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Consultor do Vaticano reafirma: papa Francisco enviou terço abençoado a Lula

Em carta a Lula, Juan Grabois desmente os desmentidos das agências de checagem (sic), que protagonizaram um vexame nas redes sociais

Foto: Claudio Kbene
Cynara Menezes
13 de junho de 2018, 17h41

O argentino Juan Grabois, consultor do Vaticano no Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano, divulgou nesta quarta-feira uma carta em que desmente os desmentidos feitos pelas agências de checagem (sic) da mídia comercial com o objetivo de atacar Lula na prisão. Grabois reafirma que o terço recebido pelo petista foi de fato abençoado pelo papa e enviado por ele ao ex-presidente. O consultor, para quem Lula é “um perseguido político” comparável a Nelson Mandela, foi impedido pelos carcereiros da PF em Curitiba de entrar na prisão.

“Quero esclarecer que quando me negaram vê-lo, pedi a seus colaboradores que lhe levassem o terço, esclarecendo expressamente que ele vinha da parte do papa e com a bendição dele. Por esse motivo, o que eles afirmaram em sua conta do Facebook –erroneamente denunciada como fake news e ameaçada de censura– é simplesmente o que eu lhes disse: a verdade”, escreveu Grabois. “É incrível que um gesto tão simples de solidariedade e proximidade do papa, um objeto que serve para rezar, gere tantos problemas.”

O consultor se disse consternado por não ter podido visitar Lula na cadeia, como pretendia. “Ontem eu fui embora do Brasil muito angustiado. Como você sabe, me impediram de visitá-lo de forma injustificada, arbitrária e descortês”, criticou. Mas a desolação piorou quando Grabois soube o que a mídia comercial, por meio de suas agências checadoras (sic), estava fazendo: transformando o envio do terço em um ataque político ao ex-presidente.

Quero esclarecer que quando me negaram vê-lo, pedi a seus colaboradores que lhe levassem o terço, esclarecendo expressamente que ele vinha da parte do papa e com a bendição dele

“O gole mais amargo me esperava no aeroporto de Curitiba. Ali me inteirei que te atacavam novamente nos grandes meios e redes sociais. Afirmavam que você mentiu sobre o terço enviado pelo papa Francisco. Mesmo preso e incomunicável, você também mente! Com assombro vi que teus inquisidores indicam que a fonte de sua calúnia era o próprio Vaticano. Maior foi a minha surpresa quando comprovei que uma página da internet denominada Vatican News haviam publicado um texto em português agressivo, repleta de inexatidões e erros de redação.”

Foi o texto dessa página que serviu de base para as agências de checagem (sic) Lupa e Aos Fatos cravarem que Juan Grabois não era ligado ao papa e que o terço não foi enviado pelo pontífice, citando textualmente três sites alternativos como fontes de fake news: Diário do Centro do Mundo, Brasil 247 e Revista Fórum.

Em nenhum momento os “checadores” entraram em contato com o próprio Vaticano ou com Juan Grabois, como rezam os bons manuais de jornalismo. “Checaram” na internet. O mais grave: ao mesmo tempo que acusavam os sites alternativos, as agências omitiram o fato de que o portal UOL, ao qual a Lupa é ligada, foi um dos primeiros em dar a notícia sobre o terço.

O resultado desse serviço porco é que o facebook, com quem as agências de checagem (sic) firmaram parceria, notificou os três sites, ameaçando tirar suas páginas da rede social. Leitores que tentaram compartilhar o conteúdo passaram a receber a “informação” de que se tratava de “fake news”.

No entanto, horas mais tarde, o Vatican News deletou o texto e as postagens do twitter e do facebook que foram utilizadas pela agência para carimbar sites de esquerda como “fake news”. À noite, um novo texto foi postado pelo Vatican News corrigindo todas as “informações” anteriores: que, sim, Grabois é consultor do Vaticano e que, sim, o terço foi abençoado pelo papa para Lula.

Continua Grabois: “A comunicação dessa página não pode ser considerada oficial, mas, efetivamente se trata de um site dependente da Secretaria de Comunicação do Vaticano. Enquanto lia, não podia sair do meu assombro. Evidentemente, um redator deste site, sabe Deus com que intenção ou a pedido de quem, quis causar uma confusão e conseguiu. Quando pude me queixar com os superiores, a nota foi eliminada e substituída por uma adequada, mas o dano já estava feito. Lamentavelmente, os meios que difundiram até o paroxismo o suposto desmentido vaticano não reproduziram a nova nota com a informação correta. Será que vivemos na era da pós-verdade?”

Após a divulgação da carta de Grabois, a Agência Lupa mudou o texto e o selo do “desmentido”: agora, em vez de “falsa”, virou “de olho”, mas os tweets atacando os sites alternativos permanecem no ar

Um detalhe para o qual as agências, de forma amadorística, não atentaram, é que esta não é a primeira vez que o papa Francisco envia um terço bento a um preso na América do Sul, seu continente de origem. A argentina Milagro Sala, presa política do governo de Mauricio Macri, foi presenteada com um terço e uma carta enviados por Francisco em maio do ano passado. Em abril deste ano, o papa enviou um terço e um livro para o ex-vice-presidente do Equador, Jorge Glas, acusado de corrupção por suas relações com a Odebrecht. Por que não enviaria a Lula?

Percebe-se pela carta que o consultor não quis ser indiscreto e revelar todo o teor da conversa que teve com o papa ou a mensagem que teria enviado a Lula. E deixou claro que quis poupar Francisco de possíveis ataques dos setores conservadores da igreja. “Nunca revelei o conteúdo de um encontro com o papa Francisco porque sou leal, o respeito e admiro muitíssimo. Além disso, sei que o seu apoio aos movimentos sociais e aos pobres lhe traz mais de uma dor de cabeça”, escreveu.

Depois da divulgação da carta de Grabois, a Agência Lupa mudou o texto e o selo sobre o “desmentido”. Agora, em vez de “falsa”, a história do terço virou “de olho”, mas os tweets atacando os sites alternativos permanecem no ar. O site UOL também continua sem ser citado como fonte da notícia.

A agência Aos Fatos não fez qualquer correção e continua chamando a notícia do envio do terço de “boato”. Só após as críticas por sua “checagem” se resumir à leitura de tweets é que o Aos Fatos resolveu enviar perguntas –ao Vatican News, não ao Vaticano.

O imbróglio lamentavelmente confirma os piores temores da mídia alternativa. Sob a desculpa de “combater fake news”, as agências de checagem estão se transformando em bedéis do jornalismo independente na rede, atacando sites progressistas com acusações infundadas e atuando para fortalecer o monopólio midiático no Brasil. Não à toa, jamais “checaram” informações da mídia que os financia.

A íntegra da carta de Juan Grabois a Lula:

Querido Lula:
Ontem eu fui embora do Brasil muito angustiado. Como você sabe, me impediram de te visitar de forma injustificada, arbitrária e descortês. Depois, visitei os meus irmãos e irmãs catadores, carroceiros, camponeses, favelados, professores, servidores públicos, operários e integrantes de diversas pastorais. Pude sentir a dor do teu povo, partilhar a sua impotência perante a injustiça, a sua revolta diante da perseguição do seu dirigente máximo. Notei também a enorme deterioração institucional, social e política que o Brasil sofre por causa da ambição de alguns poucos que concentram o poder e impedem que as diferenças se desfaçam dentro da democracia.

Sob a desculpa de “combater fake news”, as agências de checagem estão se transformando em bedéis do jornalismo independente, atacando sites progressistas com acusações infundadas e atuando para fortalecer o monopólio midiático

O gole mais amargo, porém, me esperava no aeroporto de Curitiba. Ali me inteirei que te atacavam novamente nos grandes meios e redes sociais. Afirmavam que você mentiu sobre o terço enviado pelo papa Francisco. Mesmo preso e incomunicável, você também mente! Com assombro vi que teus inquisidores indicam que a fonte de sua calúnia era o próprio Vaticano. Maior foi a minha surpresa quando comprovei que uma página da internet denominada Vatican News haviam publicado um texto em português agressivo, repleta de inexatidões e erros de redação.

A comunicação dessa página não pode ser considerada oficial, mas, efetivamente se trata de um site dependente da Secretaria de Comunicação do Vaticano. Enquanto lia, não podia sair do meu assombro. Evidentemente, um redator deste site, sabe Deus com que intenção ou a pedido de quem, quis causar uma confusão e conseguiu. Quando pude me queixar com os superiores, a nota foi eliminada e substituída por uma adequada, mas o dano já estava feito. Lamentavelmente, os meios que difundiram até o paroxismo o suposto desmentido do Vaticano não reproduziram a nova nota com a informação correta. Será que vivemos na era da pós-verdade?

Nunca revelei o conteúdo de um encontro com o papa Francisco porque sou leal, o respeito e admiro muitíssimo. Além disso, sei que o seu apoio aos movimentos sociais e aos pobres lhe traz mais de uma dor de cabeça. Como você sabe, ele também sofre o ataque sistemático dos fariseus e herodianos dos nossos tempos. No entanto, tendo em conta as circunstâncias, sinto-me na obrigação de te contar como foram as coisas. Em meados de maio estive no Vaticano para visitar Francisco, que me honra com uma amizade que não mereço, ama a Pátria Grande e –como ele mesmo indicou– está preocupado com a situação atual.

Como você sabe, ele é muito claro e direto, não precisa de porta-vozes e eu nunca quis sê-lo. Sofro muito quando a mídia me coloca nesse lugar. Eu apenas tento ajudar no diálogo com os movimentos sociais, algo que tenho feito desde que nos conhecemos em Buenos Aires, há mais de dez anos, lutando por uma sociedade sem escravos nem excluídos. Neste momento, colaboro com o Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, presidido pelo cardeal Peter Turkson com quem organizamos os três Encontros Mundiais de Movimentos Populares e outras atividades para promover o acesso à terra, ao teto e ao trabalho como direitos essenciais.

Por esses dias de maio, meus amigos dos movimentos populares do Brasil me ofereceram a possibilidade de te visitar. Fiquei muito satisfeito porque admiro o que você fez como presidente pelos mais pobres e tenho a certeza de que você é alvo de uma perseguição política, igual a Nelson Mandela e tantos outros dirigentes políticos na história recente. Aproveitei, então, aquela visita ao Vaticano para conversar com o papa sobre a situação e pedir a ele um rosário abençoado para levar para você. Foi assim. É incrível que um gesto tão simples de solidariedade e proximidade do papa, um objeto que serve para rezar, gere tantos problemas, mas não é a primeira vez e o Vatican News é responsável por haver permitido que se publicasse essa nota tão inapropriada e pela falta de profissionalismo. O seu responsável pediu-me perdão e perdoo-lhe, porque todos podemos cometer erros. Mas também sei que causou um prejuízo grave.

Admiro o que você fez como presidente pelos mais pobres e tenho a certeza de que você é alvo de uma perseguição política, igual a Nelson Mandela e tantos outros dirigentes políticos na história recente.

Também quero esclarecer que quando me negaram vê-lo, pedi a seus colaboradores que lhe levassem o terço, esclarecendo expressamente que ele vinha da parte do papa e com a bendição dele. Por esse motivo, o que eles afirmaram em sua conta do facebook – erroneamente denunciada como fake news e ameaçada de censura- é simplesmente o que eu lhes disse: a verdade. Entrego esta carta a seus colaboradores com a autorização expressa de que a publiquem se lhes serve para amenizar o prejuízo causado, embora tema que aqueles que odeiam esse operário que tirou da fome 40 milhões de excluídos e colocou de pé a América Latina diante dos poderes globais não vão dizer a verdade.

Te peço perdão pelo que aconteceu e te deixo um abraço fraterno, latino-americano e solidário.
Rezo pela tua liberdade, pelo teu povo e pela nossa Pátria Grande.

Juan Grabois

 

 

 


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(3) comentários Escrever comentário

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Sergio Caldieri em 13/06/2018 - 18h25 comentou:

Muito bom maravilhosa Cynara Menezes!!!!

Responder

EUGÊNIO em 14/06/2018 - 14h32 comentou:

Temos agora a Lava a Jato News.

A verdade sai branquinha e neoliberal.

Responder

Rafael Abreu em 15/06/2018 - 23h21 comentou:

A melhor coisa do mundo é uma notícia verdadeira. Nestes tempos de pós verdade. Nada melhor que ela pura. A Verdade.

Responder

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