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Feminismo

Documentário retrata machismo da carreira de diplomata no Brasil

Só a partir de Celso Amorim, no governo Lula, mulheres diplomatas ganharam mais oportunidades de ascender na carreira

Maria José Rebello, a primeira mulher diplomata. Foto: Itamaraty
Da Redação
11 de março de 2019, 22h41

Em 1918, o Brasil teve sua primeira mulher diplomata, a baiana Maria José de Castro Rebello, que foi aprovada em primeiro lugar para o Instituto Rio Branco após recorrer a Justiça para poder fazer o exame. Era também a primeira funcionária pública concursada. Mas, em 1938, a presença de mulheres no Itamaraty foi proibida, só voltando a ser admitida em 1954.

O documentário Exteriores – Mulheres Brasileiras na Diplomacia, realizado pelo Grupo de Mulheres Diplomatas, coletivo criado em 2013 e que hoje reúne mais de um terço das diplomatas brasileiras, foi produzido como celebração do centenário de ingresso de Maria José na carreira. O filme mostra que diplomatas mulheres sendo preteridas na hora das promoções era a praxe no ministério até o governo Lula.

A partir de 2002, com Celso Amorim à frente das Relações Exteriores, o cenário começa a se modificar. Em 2003, foi nomeada a primeira mulher subsecretária-geral do Itamaraty. Em 2005, Amorim escolheu uma mulher para ser sua chefe de gabinete e, dois anos depois, a primeira mulher chefe da missão brasileira junto às Nações Unidas. Desde 2008 a Delegação Permanente do Brasil em Genebra também é chefiada por mulheres.

Ao todo, o chanceler de Lula nomeou 21 embaixadoras em oito anos. Antes dele, só havia três mulheres embaixadoras para 95 homens. Com um bolsonarista Ernesto Araújo no cargo, é possível que haja retrocessos também neste sentido.

Diplomatas mulheres sendo preteridas na hora das promoções era a praxe até o governo Lula. Celso Amorim nomeou 21 embaixadoras em oito anos. Antes dele, só havia três mulheres embaixadoras para 95 homens

“Acompanhar por dentro o processo de uma ação afirmativa em favor das mulheres na carreira para mim foi uma alegria. Eu concordava com essa medida. O que me incomodava nesse momento era uma certa visão coletiva de que aquelas promoções eram um favor e não é verdade. Há muitas mulheres competentes nessa carreira, não só da velha guarda como das mais jovens”, disse Maria de Nazareth Farani Azevedo, chefe de gabinete de Amorim.

Em 2014, foi criado o Comitê Gestor de Gênero e Raça no Itamaraty para coordenar no âmbito do ministério programas e política voltadas à promoção da efetiva igualdade de gênero e de raça dentro das Relações Exteriores. Até hoje, embora sejam metade da população, as mulheres representam apenas 23% dos diplomatas brasileiros.

O documentário traz depoimentos das diplomatas que mostram como o ambiente nas Relações Exteriores está impregnado por machismo, racismo e também LGBTfobia. Duas diplomatas lésbicas dão seu depoimento sobre como o preconceito as prejudicou na carreira e uma negra, Marise Ribeiro Nogueira, expõe o racismo institucional. “Dificilmente o barão do Rio Branco estaria muito contente e satisfeito em ver a Marise diplomata”, disse.

Assistam.

 


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