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Naquela mesa está faltando ele… Que pena, Ciro!

Sem a inteligência emocional de Marina, o pedetista queimou todas as chances de se unir a um movimento que tanto precisa dele

Marina, Lula e Alckmin. Falta um. Foto: Ricardo Stuckert
Cynara Menezes
13 de setembro de 2022, 12h00

Nesta segunda-feira, dia 12 de setembro, aconteceu um reencontro histórico: a ex-petista Marina Silva declarou oficialmente seu apoio a Lula, após mais de uma década de estranhamentos, desde a escolha de Dilma Rousseff para a sucessão do então presidente. A ministra do Meio Ambiente e Dilma, ministra da Casa Civil, bateram de frente nos últimos anos do governo Lula, com suas visões opostas sobre desenvolvimentismo e preservação ambiental.

O tempo provou que Marina tinha razão, por exemplo, sobre Belo Monte: os impactos sobre o Xingu e as populações ribeirinhas não valeram a pena diante da baixa produção de energia. A ex-ministra também tinha queixas em relação à campanha publicitária de Dilma em 2014, que considerou “caluniosa e difamatória” contra a sua candidatura, que quase chegou ao segundo turno naquela eleição –e não teria sido melhor para o Brasil?

Em vez disso, passou o tucano Aécio Neves ao segundo turno e Marina acabou apoiando-o. Derrotado, Aécio levantaria suspeitas indevidas sobre as urnas eletrônicas, facilitando o caminho para o discurso que é hoje utilizado por Jair Bolsonaro.

Marina e Lula se abraçam. Foto: Ricardo Stuckert

Mas, nesta segunda-feira, os semblantes de Lula e Marina pareciam serenos, relaxados. O ex-presidente a abraçou e beijou na testa. Marina, generosa, retribuiu a afeição pública. Os dois se conhecem desde 1985, quando a jovem acriana Osmarina, aos 27 anos, se filiou ao PT, na trilha do mentor Chico Mendes. É honesto dizer que nestes anos todos o PT mudou mais que Marina, que permanece fiel a seus princípios de defensora da floresta e dos que nela habitam. E foi a mesma Marina Silva de sempre que deixou as mágoas para trás e abriu seu coração para Lula em nome da democracia e do Brasil.

“Nosso reencontro político e programático se dá diante de um quadro grave da história política, econômica, social e ambiental no nosso país”, afirmou Marina. “Temos uma ameaça que eu considero a ameaça das ameaças: a ameaça à nossa democracia. Sempre que a democracia é ameaçada há tentativa de corrosão do tecido social em todas as suas dimensões. E sempre que a gente está diante de propostas, atitudes e processos que constituem a possibilidade da banalização do mal, homens e mulheres se unem.”

“Temos uma ameaça que eu considero a ameaça das ameaças: a ameaça à nossa democracia. E sempre que a gente está diante de propostas, atitudes e processos que constituem a possibilidade da banalização do mal, homens e mulheres se unem”, disse Marina

“Sempre que surge diante de nós a possibilidade de banalizar o mal, brasileiros e brasileiras devem se unir em legítima defesa da democracia, em legítima defesa da Amazônia e dos demais biomas, em legítima defesa das mulheres, em legitima defesa dos mais pobres, em legítima defesa de um país que seja próspero, diverso, justo e sustentável. Nesse momento crucial da História, quem reúne as maiores e melhores condições para derrotar Bolsonaro e a semente maléfica do bolsonarismo que está se instalando no seio da sociedade é a sua candidatura”, disse a Lula.

Olhando as fotos de Ricardo Stuckert com os ocupantes da mesa da entrevista coletiva, impossível não lembrar da canção de Sérgio Bittencourt eternizada na voz de Nelson Gonçalves: “Naquela mesa está faltando ele…” Todos os candidatos progressistas de 2018 se uniram a Lula contra Bolsonaro nesta eleição: Guilherme Boulos, do PSOL, Geraldo Alckmin, do PSDB (hoje PSB) e agora Marina Silva. Falta um. É uma pena constatar que, sem a inteligência emocional de Marina, Ciro Gomes queimou todas as chances de se juntar a um movimento que tanto precisa dele.

No mesmo momento em que Marina, Lula e Alckmin confraternizavam em torno da ideia de reconciliação nacional, Ciro publicava um vídeo vociferando os maiores impropérios contra o ex-petista, de quem aliás foi ministro. Com as feições transtornadas, o pedetista chegou a acusar Lula de “cangaceirismo”, o que não deixa de ser contraditório para um nordestino que, quando é chamado de “coroné” pelos petistas, reclama de “xenofobia”. De tão virulento, o vídeo foi compartilhado pelo ministro das Comunicações de Bolsonaro, Fabio Faria, uma repercussão que se tornou frequente nesta eleição.

Ciro tentou instigar Marina contra Lula até o último momento, acusando o PT pela campanha de 2014 sem mencionar que o cérebro por trás daquela estratégia equivocada é o mesmo da sua, o publicitário João Santana. Marina Silva inclusive lamentou quando o pedetista contratou o marqueteiro. “João Santana representa a antítese do debate, é a política vista como um produto a ser vendido a qualquer custo e sem limite ético”, disse. “Digo isso com conhecimento de causa por ter sido vítima desse tipo de estratégia em 2014, em ataques do PT, produzidos e operacionalizados por Santana. Portanto, jamais cometeria a incoerência de aceitar trabalhar com ele.”

Ciro, que sempre foi a segunda opção dos eleitores de Lula, cada vez mais se torna a segunda opção dos eleitores de Bolsonaro. Em vez de se preocupar com o Brasil, quer apenas ter razão. Parece torcer pela derrota de Lula para dizer que estava certo

É uma pena que tanto Ciro quanto seu marqueteiro tenham decidido se guiar pelo rancor nesta eleição. A “estratégia” de emular Bolsonaro nas críticas a Lula não rendeu nem um só voto mais ao candidato do PDT nas pesquisas, nas quais se mostrou incapaz até agora de atingir os dois dígitos. O que de fato aconteceu é que Ciro, que sempre foi a segunda opção de voto dos eleitores de Lula, cada vez mais se torna a segunda opção dos eleitores de Bolsonaro.

Triste constatar que, ao invés de se preocupar com o futuro do Brasil, Ciro quer apenas ter razão. Parece torcer para que Lula seja derrotado por Bolsonaro para dizer que estava certo. Marina Silva fez o caminho oposto, ao deixar as divergências de lado em nome do país e da democracia. O rancor é péssimo conselheiro. Ainda há tempo de Ciro Gomes descobrir isso?

 

 

 

 


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Eugênio BH em 13/09/2022 - 19h20 comentou:

Se tudo der errado e o pior desastre acontecer (toc, toc, toc), a culpa será do cearense, transformado em transtornado egoísta odiento..

Mas há um deslize no texto, a belezura total de “Naquela mesa tá faltando ele…” é de autoria do Sérgio Bittencourt, que a escreveu em homenagem ao pai, Jacob do Bandolim, morto em 1969.

A Elizeth Cardoso e o Nelson Gonçalves eternizaram a canção naqueles anos de chumbo, que curiosamente em muito enriqueceram a MPB.

País maluco.

Responder

    Cynara Menezes em 14/09/2022 - 18h58 comentou:

    sim, foi corrigido, obrigada

Bernardo Melo em 14/09/2022 - 06h35 comentou:

Narcisismo ou Grana ?
CIRO GOMES perdeu -se e como serpente enfurecida mantém a língua tremulando em busca de uma picada fatal .
Esqueceu que o voto útil contra o inútil será o golpe de misericórdia contra os milicianos e os verdes , ambos lambuzados por crimes .
Duas semanas nos separam de uma vitória fantástica da DEMOCRACIA sobre o ARBITRIO .
Quanto ao choro dos derrotados aguardaremos os fatos , oxalá não ocorram escaramuças TRUMPEIRAS .

Responder

felipe puxirum em 14/09/2022 - 13h29 comentou:

forças armadas e do atraso:
berço da covardia nacional
mão da impunidade e braço
da tortura entreguista e real
triste de nós sob esse asco
feliz só o império do capital
defendido por servil carrasco
escravocrata e neo-colonial
dentro da farda sendo fardo
em desonra e escárnio dual

Responder

Rodrigo Coelho em 18/09/2022 - 03h11 comentou:

Pelo jeito, o Ciro não é um verdadeiro democrata e talvez nunca tenha sido realmente um político de centro-esquerda. O que ele tentou foi conquistar os eleitores do Lula na época da prisão, colocando-se como progressista: xingava o Sérgio Moro e chamava o impeachment de golpe; como considerava o Haddad um político fraco para chegar ao segundo turno, dada a forte onda antipetista que varria o Brasil, não aceitou ser vice e depois foi para Paris, já bravinho.. Em todo aquele jogo de cena, eu me lembro, havia um riso no canto da boca. Por ele, sabe-se agora, Lula pegaria prisão perpétua…

Esses ataques covardes e mentirosos contra o Lula fazem do Ciro um tipo mais nojento do que o Bolsonaro, porque ao menos este é um inimigo autêntico. Ciro é mais falso do que o casamento do brochável. É uma falsidade que assusta: ele é capaz de dar gargalhadas das piadas machistas e agressivas do Bolsonaro e dizer na Jovem Pan que o Emílio Surita tinha razão em temer o socialismo. Depois, vem com papinho de renda mínina com o carimbo do Suplicy!

O perigo de um homem desse na presidência é que ele pode rasgar seu plano de governo, fazer totalmente o contrário do que disse na campanha e acusar quem o cobra de estar caluniando-o.

Passou batido uma rápida resposta que ele deu para um jornalista da Folha nesta semana, sobre a previdência social, e ele mencionou uma reforma onde já aparece a CAPITALIZAÇÃO, bem ao estilo Paulo Gurdes

Esse é o “Cirão da massa”… Assustador.

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