiguara ou da Mercedes Sosa?

No socialismo que sonhamos, o democrático, não tem essa de música obrigatória ou música proibida. Pode ouvir Chico Buarque, Taiguara ou Lobão, até porque somos contra a censura (ao contrário do que ocorria aqui na ditadura militar, o regime capitalista que a direita adora defender). Acreditamos no livre-arbítrio e na liberdade cognitiva e, por isso, muitos de nós também somos a favor da descriminalização de todas as drogas.

2. Se o socialismo vencer, terei que abrir mão do meu iPhone?

É o oposto: em um socialismo ideal, todas as pessoas teriam iPhone, não apenas as ricas. O socialismo, porém, prevê educar as pessoas para entender que o consumismo é ruim para o planeta e que é perfeitamente possível viver sem possuir tantas coisas. Pessoalmente, não tenho um iPhone ou smartphone e não sinto a menor falta. Mas me parece um comportamento totalitário exigir dos outros que pensem igual a mim.

3. Com o socialismo, o Brasil ficaria igual a Cuba, Coreia do Norte ou Venezuela?

Basta raciocinar um pouco para chegar à conclusão que é impossível um país ficar igual ao outro. Cada país tem sua história, suas características, seu povo. Dizer que o Brasil ficaria igual à Venezuela com o socialismo é o mesmo que dizer que os Estados Unidos são iguais ao Iraque, ao Japão ou à Indonésia, que também são países capitalistas. Quanto à Coreia do Norte, ninguém sabe exatamente que regime é aquele. Socialista é que não é.

4. O socialismo significa fim da democracia, como na União Soviética?

Experiências socialistas fracassadas não são sinônimos de socialismo. O socialismo é uma ideia, não um governo. A experiência socialista no Chile, por exemplo, foi bem diferente da cubana e da russa, primeiro porque não houve revolução; o socialista Salvador Allende chegou ao poder pelo voto. Existiam jornais e liberdade de imprensa –tanto é que foram eles que derrubaram Allende, com o apoio dos Estados Unidos. A sangrenta ditadura militar que veio a seguir, capitalista, fechou todos os jornais contrários ao regime, instaurou a censura, torturou e matou opositores. É preciso que se diga que, diferentemente dos capitalistas, os socialistas possuem autocrítica e aprendem com os erros do passado.

5. Com o socialismo haverá o fim da propriedade privada?

Muitos socialistas atuais, como eu, não acreditam em modelos implantados à força, como aconteceu no Camboja ou na China. Na verdade, mesmo na China (que só é chamada de “comunista” quando se fala de atentados aos direitos humanos) existe propriedade privada. No meu ponto de vista (explicitado aqui), o socialismo é, principalmente, uma maneira de tornar o capitalismo menos cruel e um caminho para uma sociedade menos desigual. Tanto é que, antes de o socialismo aparecer, as pessoas trabalhavam até 18 horas por dia, inclusive mulheres e crianças. Não havia férias nem jornada de oito horas e por isso muitos morriam antes dos 40 anos de idade.

6. O socialismo defende a intervenção do Estado na economia?

Sim. Achamos que deixar a economia nas mãos do mercado favorece as desigualdades, como, aliás, está ocorrendo atualmente entre os países mais desenvolvidos no mundo, onde o fosso social cresce cada vez mais –ao contrário dos países criticados como “bolivarianos” da América do Sul, onde a pobreza e a desigualdade diminuíram. O curioso é que os defensores do livre mercado e do “Estado mínimo” aceitam de forma bovina quando os bancos são socorridos pelo Estado com bilhões nos momentos de crise.

7. Com o socialismo os homens seriam massacrados pelas feministas?

O socialismo defende que homens e mulheres possuem direitos iguais. Ou seja, nenhum dos sexos está acima do outro. Atualmente, os homens ganham mais do que as mulheres ainda que ocupem o mesmo posto de trabalho e detêm a maioria dos cargos de mando. O socialismo não aceita essa disparidade.

8. A descriminalização do aborto é uma ideia socialista?

Os primeiros socialistas sempre defenderam o direito da mulher ao aborto como uma prática de saúde pública e como um direito feminino a decidir sobre o próprio corpo. No entanto, o aborto também é legalizado em países capitalistas como os Estados Unidos ou a Espanha. Na Venezuela o aborto é proibido e em Cuba, não. A legalização do aborto parece estar mais relacionada à maturidade de uma determinada sociedade do que à ideologia.

9. Todo mundo será obrigado a ser homossexual no socialismo?

Ao contrário: todo mundo poderá ser o que quiser, inclusive homossexual, sem ser xingado, ameaçado ou espancado por isso. Cuba, que os reaças adoram citar, já perseguiu homossexuais no passado, mas hoje a filha do presidente Raul Castro, Mariela, é uma das maiores personalidades mundiais em defesa dos direitos LGBTs. A cirurgia de mudança de sexo, por exemplo, pode ser feita gratuitamente na rede pública cubana.

10. Se o socialismo fracassou na União Soviética, por que seguir uma ideologia assim?

Porque enquanto houver miséria e desigualdades no mundo sempre haverá um socialista para criticar o sistema e sonhar com outro mundo possível, onde todos tenham o que comer, o que vestir e oportunidades verdadeiramente iguais. Quando vemos uma criança pedindo esmola, não fechamos o vidro do carro nem nos satisfazemos em dar uma moedinha para ela: não queremos caridade, queremos que o sistema melhore. Abra o olho: não existem capitalistas críticos do capitalismo. Quem aponta as crueldades do sistema somos nós, os socialistas. Na verdade, em vez de nos xingar, muitos deveriam nos agradecer por existir.

 


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Marina Eugênia em 16/11/2017 - 03h36 comentou:

Ponto importante: não estou aqui para uma discussão e sim um debate civilizado se estiver disposta a refutar os meus argumentos, estarei disposta a rever os meus quanto aos teus contra-argumentos.

1- Sei que foi dito pela senhora que o regime socialista que sonhas teria uma total liberdade de expressão. Tendo em mente que os últimos regimes que vimos sendo implantandos em países já citados como: Cuba, Venezuela, URSS entre outros (ditos por você como tentativas fracassadas do socialismo). O cidadão não possuía a tal liberdade de expressão.
Já que grande parte da população brasileira ainda tenha um pensamento contrário ao teu, essa maioria (ou futuramente uma minoria) iria ter a liberdade total de se expor contra o governo, o que, certezamenge geraria uma propaganda negativa ao governo, você não pensa que o mesmo com uma tentativa de conter os opositores, grevistas, ent. Começarião a impor, mesmo que gradativamente, a opinião do governo ? O que de certa maneira séria a falta de liberdade de expressão.

2- Creio eu que tu tenhas fugido um pouco da realidade quanto ao mercado mundial. Como empresa capitalista, dificilmente a apple venderia os seus “valiosos” iphones em um país que tenha um regime socialista, com exceção da China que possui as zonas de livre mercado (únicos lugares onde há propriedades privadas no país), e que da mesma forma são vendidos a preços absurdos para os chineses.

3- Certamente não podemos comparar Japão, Iraque e Estados Unidos. Os mesmos possuem diferenças culturais, linguísticas e políticas. Mesmo seguindo um modelo econômico parecido. Porém usar isso para contra argumentar o ponto de que o Brasil se igualaria a países como Cuba e Coreia do Norte é errado já que os três seguiriam uma ditadura, diferente dos países capitalistas citados.

4- Não entrarei no ponto ditadura ou regime, mas como “coxinha” não posso negar que houve mortes durante a mesma por parte da do governo, assim como tu não deves negar que em média 200 soldados, donas de casa, entre outros foram mortos pela intentona comunista (números registrados). Os crimes vieram das duas partes, não nego a minha como não deves negar o teu.
OBS: não, não estou falando que foi certo os atos dos militares, assim como os da intentona.

5- Ao meu ver usar a desiluda-se social pode ser algo errado, já países como Canadá, Inglaterra, Suíça e Japão são países capitalistas e estão entre os países com os maiores índices de desenvolvimento humano,e menor desigualdade.
Quanto a fome, existente nos países socialistas tbm, porque a partir do momento em que a economia do país cai a renda dos trabalhadores cai, a produção vai. É como um domino, terceira lei de Newton, toda ação tem uma reação. Caso queira debater com a mente aberta estarei disposta para ouvi-la, discordarmos uma da outra ou quem sabe, concordarmos.

Agradeço desde já, pela paciência compreensão e um futuro diálogo.

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    claudius em 26/02/2018 - 01h32 comentou:

    Maria eu gênia parabens pelo seu texto !!, incrivel sua postura ética e lógica argumentativa diante de tanto disparate que esta colunista tenta emplacar , mas achoq que a sra nao terá a replica , é comum ver pessoas fugiram assim para defender iseias de marx, infelizmente.

Pedro em 01/09/2018 - 23h34 comentou:

O capitalismo nasceu como resultado do desenvolvimento do feudalismo. Todo modo de produção novo nasce da impossibilidade do velho continuar existindo. A gente pode não gostar, por várias razões, do desenvolvimento histórico. Mas a história não está nem aí para o gostar ou não gostar de quem quer que seja. Chegado a um certo grau do seu desenvolvimento, este de agora, o que o próprio capitalismo criou não cabe mais dentro dele. Para que o pé de um adulto caiba numa meia de uma criança, só com muita violência. Que tal uma outra meia? Para entender tudo isso, não de meias, mas de desenvolvimento histórico é preciso ler, goste ou não goste, sobretudo Marx.

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Alan em 19/10/2018 - 12h48 comentou:

Na teoria é um lindo conto de fadas, Mais na prática não funciona, e ponto.

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WISLã em 19/11/2018 - 16h20 comentou:

PARABÉNS

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Claudinei Aparecido Lima em 21/11/2018 - 01h17 comentou:

Para que haja igualdade, as pessoas teriam de ser iguais, o que certamente não são. Uns são trabalhadores, outros preguiçosos; uns são audaciosos, outros medrosos; uns são empreendedores, outros subservientes; os que são líderes natos, outros que são submissos; os que conseguem vislumbrar oportunidades de enriquecer, outros que são acomodados; uns mais inteligentes, outros menos. Estes fatores são a essência que impede que o socialismo prospere onde quer que seja implantado. Não se pode querer que todos sejam iguais : ricos, prósperos, bem sucedidos, pois são características que uns têm e outros não. É aí que o capitalismo faz a diferença, pois não se pode criar igualdades com uma sociedade heterogênea onde uns são mais capazes e outros menos. Não seria justo para os mais capazes, não é mesmo ? O capitalismo premia os mais capazes em detrimento dos menos dotados, simples assim.

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Nathan Siervuli em 13/04/2019 - 23h46 comentou:

Vamos a alguns pontos:

1. Liberdade, a partir do momento que o Estado decide seus empregos, todos tem que ganhar quase o mesmo mesmo que alguns sejam melhores que outros naquilo, mesmo que alguns deem mais duro que outros, a partir do momento que pra ser implantado um socialismo é preciso de poder militar pra assegurá-lo e controlar a socialização dos meios de produção, então é uma espécie de DITADURA.
Você não tem liberdade dentro de um socialismo.

2. Liberdade de expressão: O estado seria em tese dono da imprensa ou ao menos teria poder suficiente pra regular tudo, então ele poderia fazer o que quiser e ser acobertado pela mesma, como por exemplo censurar opositores.

3. O cálculo econômico racional é impossível sob o socialismo, o que foi bem detalhado por Mises.

4. No socialismo não teria iPhone, o método de produção capitalista dele, utilizando fábricas de vários países com mão de obra barata, linhas de produção, etc… Faria que algo como um iPhone fosse difícil de se pensar.

5. O socialismo diminuiu a desigualdade e melhorou condições de trabalho?
Não foi Ford que disse que os trabalhadores podiam ser consumidores, então seria viável pagar mais pra eles. Não foram empresários e teóricos que disseram que um trabalhador de um escritório trabalha mais se for mais feliz?
Também não foram os empresários capitalistas que viram que uma mulher pode produzir tanto quanto um homem e não tinha sentido diminuí-la.

6. As mulheres ganham menos dentro de uma profissão?
Sim, são dados. Porém isso quer dizer que é pelo machismo? Creio que não.
Pense dentro da profissão médico, as mulheres tendem a escolher mais clínica geral e algumas outras áreas, por tendências femininas e pela especialidade delas, homens tendem a escolher outras. Acontece de as áreas que a maioria dos homens escolhem serem mais bem remuneradas do que as femininas.
Tem exceção, como no Japão onde praticamente todo emprego as mulheres ganham menos fazendo a mesma função, mas é algo cultural e não pelo capitalismo em si.

7. No neo-liberalismo como implantado por Margaret Thatcher aumentou sim a desigualdade, porém aconteceu de os ricos ficarem mais ricos, e os pobres ficarem menos pobres, o cenário anterior era melhor? Onde os pobres tinham um padrão de vida menor?

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André Thiago de Oliveira Pires em 23/05/2019 - 16h08 comentou:

Nem os pensadores russos consideram que a URSS foi socialista, essas coisas brotam da mente pequeno burguesa brasileira e da esquerda confusa. A discussão acima caminhou as margens dos fatos históricos ocorridos na URSS e negou por completo o significado da Revolução de 1917. Quem se acha liberal apenas repetiu o The New York Times e Von Mises; quem é simpatizante do socialismo ficou no toma lá da cá.

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Leandro Rabelo em 22/07/2019 - 11h45 comentou:

Se o socialismo é uma ideologia social tão linda, que defende os pobres e oprimidos. Então me responda, por que em todas as nações que foram implantadas políticas socialistas, direitos fundamentais como liberdade de expressão, liberdade religiosa, liberdade econômica e, principalmente, à vida e propriedade privada, foram desrespeitados?

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Ademar Amâncio em 08/03/2022 - 16h35 comentou:

Gostei das questões e das respostas.

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Márcio José Remour em 08/04/2022 - 14h26 comentou:

Para o Claudinei Aparecido, que acima encerra seu comentário falando que o capitalismo beneficia os mais capazes. Claudinei observe como em nosso país capitalista somos governados pelos mais capazes, começando pelo atual presidente. Lembra que a pouco tempo o ministro da saúde empossado por jair messias sequer tinha ouvido falar de um órgão chamado SUS? Ora meu dileto pensador profundo seria você um mais capaz? premiado pelo capitalismo? Veja, Nem quero falar de um sistema que abjura os fracos. Pessoas que não nascem agressivas ou têm conformações psíquicas ou mentais diferentes da maioria. Não sei se você alguma vez folheou algum texto de qquer pensador minimamente ético para embasar tuas opiniões. Se você o fez, por favor me cite o nome para mim poder compreender em que lugar do mundo o capital beneficiou os mais capazes.

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Caronte em 18/04/2023 - 14h38 comentou:

Bem, não vale a pena o debate…

Tá se vendo que a autora não tem a menor ideia do que seja socialismo, do que seja um modo de produção e suas relações sociais e históricas que o reificam e que, dialeticamente, são modificadas por este modo de produção.

Vamos a outra dica:

Ellen Meiksins Woods, Democracia contra capitalismo.

É leitura um pouco árida, que requer outras leituras marxistas como requisitos, mas ajuda a fugir desta superficialidade vergonhosa apresentada no texto aí em cima, e claro, nas horrorosas repercussões em forma de comentários…

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Caronte em 18/04/2023 - 14h45 comentou:

estou rolando de rir com os prolixos comentários de Maria Eugênia e do outro abilolado Nathan Siervuli…

Tá vendo jornalista, este tipo de texto seu só alimenta estes beócios…os outros, pelo menos, foram mais econômicos nas sandices…

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