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Documentário da TV Senado mostra como a tortura atingiu índios, camponeses e cidadãos comuns

Filme, ganhador do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, desmente tese da direita de que repressão só atingiu guerrilheiros

Cynara Menezes
17 de outubro de 2018, 14h00

Uma das mentiras mais repetidas pelos defensores da ditadura militar no Brasil é a de que as torturas durante o período foram dirigidas apenas a quem participou da luta armada. Tentam esconder dos incautos que índios, camponeses, estudantes, advogados, trabalhadores e pessoas comuns também foram vítimas do aparato repressivo. O documentário Em Busca da Verdade, produzido pela TV Senado, dá visibilidade a estas histórias a partir dos mais de 1 mil depoimentos colhidos pela Comissão da Verdade entre 2011 e 2014.

É o primeiro filme a abordar o resultado das comissões estaduais e nacional da Verdade, cujo relatório foi divulgado em novembro do ano passado, após três anos de trabalhos. Os diretores Lorena Maria e Deraldo Goulart vasculharam dezenas de horas de depoimentos de agentes da repressão e torturados e entrevistaram os membros da comissão para construir a narrativa e para falar sobre o legado que a investigação deixou.

“A imprensa divulgou muita coisa na época, mas deu prioridade aos depoimentos dos agentes. Nós priorizamos os torturados”, diz Lorena. O filme, de 58 minutos, destaca os casos emblemáticos dos desaparecidos políticos Rubens Paiva, Stuart Angel e Epaminondas Oliveira, líder comunista maranhense, o único que a CNV conseguiu localizar as ossadas. Em agosto de 2014, 43 anos após seu desaparecimento, finalmente Epaminondas foi sepultado pela família.

Os índios e camponeses eram alvo da repressão por uma questão de disputa por terra. Como diz no filme a psicanalista Maria Rita Kehl, eles viraram um obstáculo que tinha de ser eliminado a bala

Foram resgatadas imagens raras descobertas pelo pesquisador Marcelo Zelic no Museu do Índio, no Rio de Janeiro, que trazem a infame cena dos índios carregando outro índio no pau-de-arara em um desfile militar. “Os índios e camponeses eram alvo da repressão por uma questão de disputa por terra”, afirma a diretora. “Como diz no filme a psicanalista Maria Rita Kehl, que integrou a Comissão da Verdade, eles viraram um obstáculo que tinha de ser eliminado a bala.”

O documentário também retrata o envolvimento do empresariado, financiando a ditadura militar e a própria tortura. Segundo Lorena Maria, o mais importante é que o filme consegue deixar claro como a política de repressão resultou em problemas para toda a sociedade, não só para quem atuou na luta armada, com efeitos que sentimos até hoje. “A PM ainda continua exercendo práticas de tortura e desaparecimento de cadáveres. A transição negociada para a democracia, sem punição aos mandantes e torturadores, permitiu que isso continuasse. Trouxe uma sensação de impunidade que persiste”, opina.

Assista abaixo ao documentário, ganhador do prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em 2015. Em breve postarei aqui também a segunda parte, dirigida por Deraldo Goulart, enfocando as implicações da ditadura brasileira com os imigrantes e com outros países da região, como a Operação Condor.

 

 


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