Dois textos de Stan Lee que parecem ter sido escritos para os bolsominions
Um dos criadores do Pantera Negra, o roteirista escreveu em 1968 e 1969 contra o racismo, a xenofobia, o ódio e o preconceito
Um texto de Stan Lee de 1968 republicado pela jornalista Jen Yamato, do Los Angeles Times, em seu twitter, rodou o mundo na semana passada, após a morte do roteirista. Uma celebridade dos quadrinhos, Lee, de 95 anos, esteve envolvido na criação de quase todos os super-heróis que surgiram nos últimos 50 anos, entre eles Homem Aranha, Hulk, Thor, X-Men e Homem de Ferro.
Publicado originalmente em 1968 na seção Stan’s Soapbox dos gibis da Marvel, o libelo contra o racismo, o preconceito e a xenofobia é de uma atualidade ímpar. Para nós, brasileiros, o impacto é ainda maior: parece ter sido escrito sob encomenda para os bolsominions. “O preconceituoso é um odiador sem razão, alguém que odeia cegamente, fanaticamente, indiscriminadamente. Ele odeia pessoas que ele nunca viu, que nunca irá conhecer, com igual intensidade –com o mesmo veneno”, criticou.
"Bigotry and racism are among the deadliest social ills plaguing the world today." "A story without a message… is like a man without a soul."
RIP Stan Lee #StansSoapbox pic.twitter.com/S8PvuDassx
— jen yamato (@jenyamato) November 12, 2018
Stan Lee não se envolveu diretamente na luta anti-racista nos EUA, mas é um dos criadores do Pantera Negra, tido como o primeiro e até hoje um dos raros super-heróis negros dos quadrinhos. T’Challa, o príncipe africano que encarna o Pantera Negra, surgiu da imaginação de Stan Lee e do desenhista Jack Kirby em 1966, em aparição especial no gibi dos 4 Fantásticos –muito embora os defensores de Kirby (e detratores de Lee) digam que o carismático vovô nerd da Marvel só levou a fama por este e outros super-heróis.
O roteirista negava veementemente ter limado os parceiros dos créditos. “Nunca houve uma época em que se dizia ‘de Stan Lee’. Sempre foi ‘de Stan Lee e Steve Ditko’ (co-criador do Homem Aranha) ou ‘de Stan Lee e Jack Kirby’. Sempre fiz questão que os nomes deles fossem tão grandes quanto os meus. Eu não tinha nada a ver com o que eles recebiam. Eles eram contratados como freelancers e trabalhavam como freelancers. Aparentemente, uma hora eles acharam que deveriam receber mais dinheiro. Tudo bem, mas tinham que falar com o editor, não comigo. Eu também gostaria de ter recebido mais dinheiro”, disse Stan Lee à revista Playboy, em 2014. “Não quero que ninguém ache que tratei Kirby ou Ditko injustamente. Acho que tivemos uma relação maravilhosa. O talento deles era incrível, mas as coisas que eles queriam eu não tinha o poder de dar.”
Ao contrário de Kirby e Ditko, Lee não era freelancer, e sim funcionário da Marvel. O fato é que nenhum dos parceiros se tornaria sinônimo de Marvel como Stan Lee.
Em 1976, a Marvel traz de volta o Pantera Negra como protagonista da revista bimestral Jungle Action, cujo número 19 explode nas bancas com uma série onde o herói da nação africana de Wakanda enfrenta nada menos que a organização supremacista Ku Klux Klan, desta vez com roteiro de Don McGregor e arte do cartunista negro Billy Graham.
A série, aclamada pela crítica, é considerada uma das mais importantes da trajetória do Pantera Negra, embora a Jungle Action tenha acabado antes de que houvesse um final para a trama. Abaixo, nós traduzimos para vocês o texto de Stan Lee contra o racismo e ilustramos com imagens do embate entre o Pantera Negra e a KKK.
Vejam se não parece que ele escreveu sobre os tempos que vivemos no mundo atualmente, onde o ódio está em ascensão.
“Vamos direto ao ponto: preconceito e racismo estão entre as pragas mais mortais do mundo atualmente. Mas, ao contrário de uma equipe de supervilões, eles não podem ser parados com um soco no focinho ou um disparo de raio laser. O único modo de destruí-los é expondo-os para revelar os males insidiosos que ele realmente representam.
O preconceituoso é um odiador sem razão, alguém que odeia cegamente, fanaticamente, indiscriminadamente. Se tem problema com homens negros, ele odeia TODOS os homens negros. Se um ruivo alguma vez o ofendeu, ele odeia TODOS os ruivos. Se algum estrangeiro ganha dele na disputa por um emprego, ele passa a odiar TODOS os estrangeiros. Ele odeia pessoas que ele nunca viu, que nunca irá conhecer, com igual intensidade –com o mesmo veneno.
Nós não estamos tentando dizer que é não é normal que um ser humano deteste outro. Mas, apesar de alguém ter o direito de não gostar de outro indivíduo, é totalmente irracional, verdadeiramente insano, condenar uma raça inteira, desprezar uma nação inteira, vilanizar toda uma religião. Mais cedo ou mais tarde, nós precisamos aprender a julgar os outros por nossas próprias qualidades.
Mais cedo ou mais tarde, se o homem quiser ser digno de seu destino, devemos encher nossos corações de tolerância. Só então, e apenas neste momento, seremos realmente dignos de pensar que o homem foi criado à imagem de Deus, um Deus que chama TODOS nós de seus filhos”.
Em outra de suas colunas no Stan’s Soapbox, de 1969, Lee dá mais uma lição aos bolsominions de hoje em dia e, de quebra, a seu mentor alçado à presidência do Brasil: nenhum grande homem da História jamais foi lembrado por pregar o ódio.
“Por muitos anos nós estamos tentando ilustrar, do nosso jeito estabanado, que o amor é uma força muito mais grandiosa, uma força muito mais poderosa do que o ódio. Não queremos dizer para você sair por aí como uma Poliana saltitante, jogando flores em qualquer um que passa, mas queremos marcar um ponto. Considere três homens: Buda, Cristo e Moisés. Homens de paz, cujos pensamentos e atos influenciaram milhões através dos tempos –e cuja presença ainda é sentida em todos os cantos da Terra. Buda, Cristo e Moisés… Homens de boa vontade, homens de tolerância e sobretudo homens do amor. Agora, considere os praticantes do ódio que enlamearam as páginas da História. Quem ainda venera suas palavras? Que homenagem é feita à sua memória? Que bandeiras são levantadas em defesa de suas causas? O poder do amor –e o poder do ódio. Qual é mais verdadeiramente duradouro? Quando você estiver a ponto de desesperar… deixe que essa resposta o conforte.”
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Mirna em 20/11/2018 - 04h58 comentou:
E eu que teimo em ser uma “Poliana saltitante’ observo que foram o ódio, a intolerância e o analfabetismo funcional que venceram as eleições 2018. E não é só desde o ano em que nasci que os textos de Lee são aplicáveis, mas desde o início dos relatos da humanidade. Estudemos história pra não repetirmos farsas e tragédias.
MARCOS CARVALHO em 20/11/2018 - 07h45 comentou:
Bom dia! Os textos do maior herói de todos são cheios de mensagens positivas e retratam a genialidade de um grande homem, agradeço a Deus por ele ter existido e ter feito parte da minha infância e de todo o resto. Parabéns pela matéria, nós, os nerds, agradecemos 🙂 só tem um detalhe: com todo respeito, não votei no Bolsonaro, mas não seria preconceito, ou no mínimo generalização, chamar seus eleitores de Bolso Minions? Grande abraço! Excelsior!
Cynara Menezes em 20/11/2018 - 10h03 comentou:
quem vota em defensor de ditadura não merece respeito. os ingênuos que se deixaram iludir por fake news merecem pena. os que votaram conscientemente nessa criatura abjeta só merecem desprezo
Omar Dario em 20/11/2018 - 15h27 comentou:
Cynara, pior que os ingênuos e os preconceituosos assumidos, foram os quase 31 milhões de omissos que não tiraram a bunda de casa (vários na minha família inclusive) pra votar nem no primeiro nem no segundo turno.
“Ah , mas eu não acredito mais em política…” é a burrice que eu mais escuto. Pois é exatamente o que os bancos querem que as pessoas pensem.
Miriam Gonçalves em 22/11/2018 - 07h56 comentou:
Mirna, dessa vez não podemos culpar os analfabetos pela vitória da intolerância, pois o perfil do eleitor de Bolsonaro é homem, jovem, branco, evangélico e com nível superior…
Sergio em 22/11/2018 - 11h52 comentou:
Tempo de olhar para a esquerda. Rotular eleitores de Bolsonaro de ingênuos, racistas e dignos de pena, não ajuda em nada a entender o que houve com a esquerda. Tempos atrás, muitos desses eleitores também rotulavam eleitores de esquerda de forma pejorativa.
O que houve com o PT, o grande partido hegemônico de esquerda?
– Impeachment da Dilma
– Prisão do Lula
– Criminalização do partido
– Perda de 60% das prefeituras no país
– Não obrigatoriedade do imposto sindical, enfraquecendo um braço forte da esquerda.
– Perda das eleições presidenciais 2018.
Uma série de derrotas políticas!
Lula foi ouvido pela juíza substituta na semana passada, e não foi preciso mudar a rotina da cidade e nem ampliar o aparato de segurança. Onde estão as massas?
Lula fez um ato político em São Bernardo do Campo antes da sua prisão. Cadê os milhões na paulista?
Isso tudo e o NÃO SE CONSEGUIU mobilizar as massas.
Quando o pt nasceu, não tinha o poder político, mas, tinha base popular! Tinha os sindicatos!
O PT nasceu das bases. Nasceu dentro da esquerda católica dentro das chamadas comunidades eclesiais de base (CEBs). Sabem quantas comunidades eclesiais já existiram nos tempos áureos 100.000 CEBs. Os encontros nacionais essas comunidades enviavam 30.000 delegados. Nesse ano houve o mesmo evento e o número de delegados foram algo em torno de 3.000. O que houve?
Uma esquerda atordoada e que precisa pensar no que houve. Para recompor sua base. Essa guerrinha de #elenão #facismonão #ninguémsoltaamãodeninguém, o coiso…
Lamento, mas, não deu certo! Vai se insistir na mesma fórmula?
Então se prepare para 30 anos de direitismo no país! Levar para esse campo, é dar a vitória a eles!
Como disse José Dirceu: “Esse governo tem base popular”. Verdade! Se forem inteligentes, conquistarão o Nordeste, e aí…
Não omisso em 22/11/2018 - 22h14 comentou:
A democracia me dá a liberdade de fazer uma não escolha. Não votei no ruim e nem no pior. Minha decisão tem a mesma validade que a sua.
Erick Fonseca em 27/11/2018 - 22h20 comentou:
Votei contra o ódio, a burrice, a roubalheira. Por isso que votei no João Amoedo.
#QUEMMANDAÉA30
Giovana Silveira em 07/03/2019 - 22h42 comentou:
Belíssimo texto!
Tolerância é uma categoria mistificadora.
Hoje, quando se combate o racismo é automaticamente traduzido como um problema de tolerância. Martin Luther King nunca falou em tolerância, para ele o racismo contra os negros era um problema de exploração econômica, leis racistas etc. Hoje a questão é: você é negro, eu sou branco. Como nos toleramos? etc.
Isso é ridículo
ainda mais no feminismo, seria humilhantes uma mulher pedir mais tolerância por parte dos homens.
Sejamos contra o fascismo que percorre em nossas veias! (por enquanto)
Ângela Valério Horta de Siqueira em 09/04/2019 - 02h12 comentou:
Lamento não poder partilhar seus artigos que considero incríveis e que sei, muitos amigos adorariam lê-los.
O desmonte de país que essa coisa eleita dá continuidade e que foi preciso um golpe de estado para realizá-lo, cedo ou tarde afetará cada brasileiro, indiscriminadamente. Claro, os primeiros a sofrer as consequências, dá prá imaginar quem serão…
O crime praticado contra o Brasil por quanto tempo ficará impune?
Quando cairá a ficha dos boçalnatos?
Cynara Menezes em 09/04/2019 - 14h32 comentou:
por que não pode partilhar?