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Atletiba no Face: começou a revolução dos clubes contra o monopólio da Globo no futebol?

Por Eduardo Jenisch Barbosa* Conhecido como “o país do samba e futebol”, o Brasil assistiu ambos serem privatizados pela Rede Globo ao longo dos anos. A transmissão do desfile das escolas de samba é exclusivo da TV dos Marinho, que dita todas as normas, desde o horário de início até o tempo de duração do […]

Cynara Menezes
09 de março de 2017, 14h06
cap vs coxa 02

(Foto: Atlético Paranaense Oficial)

Por Eduardo Jenisch Barbosa*

Conhecido como “o país do samba e futebol”, o Brasil assistiu ambos serem privatizados pela Rede Globo ao longo dos anos. A transmissão do desfile das escolas de samba é exclusivo da TV dos Marinho, que dita todas as normas, desde o horário de início até o tempo de duração do desfile de cada escola. E não é exagero falar que a emissora do Plim-Plim é a dona do futebol brasileiro, mandando mais que a própria Confederação Brasileira de Futebol.

Uma das injustiças impostas pela Globo ao futebol brasileiro é o chamado sistema de cotas pagas aos clubes pelos direitos de transmissão. Esta temporada marca o segundo ano do atual triênio do contrato firmado pelos clubes do Campeonato Brasileiro com a Rede Globo de Televisão. Este vínculo que dura até 2018 causa apreensão nos amantes do futebol. Pelo menos é o caso de quem quer ver o futebol nacional sendo disputado de forma justa e competitiva. E justiça, definitivamente, não está incluída na divisão deste bolo.

Flamengo e Corinthians são os clubes que mais ganharão por ano, R$ 170 milhões, seguidos por São Paulo (R$ 110 milhões), Palmeiras e Vasco (R$ 100 milhões) e Santos (R$ 80 milhões). O grupo, que inclui os mineiros e gaúchos, além de Fluminense e Botafogo, receberá R$ 60 milhões, quantia maior que os integrantes da última faixa, que ficarão com R$ 35 milhões anuais cada.

Pensando na lógica da emissora detentora dos direitos de transmissão, a Globo, em tese, teria que tomar as decisões baseada sempre na valorização de seu produto, como fazem na Premiere League, NFL, NBA, para citar exemplos de esportes diferentes. Nestes casos, os campeonatos são pensados de forma global, focando sempre no fortalecimento dos participantes, que gera a elevação do nível de competitividade de todos, o que reflete no aumento da audiência.

O caminho correto seria pautar a divisão de cotas de maneira justa para que todos os clubes tivessem condições, se não iguais, parecidas, de montar equipes fortes. A política atual de divisão de cotas é um tiro no pé da própria competição. A tendência é que, com a valorização de poucos, o Campeonato Brasileiro vá perdendo a competitividade e veja sua disputa polarizada entre os três, quatro mais privilegiados. A médio e longo prazo, o campeonato vai ficar menos atrativo e a audiência cairá.

Ou seja, da forma que está organizado hoje, o futebol brasileiro segue as regras da nossa sociedade: existem os opressores e os oprimidos. Esta lógica perversa também atinge os Campeonatos Estaduais. Só que este ano, em um ato de muita coragem, Atlético Paranaense e Coritiba podem ter começado uma espécie de revolução contra a ditadura da Globo. Insatisfeitos com a cota oferecida por suas participações no Campeonato Paranaense, ambos decidiram não assinar contrato com a emissora. A oferta foi de apenas R$ 1 milhão para Atlético Paranaense e Coritiba, cada um.

A negociação do contrato ocorreu em janeiro deste ano. A Globo ofereceu um total de R$ 6 milhões pelo Campeonato Paranaense, sendo um terço para os dois grandes clubes. Quando Coritiba e Atlético-PR recusaram, a emissora fechou o restante do Paranaense com os outros dez times por R$ 4 milhões.

”Sei que o Carioca é um campeonato que vale mais do que o Paranaense. Mas, se você for ver, o valor é 1/20 em relação ao valor do Carioca, achamos extremamente injusto”, comentou o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético-PR, Mario Celso Petraglia, referindo-se ao valor de R$ 120 milhões pago pela Globo pelo Campeonato Carioca.

Após recusar a mixaria oferecida pela Globo, cujos donos aparecem entre os 10 maiores bilionários do país segundo a revista Forbes, os dois clubes decidiram transmitir o clássico Atletiba através do Youtube e das páginas dos clubes no Facebook. Quem precisa da televisão quando se tem as redes sociais?

Na primeira tentativa, em uma proibição arbitrária da Federação Paranaense de Futebol, amiga da Globo, que neste tipo de caso não suja as mãos e trabalha nos bastidores, o clássico foi impedido de ser transmitido como os clubes queriam. O episódio causou comoção nacional, e, na última quarta-feira, 1 de março, Atlético Paranaense e Coritiba se enfrentaram pelo Campeonato Brasileiro. E, pela primeira vez na história, a partida não passou na todo-poderosa Globo, mas sim no Youtube e nas páginas dos clubes no facebook.

Resultado: a audiência foi espetacular. Se somarmos os canais no Youtube de Atlético e Coritiba, bem como as visualizações em suas respectivas páginas no facebook, o clássico atingiu pelo menos 2,6 milhões de expectadores, uma marca expressiva e que mostra o potencial deste tipo de transmissão. Pode ter sido o começo de uma revolução. Mas para que este tipo de ação surta efeitos contundentes, é preciso haver união entre os clubes brasileiros.

“Essa iniciativa pioneira e ousada vai servir para o resto da vida e dos tempos. Atlético-PR e Coritiba unidos começaram um processo silencioso de dizer não. Temos o direito de dizer não. Fica um alerta para os demais presidentes. Sigam o nosso exemplo. Vamos dizer não. Temos que romper com esses monopólios”, afirmou Luiz Sallim Emed, presidente do Atlético Paranaense.

Os times brasileiros são gigantes e não precisam da CBF, das Federações e nem da Globo para sobreviver. O feito histórico protagonizado pelo Atlético Paranaense e pelo Coritiba mostra um pioneirismo que pode ser utilizado para quebrar o monopólio da Globo, bem como provocar melhorias no futebol brasileiro. Os clubes precisam ter noção do poder que possuem. Se conseguirem se unir, como era no Clube dos 13, aumentarão o poder de negociação diante do sistema cruel e injusto criado pela Globo. Qual o motivo que vocês acham que foi o principal para a Globo ter apoiado o fim do Clube dos 13?

Presidido por Fábio Koff na época, o Clube dos 13 estava inclinado a aceitar a proposta da Record pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro, o que representaria uma derrota histórica da Globo. Na época, os clubes negociavam em bloco, o que tornava mais justa a divisão das cotas de televisão e fazia com que a emissora golpista tivesse que abrir cada vez mais o bolso para conseguir as renovações de contrato, porque existia concorrência. Então a emissora começou a negociar individualmente com os clubes, provocando uma rebelião e o fim do Clube dos 13. Nada é por acaso no xadrez praticado pela Globo.

Se não conseguirem se unir, os clubes podem partir simplesmente para a rebeldia como fizeram os clubes do Paraná –o clássico disputado por Atlético Paranaense e Coritiba já provou que o modelo funciona e tem tudo a ver com os tempos que estamos vivendo de abandono da velha mídia, trocada pelas mídias digitais. Pode ser o começo do sonho de uma quebra do monopólio da Globo no que se refere ao futebol brasileiro. Quais serão os próximos clubes a desafiar a emissora dos Marinho?

 

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