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Deus tenha pena da América (e dos progressistas do mundo também)

Fujam para as montanhas! Ou melhor, para o Canadá: na iminência da vitória de Donald Trump durante a madrugada de quarta-feira, o site do Departamento de Imigração do progressista país vizinho caiu, tamanha a afluência de norte-americanos desesperados com a eleição de um candidato misógino, xenófobo, homofóbico e apoiado pela Ku Klux Klan. Contra o […]

Cynara Menezes
09 de novembro de 2016, 18h01
trumpdedo

(Trump ao vivo na TV durante a campanha presidencial)

Fujam para as montanhas! Ou melhor, para o Canadá: na iminência da vitória de Donald Trump durante a madrugada de quarta-feira, o site do Departamento de Imigração do progressista país vizinho caiu, tamanha a afluência de norte-americanos desesperados com a eleição de um candidato misógino, xenófobo, homofóbico e apoiado pela Ku Klux Klan. Contra o apocalipse Trump, as mulheres (54%), latinos (65%), LGBTs (78%) e principalmente os negros (88%) depositaram maciçamente seu voto em Hillary Clinton, mas não adiantou.

Não que Hillary, legítima representante de Wall Street e senhora da guerra, fosse melhor para o mundo. Era apenas um “mal menor”, alguém que se acreditava capaz de deter a onda neofascista que, aliás, não é exclusividade dos EUA. Talvez, com o tempo, os democratas até revejam ter sido um erro escolher Hillary em detrimento da candidatura mais à esquerda de Bernie Sanders. Historicamente, socialistas sempre foram o contraponto mais poderoso aos fascistas.

Com Donald Trump, a direita mais tosca, mais ignorante, chega ao poder no país mais poderoso sobre a Terra. É a mesma direita que é contra o aborto, contra as políticas de ação afirmativa, contra o Estado laico, contra a saúde e a educação gratuitas, contra qualquer auxílio do governo aos mais pobres, contra os direitos humanos e dos LGBTs em particular. Ao mesmo tempo, é uma direita demagoga, porque seduz estes mesmos pobres com um discurso falacioso de “meritocracia”, como se todos tivessem vantagem idêntica no ponto de partida.

Trump é mais um destes “meritocratas hereditários” que iludem eleitores com uma imagem de grandes batalhadores, self made men, quando, paradoxalmente, tiveram tudo fácil na vida. O novo presidente dos EUA é filho de um milionário do ramo imobiliário em Nova York e começou a carreira na empresa do pai, que depois herdou e transformou em The Trump Organization. Maior moleza. Durante a campanha, alguns jornais chegaram a cogitar que é menos rico do que propaga –ou não paga os impostos regularmente.

O que Trump e estes outros caras –João Dória, Mauricinho Macri, Capriles– têm em comum, além do berço de ouro e da boa pinta, é a lábia de vendedor. São os campeões do marketing pessoal. Possuem um inegável talento para promover a si próprios como “vencedores” e convencer incautos de que todos os “sem herança” podem fazer igual. Trump conquistou inclusive a façanha de convencer os rednecks, brancos norte-americanos do interior, de que é um deles, mesmo sendo novaiorquino do Queens. Carismático, o presidente eleito dos EUA é capaz de dizer as maiores barbaridades com um sorriso maroto no rosto, aplaudido pela América profunda que sente saudades de um país que não existe mais ou nunca existiu.

Uma combinação de brancos provincianos e evangélicos em geral elegeu Donald Trump, indicando que se inicia uma era de conservadorismo brutal na América do Norte, com reflexo em todo o mundo, sobretudo na América Latina. Os anos Obama, se não foram benéficos para o resto do mundo, trouxeram pautas progressistas no âmbito moral: casamento gay, legalização da maconha (com os 7 estados que aprovaram agora, já são metade deles com a cannabis legalizada).

The Donald vai atentar contra a legalização do aborto, exigência dos fundamentalistas que o apoiaram, e contra o Obacamacare, o programa que ampliou a cobertura de saúde no país. Endurecerá a repressão e a violência policial contra os negros, que lotam as penitenciárias do país, prejudicados por um sistema criminal racista. As ações das prisões privadas, por sinal, explodiram com a vitória de Trump. Serão anos duros também para as mulheres, já que, para derrotar Hillary, abriu-se a caixa de Pandora do machismo secular do americano médio, exatamente como no golpe contra Dilma Rousseff. E, como na Inglaterra do Brexit, as tensões com os imigrantes tendem a se acirrar.

Menos mal para os progressistas norte-americanos que nos EUA vale o princípio federativo, ou seja, cada estado tem as suas próprias leis, favorecendo a existência de lugares mais avançados do que outros. Este sistema de certa forma minimiza a dificuldade de fazer um país tão grande “dar certo”. É o mesmo caso do nosso –com a diferença que aqui o Estado federativo só existe no nome. Se essa extrema-direita representada por Trump chegar ao poder também no Brasil (toc, toc, toc), nem a possibilidade de viver em um estado com melhores leis teremos. Está cada vez mais difícil para um progressista viver neste mundo. Canadá? Uruguai? Que mais?

Felizmente, toda onda é passageira. Se há um lado positivo em ter a direita no poder é que isso a desnuda, a expõe. Na presidência dos Estados Unidos, Donald Trump será a vitrine do que o conservadorismo tem a propor ao planeta. Suas ideias mofadas, sua visão do século passado, seu modelo econômico falido, serão postos à prova. Difícil será sobreviver aos tempos sinistros que se anunciam até os pobres que confiaram seus futuros a essa gente se darem conta de que foram a massa de manobra de um embuste.

 

 


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