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Cidade de Minas Gerais tem bloco de carnaval que usa “blackface” desde 1942

Os integrantes do bloco "Turistas de Adis Abafa", da cidade mineira de Cássia, ainda pintam o rosto com tinta preta, costume considerado racista

Integrantes do bloco "Turistas de Adis Abafa" no carnaval deste ano. Foto: reprodução/facebook
Da Redação
19 de fevereiro de 2023, 18h00

O bloco “Turistas de Adis Abafa”, da cidade mineira de Cássia, a 392 km de Belo Horizonte, desfila no carnaval com seus integrantes usando “blackface” há 81 anos, mesmo com o costume de brancos pintarem o rosto de preto ser considerado ofensiva e racista no mundo todo há pelo menos 30 anos. Em 2014, a prefeitura da cidade sancionou uma lei que considera o bloco como “de utilidade pública” e promove o desfile do “Adis Abafa” em suas redes sociais.

O “Adis Abafa”, que desfilou no sábado, 18 de fevereiro, e voltar a sair na segunda-feira de Carnaval, foi criado em Cássia em 1942. Como não houve carnaval de rua no ano passado em virtude da Covid-19, os desfiles deste ano estão sendo comemorativos dos 80 anos do bloco.

O instagram do “Adis Abafa” conta a seguinte história para justificar o nome e as caras pintadas de preto: “Eram meados de 1941, quando Wandic Mendonça, Júlio Batista e Jair Mahalem, cassienses carnavalescos, fundaram o Adis Abafa. Wandic havia feito uma viagem recente ao Rio de Janeiro, onde conheceu um grupo de excursionistas de Adis Abeba, a maior cidade e capital da Etiópia, que visitava a cidade maravilhosa, na época também capital do Brasil. Fizeram muito sucesso por lá, usando roupas iguais, todos pretos, e com cartolas brancas na cabeça. E foi assim que os africanos inspiraram o cassiense…”

“Por pura admiração, e recriando nos mesmos moldes vistos, adotando um inteligente trocadilho no termo ‘abafa’ (usado na época para enaltecer um grande sucesso), no lugar do nome da capital etiopiana, nasceu o ‘Turistas de Adis Abafa’. Para a nossa alegria, Cássia em peso adotou o bloco”, contam. Diante de possíveis críticas, ratificam o uso do blackface: “A família Adis Abafa permanece feliz, unida, cheia dessa cultura linda, de cara pintada SIM”.

Após a publicação deste texto, os administradores fecharam o perfil do bloco no instagram.

Morador de Cássia, um leitor do site que preferiu não se identificar disse que suas reclamações são vistas pelos integrantes do bloco, a maioria brancos, e por outros moradores da cidade, como mimimi. “Estamos em 2023 e eu me recuso a não tentar ação alguma contra as injustiças desse país. Na minha cidade existe um bloco de carnaval ‘tradicional’, com 81 anos, onde a tal tradição é fazer BLACKFACE e desfilar pelas ruas da cidade, cantando aquelas marchinhas tão racistas quanto a própria pintura”, criticou.

Integrante é pintado para o desfile. Foto: reprodução/facebook

“Ao tentar conversar com as pessoas da cidade sobre esse descolamento da realidade, a população em geral discorda, diz que o preconceito está em minha cabeça, que o mundo é chato, mimizento, e que a pintura não apresenta preconceito, e sim uma homenagem.”

Uma das marchinhas, Tinta Negra, também atribui a pintura dos rostos à “tradição”:

Esta negra tinta
que pintei meu rosto
Não manchei minh’alma
Nem meu coração

Se pintei meu rosto
foi uma ilusão
esta negra tinta
é a minha tradição.


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(4) comentários Escrever comentário

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Amir Mahalem Filho em 20/02/2023 - 23h35 comentou:

Um dos fundadores do Adis Abafa, foi meu pai Amir Mahalem e não Jair Mahalem, na família Mahalem não tem ninguém com nome de Jair. E eu fundei quando criança o Adis Abafa Mirim que desfilou as crianças durante muitos anos, com apoio do meu pai. Quem pintou o estandarte do Adis Abafa Mirim foi o Sr Paulo Bento filho do Sr José Bento, moravam ao lado do cinema.Meu pai foi proprietário do Hotel Âncora por 15 anos.

Responder

    Cynara Menezes em 23/02/2023 - 21h40 comentou:

    o texto está no instagram do bloco, tem que reclamar lá

Francisco em 22/02/2023 - 02h39 comentou:

Relevancia zero!!!

Responder

Felipe XD em 18/11/2023 - 21h36 comentou:

Na moral, vai pra puta que pariu, importam até o racismo dos Estados Unidos. Meu vô que era negro, e infelizmente socialista que nem vocês, participava do bloco até 2015, quando infelizmente veio a óbito.
Mas nunca pensou desse jeito imbecil de vocês. Imputam racismo em tudo, galera passa fome, não tem esgoto, não tem dinheiro para nada com essa moeda desvalorizada, e o que vocês reclamam é do suposto racismo estrutural. Vão a merda.

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