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Eduardo Cunha, o boi de piranha mais suculento da República

A celebração pela prisão de Eduardo Cunha foi chocha diante do regozijo dos articulistas da imprensa chapa-branca em “provar” aos críticos da Lava-Jato que a operação “não é seletiva” nem tem como alvo apenas petistas, como ficou patente até agora. Como se a prisão do ex-deputado federal cassado fosse capaz de diluir o estrondoso fato […]

Cynara Menezes
20 de outubro de 2016, 08h44
cunhalula

(Foto: Lula Marques)

A celebração pela prisão de Eduardo Cunha foi chocha diante do regozijo dos articulistas da imprensa chapa-branca em “provar” aos críticos da Lava-Jato que a operação “não é seletiva” nem tem como alvo apenas petistas, como ficou patente até agora. Como se a prisão do ex-deputado federal cassado fosse capaz de diluir o estrondoso fato de que, embora citados em várias delações, os tucanos continuem fora da mira do juiz Sergio Moro e a punição de algum deles siga um sonho distante para os reais defensores do fim da impunidade em nosso país.

Diante das evidências cada vez maiores de que não existem provas contra o ex-presidente Lula, quem, que não fosse do PT, poderia ser preso neste momento para tentar amenizar as críticas sobre a parcialidade da Lava-Jato? Ora, até as caspas sobre o paletó de Eduardo Cunha sabem que hoje ele é o preso ideal. Primeiro porque já está decaído. Não é mais o presidente da Câmara e o processo de impeachment de Dilma Rousseff foi concretizado (por ele) com êxito, portanto não é mais útil.

O establishment não está interessado no PMDB, nunca esteve, e Michel Temer sabe disso –ou não teria voltado às pressas de sua viagem ao Japão tão logo o companheiro de longa data foi preso. Os heróis do establishment sempre foram o PSDB e seu velho parceiro, o DEM. São eles que o poder econômico quer ver de volta ao poder, de preferência sem o risco de uma eleição. E é sobre eles que falamos quando denunciamos a seletividade da Lava-Jato. Enquanto nenhum político destes dois partidos for mandado a Curitiba, as críticas sobre a seletividade da operação permanecem; antes disso, Eduardo Cunha não será nada além de um suculento boi de piranha.

Curiosamente, aliás, a prisão do ex-presidente da Câmara acontece na mesma semana em que o escritor italiano Gianni Barbacetto, autor do livro sobre a Mãos Limpas, a operação italiana que inspirou Sergio Moro (a apresentação da edição brasileira é assinada pelo juiz), fez duros reparos às “limitações” da Lava-Jato. Em entrevista ao jornal Zero Hora no sábado15, Barbacetto disse estar “surpreso” que tenham aparecido acusações “só contra o PT e seu líder Lula”. “Parece-me que todo o sistema está envolvido pela corrupção. Desde o início o sistema continua como antes e será apenas Lula a pagar”, criticou.

Se o problema é sistêmico, não será a prisão de Cunha que irá atenuar nos cidadãos conscientes, que não se deixam contaminar pela mídia, a sensação de que a Justiça praticada por Moro é seletiva. Os defensores do magistrado paranaense sempre afirmaram que seu objetivo é acabar com a corrupção no país. Sendo assim, a prisão de Eduardo Cunha jamais poderia ser considerada um fim, e sim um meio. Mas já tem colunista de direita defendendo que Cunha não pode ser beneficiado pela delação premiada, como foi, por exemplo, o ex-petista Delcídio Amaral. A quem essa gente acha que engana? Eles e seus veículos de comunicação sempre foram os porta-vozes do tucanato, sabemos muito bem a quem querem proteger.

A maior utilidade da prisão de Eduardo Cunha é exatamente oposta: que ele abra o jogo e revele as entranhas do financiamento de campanha brasileiro, do qual é profundo conhecedor. Se decidir falar, Cunha tem muito a dizer, sobre políticos de todos os partidos da República (à exceção, suponho, do PSOL), e talvez isto explique o ensurdecedor silêncio do PSDB sobre a prisão do malvado favorito da turma de camiseta verde e amarela. Isto se considerarmos que a prisão de Cunha é mesmo para valer. Eu tenho cá minhas dúvidas. Mas ainda que seja, não será surpresa para ninguém se a possível delação do peemedebista só servir, mais uma vez, para incriminar aqueles que têm sido os únicos a pagar pela podridão do sistema político brasileiro desde o mensalão.

 

 


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