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Cultura

Machado de Xangô volta a ser símbolo da Fundação Cultural Palmares

Resgate do logo original foi celebrado nas redes sociais; marca havia sido trocada durante a gestão desastrosa do bolsonarista Sérgio Camargo

Margareth Menezes empossa João Jorge na Fundação Palmares com logo ao fundo. Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Da Redação
28 de abril de 2023, 17h19

Trocado por um símbolo genérico verde e amarelo durante a gestão desastrosa do bolsonarista Sérgio Camargo à frente do órgão, o machado do orixá Xangô voltou a ser parte da identidade visual da Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura, e está na fachada da entidade desde a última quarta-feira, 26 de abril. O anúncio foi feito nesta quinta, durante a posse do novo presidente da entidade, João Jorge Rodrigues, em Brasília.

“Essa entidade republicana tem sido perseguida nos últimos seis anos a ponto de pensarem em mudar o nome da fundação”, disse João Jorge em seu discurso. “Por que Zumbi não representa a Fundação? Por que o Quilombo dos Palmares não representa a Fundação? Por que a negritude não representa a Fundação? Se pensa que para a população negra avançar precisa de uma libertadora ou libertador. Então se atreveram a dizer que seria ‘Fundação Princesa Tal’. Não, é a Fundação Palmares.”

“O símbolo dessa Fundação é o símbolo de um machado. É o símbolo da Justiça, imaginado por vários povos africanos. Mas também é o símbolo de um poderoso orixá, o orixá Xangô. Ontem, para a honra e glória nossa, este símbolo voltou à Palmares”, comemorou João Jorge

Em janeiro do ano passado, Camargo, que chegou a retirar nomes da lista de personalidades negras da instituição por serem “de esquerda”, disse que pretendia mudar o nome da Palmares para Fundação Princesa Isabel, o que foi rechaçado por lideranças do movimento negro. Esta semana, os banidos por Camargo foram novamente inseridos na lista de personalidades negras da Fundação.

Nomes como os das cantora Alaíde Costa, Elza Soares, Leci Brandão e Sandra de Sá, dos cantores Gilberto Gil, Martinho da Vila e Milton Nascimento, das atrizes Léa Garcia e Zezé Motta, da escritora Conceição Evaristo e dos políticos Janete Pietá e Paulo Paim, entre outros, voltaram a compor a lista de homenageados da entidade.

Em dezembro de 2021, em mais uma retaliação aos negros de quem discordava politicamente e em uma atitude de franca intolerância religiosa, Sérgio Camargo decidiu trocar o machado de Xangô estilizado que compunha o logo da entidade desde sua criação, em 1988, pela nova marca, sem significado algum para o povo negro. Antes disso, havia lançado um concurso para a criação da nova marca, que revogou por não ter ficado satisfeito com o resultado.

O logo genérico de Sérgio Camargo

Ao ser nomeado por Lula, durante a transição, João Jorge havia prometido resgatar o machado de Xangô como símbolo da Palmares. “Sou filho de Xangô e as insígnias do orixá voltarão a Palmares, assim como o que tiver de qualquer outra religião. É liberdade religiosa e estado laico. Não é para ficar censurando nada”, disse, em entrevista ao jornal O Globo. E cumpriu sua promessa.

“O símbolo dessa Fundação é o símbolo de um machado”, disse João Jorge, emocionado, em sua posse. “É o símbolo da Justiça, imaginado por vários povos africanos, da África do Sul ao Egito, do Egito aos Camarões, da Gâmbia ao Senegal. Mas também é o símbolo de um poderoso orixá, o orixá Xangô.”

A marca resgatada nas redes sociais da Palmares

“Ontem, para a honra e glória nossa, este símbolo voltou à Palmares. Está estampado o machado com duas faces de todos que neste país andam querendo Justiça. O governo Lula, o ministério de Margareth Menezes têm um símbolo poderoso para lutar por justiça e por igualdade assim como nos países africanos. Nós venceremos essa luta!”

A ferramenta com duas lâminas é o símbolo principal de Xangô, orixá da Justiça, cultuado na umbanda e no candomblé, religiões de matriz africana. A arma representa o equilíbrio e a dualidade dos fatos. Nas redes sociais, personalidades negras comemoraram a volta do machado. “Muito feliz com a decisão de João Jorge, presidente da Fundação Palmares, de retomar o símbolo original da Fundação, o machado de Xangô”, publicou a deputada federal Erika Hilton, que havia questionado Sérgio Camargo na Justiça após a mudança.

“O símbolo da Justiça, do machado de Xangô, voltou à Fundação Cultural Palmares. Sem palavras para essa posse do João Jorge. Kaô kabecile! Ninguém maior que ele”, escreveu o professor e ativista Jonas Di Andrade, lembrando a saudação ao orixá.

“O machado de Xangô volta a ser a marca da Fundação Palmares. Viva a João Jorge pela retomada na missão institucional de respeito à ancestralidade e a tradição cultural do povo negro brasileiro”, comemorou o professor da pós-graduação em Comunicação da UFBA Rodrigo da Cunha.

Durante a posse, João Jorge contou que, ao chegar a Brasília, encontrou os retratos de seus antecessores no cargo jogados em um depósito pela administração Sérgio Camargo. “O quadro com a foto do ex-presidente Zulu Araújo estava quebrado, e tivemos que trazê-lo para outra sala”, contou, ressaltando que os funcionários resistiram à opressão, ao arbítrio, à perseguição moral e ao assédio. “Recentemente, um funcionário me entregou os tapetes com a marca de Xangô, que escondeu para não serem jogados fora.”

A ministra da Cultura, Margareth Menezes, que deu posse a João Jorge, disse que a nova presidência da Fundação Palmares é uma resposta ao que ocorreu na gestão passada. “É de um significado profundo e tem a ver com a Justiça do dono do machado para que a amargura e a ignorância nunca mais se sentem no trono, nem sobre o legado das políticas públicas desenvolvidas pela Fundação Palmares.”

João Jorge ressaltou que os funcionários da Fundação resistiram à opressão, ao arbítrio, à perseguição moral e ao assédio na gestão de Camargo. “Recentemente, um funcionário me entregou os tapetes com a marca de Xangô, que escondeu para não serem jogados fora”

“O movimento negro sonhou com uma sociedade menos desigual, onde o conceito de raça não fosse critério para desumanizar e escravizar homens e mulheres, e isso se projetou para o campo da cultura, na criação da Fundação Palmares”, disse a ministra.

Ao final da cerimônia, João Jorge Rodrigues afirmou que, como parte da retomada de suas atividades, a Fundação Cultural Palmares terá nova sede. “Haverá um novo lugar para pregar nossas insígnias, nossas coisas. Será lindo demais. Este é o futuro que chegou sem reclamação, olhando para a frente e com Xangô conosco.”

Com informações da Agência Brasil


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(3) comentários Escrever comentário

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Mario em 30/04/2023 - 18h08 comentou:

Parabéns Socialista Morena! Ótima matéria.

Responder

Caronte em 01/05/2023 - 17h02 comentou:

Uau, agora os negros estão bem… O machado de Xangô voltou para a Fundação Zumbi…

Como disse o Jorge, o Benjor, agora que o homem chegou a lua eu me sinto com direitos… Esse Jorge…ah, Jorge…

E segue a negrada achando que o problema é a cor da pele, tratando sintoma como causa do problema, retirando historicidade do capitalismo que gera as diferenças de classe, e dentro de cada classe, e tratando o “racismo” como um problema moral…

Resultado? Por mais que se criem cotas, ou que se tenha um olhar benevolente com a cor preta, o ritmo da criação da desigualdade os joga cada vez mais ladeira abaixo…

No fim, parece que os pretos só querem um lugar para agir como os brancos…de fato, é isso, como ensina Adolph Reed Jr…

Dá-lhe Oprah…

Responder

Caronte em 01/05/2023 - 17h06 comentou:

PS: embora alguns idiotas (espero que não se inclua aí a Cynara) digam que religião é um identidade específica para os negros e suas instituições, ficam as perguntas:

– Pode símbolo religioso em estado laico?

– E as denominações africanas correspondem a toda a raça negra no Brasil, isto é, todos os pretos batem cabeça no congá?

Que coisa horrorosa essa baianização da pretitude no Brasil, como se tudo fosse um arquétipo de umbanda e olodum…

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