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Coronavírus: é preciso mesmo desinfetar os pacotes do supermercado? Não

O que há de real e de exagero nos conselhos para higienizar os alimentos que compramos na rua ou pedimos em casa

Foto: Jorge Araujo/Fotos Públicas
Cynara Menezes
10 de agosto de 2020, 22h12

A cena já virou piada, mas se tornou um estresse extra para as pessoas na pandemia: donas e donos de casa desinfetando todos os pacotes do supermercado antes de guardá-los na geladeira ou na despensa. Este cuidado se disseminou no começo da quarentena, quando ainda se sabia muito pouco sobre a Covid-19. Mas, cinco meses depois, será que se justifica ficar passando álcool gel ou desinfetante nas embalagens, uma por uma? Não –é o que dizem especialistas do mundo todo.

Em alguns sites oficiais, como os do governo dos EUA e da Inglaterra, não há nenhuma orientação no sentido de desinfetar os pacotes que são trazidos para a casa das pessoas. “Quando desempacotar suas compras, refrigere ou congele a carne, o frango, os ovos, os frutos do mar e outros perecíveis dentro de duas horas”, diz o site do CDC (Centro para Controle e Prevenção de Doenças) do governo norte-americano, que ainda adverte: “Não use desinfetantes como alvejantes ou amônia sobre comida empacotada com papelão ou plástico.”

Na Nova Zelândia, um dos primeiros países a zerar os casos novos e que até hoje só teve 22 pessoas mortas pela Covid-19, o governo não menciona desinfetar os pacotes de compras no site criado para o combate à doença

“Se você fez compras, não há necessidade de sanitizar os pacotes de comida”, orienta o site do governo britânico. “COVID-19 é uma doença respiratória e não há evidências de que possa ser transmitida através da exposição à comida ou a embalagens de alimentos.” Ambos os sites destacam que o mais importante é lavar as mãos com água e sabão após manusear os pacotes.

Na Nova Zelândia, um dos primeiros países a zerar os casos novos de coronavírus e que até hoje só teve 22 pessoas mortas pela Covid-19, o governo não menciona desinfetar os pacotes de compras no site criado para o combate à doença. Pelo contrário, houve inclusive preocupação com a contaminação de frutas e legumes com desinfetantes não apropriados para higienizar alimentos, após o vídeo de um médico dos EUA viralizar com a “orientação” de mergulhar os vegetais em água com sabão e depois lavá-los novamente com água e sabão.

Mais de 26 milhões de pessoas assistiram ao vídeo onde o médico Jeffrey VanWingen aconselha lavar com sabão as frutas e legumes, o que é desaconselhável porque pode trazer problemas alérgicos ou irritar o trato digestivo. Os vegetais devem ser higienizados com água potável ou com a diluição de água sanitária e água, não com sabão.

O que diz a OMS (Organização Mundial de Saúde)? “Não há até agora nenhuma evidência de que as pessoas possam contrair Covid-19 pela comida ou por pacotes com comida. Covid-19 é uma doença respiratória e a rota de transmissão é de pessoa a pessoa e pelo contato direto com as gotículas geradas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra”, esclarece a entidade. “Lavar as frutas e vegetais com água potável é suficiente. Não é necessário desinfetar os pacotes, mas as mãos devem ser lavadas apropriadamente após tocar neles e antes de comer.”

“Não há até agora nenhuma evidência de que as pessoas possam contrair Covid-19 pela comida ou por pacotes contendo comida”, diz a Organização Mundial de Saúde. “Não é necessário desinfetar os pacotes, mas as mãos devem ser lavadas após tocar neles”

Perguntei ao médico veterinário Paulo Abilio Varella Lisboa, pesquisador da Fiocruz, sobre o assunto, e ele aconselha passar um pano úmido sobre os pacotes como forma de prevenção. “Não pregamos que temos que esterilizar embalagens e superfícies ou que tenhamos uma paranoia”, disse. “Não dá para lavar todas as embalagens ou passar álcool em gel em tudo, mas passar um pano úmido com água e sabão ou álcool ou a diluição da água sanitária, ter um cuidado na manipulação neste momento talvez seja interessante. É importante não utilizar um desinfetante (que pode ser potencialmente venenoso ou tóxico).”

Varella Lisboa diz que é improvável que a exposição de alguém ao vírus numa embalagem de alimento seja suficiente para deixar uma pessoa doente, mas ainda não há certeza absoluta disso. “Então continua sendo importante lavar as mãos antes e após desembalar ou manipular alimentos. Outras precauções adicionais a serem adotadas incluem limpar e desinfetar as superfícies (pias, mesas, bancadas, tábuas de corte e utensílios domésticos) e lavar regularmente as sacolas reutilizáveis. E, quando estiver manuseando alimentos, é muito importante evitar tocar nos olhos, nariz ou boca.”

“Não pregamos esterilizar embalagens e superfícies ou que tenhamos uma paranoia. Não dá para lavar todas as embalagens ou passar álcool em gel em tudo, mas passar um pano úmido com água e sabão ou álcool talvez seja interessante”, pondera Paulo Abílio, da Fiocruz

Ele ressalta que, sem exagero ou paranoia, as boas práticas de higiene adquiridas na quarentena deveriam permanecer após a pandemia. “Bom senso e algum cuidado básico de orientação e higiene não vão matar ninguém e nem criar alarde e são extremamente indicados para todos os aspectos da segurança alimentar –com ou sem Covid. Deveria ser uma prática diária, um hábito de higiene que deveria ser perpetuado.”

O mais importante é romper o ciclo de infecção, assegurando que, se você tocou superfícies ou pacotes onde porventura havia o vírus, higienizou as mãos depois.  As melhores dicas em relação às compras:

– Use máscara e higienize suas mãos na entrada e na saída;
– Seja objetivo nas compras, não se demore no supermercado: quanto menos interagir com outras pessoas, melhor;
– Pratique distanciamento social (mantenha-se a pelo menos 2 metros dos outros);
– Só toque os produtos que irá levar;
– Não toque olhos, nariz ou boca durante as compras;
– Higienize as mãos após fazer o pagamento no caixa;
– Lave sempre as mãos com água e sabão ao chegar em casa e após manusear as embalagens.

 


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Leonardo Alves em 10/08/2020 - 23h47 comentou:

Essa matéria tem informações corretas, mas no geral é um desserviço. Explico o porquê. A higienização das pessoas já é algo muito difícil de se conseguir, não adianta tomar dois banhos por dia e não lavar as mãos quando chega em casa, ou toda vez que vai ao banheiro, e esse não é um hábito que todos tem. Lava frutas e verduras é outro hábito não completamente difundido. Claro que usar água sanitária para desinfetar é excessivo e perigoso, mas o adequado é sempre limpar frutas e verduras com água potável e sabão neutro, sim sabão, porque o momento é contra a Covid-19, mas há outros vírus, bactérias e protozoários que precisam ser eliminados. Quanto a limpeza de embalagens, apesar de não ser orientada, o vírus SarsCov-2 pode sobreviver até 2/3 dias, dependendo da superfície, pode ser que o risco de contágio seja baixo, mas por que arriscar? Um detalhe importante, em congelados o vírus sobrevive por mais tempo.

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Fábio P. R. em 11/08/2020 - 08h41 comentou:

Aqui, nós passamos em tudo um pano úmido com água sanitária diluída. E deixamos as sacolas reutilizáveis de quarentena, antes de usar.

Responder

Dila Ferreira em 11/08/2020 - 16h17 comentou:

Eu lavo tudo que é possível lavar com água e sabão. Outros produtos, limpo com álcool 70.
Melhor não arriscar.

Responder

Maria das Graças Pereira Rocha em 11/08/2020 - 18h52 comentou:

Quando usar água sanitária,esta deve ser diluída:1 colher das de sopa para 1 litro de água,deixar as frutas,verduras ou legumes de molho por 10 minutos e depois enxaguar bem.Importante ler o rótulo,pois há marcas que alertam que não devem ser usadas para desinfecção de alimentos.

Responder

LILIANA COTINHO DE ASSIS em 12/08/2020 - 11h25 comentou:

Acho um saco! Mas, tenho limpado pacotes e embalagens com pano úmido, detergente neutro e um pouco de álcool. A frutas e verduras com água sanitária como recomendado. De fato é mais um stress, entretanto, teriam que ser lavadas mesmo…então que sejam logo e todas.

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Reneis em 13/08/2020 - 09h19 comentou:

Bom dia! É assim que fazemos em casa.
Mas nós já fazíamos tudo issoantes.
Então não foi dificil prá nós.
Só acrescentamos um cantinho a mais-tres cadeiras:(uma para meu filho,outra pra minha esposa e outra pra eu).De março pra cá ninguém mais entrou em casa sem tirar as roupas e calçados lá fora,cada um em sua cadeira.Máscara,frasco com alcool gel no banheiro e frasco com água sanitária diluída nas duas pias.Frutas e verduras,mergulhadas por 15min em água sanitária diluida. Sacolas de mercado penduras lá fora 12h antes de reutilizar…higiene das mãos. Frasco com álcool gel no carro…sair de casa o estritamente necessário.
É isso.
Estamos bem!

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Luciano Bernades em 12/09/2020 - 07h26 comentou:

escrevo por mim e não pelos outros e não sou modelo a ser seguido por ninguém e nem peço que me sigam.

seria mais fácil morar dentro de bolha de plastico ou vidro, isso não é viver é vegetar.

desde do primeiro dia estou tocando minha vida como sempre fiz, vivo no presente, o futuro não conheço e o passado não volta.

O que tiver de ser será, eu não tenho problema de saúde, mas poderei ter, isso faz parte da vida, não faço previsões, mas, não posso viver nesse jogo de ilusões plantadas por esse ou por aquele, se não, não, dou um passo a frente, não vou seguir a sombra de ninguém, ou tentar me escoder disso ou daquilo, por maior ou menor que seja, encararei de ferente e assim seja.

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