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A surreal história de um “JD” que serviu para atingir dois petistas ao mesmo tempo

Em fevereiro deste ano, os principais jornais do país noticiaram que José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, teria recebido 48 milhões de reais da Odebrecht entre 2009 e 2010. A fonte da informação eram os investigadores da Polícia Federal na operação Lava-Jato, que afirmavam corresponder a Dirceu a sigla JD, citada quatro […]

Cynara Menezes
29 de setembro de 2016, 21h06
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(Notícia no Jornal Nacional associando a sigla JD a José Dirceu, em fevereiro)

Em fevereiro deste ano, os principais jornais do país noticiaram que José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, teria recebido 48 milhões de reais da Odebrecht entre 2009 e 2010. A fonte da informação eram os investigadores da Polícia Federal na operação Lava-Jato, que afirmavam corresponder a Dirceu a sigla JD, citada quatro vezes na planilha da empreiteira abaixo dos anos de 2009 e 2010 e ao lado de valores que somavam R$ 48 milhões. A tese, então, era de que Dirceu teria recebido dinheiro da Odebrecht ilegalmente e repassado ao PT.

Esta semana, porém, a PF disse que “errou” e que a sigla JD não corresponderia a José Dirceu, mas a Juscelino Antonio Dourado, ex-chefe de gabinete de Antonio Palocci; ambos foram presos na segunda-feira 26. Trata-se de uma “correção” que vem a calhar, porque Palocci, segundo o próprio juiz Sergio Moro, foi preso sem provas. O ex-deputado e ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil é acusado de receber propina da Odebrecht, mas, como não foram encontradas provas, Palocci ficará preso para que elas apareçam, ou “enquanto não houver tal identificação”, nas palavras de Moro. Associá-lo ao JD da planilha é, portanto, uma mão na roda para a tese dos investigadores.

A tese agora é que Palocci, o “italiano”, recebia propina da Odebrecht (“via JD”?) para atuar pela empreiteira no governo federal e no Congresso Nacional. Tanto Palocci quanto Dourado e ainda Branislav Kontik, outro assessor do ex-ministro, se queixaram, por meio de seus advogados, que as prisões foram “arbitrárias” e “autoritárias”.

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Como o cidadão brasileiro pode acreditar neste imbróglio todo? Como saber se a mesma PF que se equivocou antes com a sigla JD está correta agora? Aliás, isso é investigação ou palpite? Fica difícil de acreditar na eficiência de uma polícia que confunde personagens sempre do mesmo partido, o PT, claro. Sem contar que a diferença da “notícia” envolvendo Dirceu e da “correção” feita pela PF é brutal: a acusação contra Dirceu saiu, por exemplo, com destaque no Jornal Nacional da Globo; a retificação foi feita en passant, no meio do noticiário.

Imaginem: uma mera sigla numa planilha foi usada para atingir dois petistas ao mesmo tempo. José Dirceu já está preso e condenado. Palocci está preso apenas temporariamente. Curioso é que, em relação a políticos de outros partidos, citados nominalmente na lista da Odebrecht, não é expedida nem uma mísera ordem de prisão. E nem precisa de chute, ops, investigação para saber de quem se tratam.

 


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