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O “gravatagate”: como a mídia comercial alimenta o bolsonarismo nas redes

A "grande" imprensa brasileira usou Lula para se livrar de Jair Bolsonaro, mas já voltou ao modo "PIG"de ser

Lula, de gravata nova, com o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. Foto: Ricardo Stuckert/PR
Cynara Menezes
25 de abril de 2023, 19h06

Não houve “lua-de-mel” entre Lula e a mídia comercial, aquela que milita pelo interesse dos ricos e do mercado financeiro. Desde que assumiu o cargo, em 1º de janeiro, que o novo presidente não tem trégua dos jornais, seja qual for o tema: uma hora tentam criar intrigas com a China por conta da taxação às empresas estrangeiras, noutra apostam na inimizade com os EUA porque Lula quer promover a paz entre Rússia e Ucrânia. Não dá para entender: é o isolamento do país que a imprensa brasileira quer? Ou seja, está com saudades de Bolsonaro?

A sabotagem midática ao governo Lula mais uma vez alimenta as narrativas da extrema direita nas redes sociais, como ficou evidente na manipulação, pela CNN, dos vídeos da invasão ao palácio pelos golpistas em 8 de janeiro. A TV atendeu, sem o menor pudor, o objetivo explícito dos bolsonaristas de derrubar o ministro do GSI

Uma coisa é certa: a sabotagem midática ao governo Lula está mais uma vez alimentando as narrativas da extrema direita nas redes sociais. Os sinais são gritantes, como ficou evidente na manipulação, pela CNN Brasil, dos vídeos da invasão ao palácio pelos golpistas em 8 de janeiro. A TV atendeu, sem o menor pudor, o objetivo explícito dos bolsonaristas de derrubar o ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general G.Dias.

Mas nada é mais flagrante do funcionamento da mídia comercial como mola propulsora do bolsonarismo nas redes do que a perseguição provinciana e machista a Janja, a primeira-dama. Transformaram em escândalo o fato de Janja comprar, com seu próprio dinheiro, uma gravata de grife para o marido, presidente da República de uma das maiores economias do mundo.

O legendário preconceito de classe dos jornais brasileiros para com Lula está de volta com força total. A mesma mídia que, em 2002, atacava o presidente eleito por ter comemorado a vitória com um vinho francês, por não falar inglês e que torcia o nariz para os ternos bem cortados da grife Ricardo Almeida usados por Lula, voltou à carga: gravata da Hermenegildo Zegna? Um ex-metalúrgico? Ah, isso não pode.

Gravata chique só quem podia usar era Fernando Henrique Cardoso, o “príncipe da sociologia”. Em março de 1994, já pré-candidato à presidência, o então ministro da Fazenda foi a uma loja de Nova York com a mulher, dona Ruth, e comprou um terno novo e uma gravata de seda na esquina da Park Avenue com rua 57, um dos endereços mais elegantes de Manhattan. Saiu na imprensa? Saiu: uma nota perdida num pé de página. As gravatas de FHC, todas de grife, como a francesa Kenzo, nunca mereceram nada além de uma nota de rodapé ou de coluna social.

A gravata comprada por Janja para o marido saiu na primeira página da Folha de S.Paulo como se fosse algo escandaloso, e ofuscou os 14 acordos que o presidente assinou em Portugal. Não fosse por Chico Buarque mostrar, em seu discurso ao receber o prêmio Camões, o ridículo da coisa, escancarando a jequice da mídia brasileira, e o gravatagate poderia chegar até, quem sabe, a uma CPI, como aconteceu tempos atrás com uma tapioca –sendo que Janja pagou o mimo, repito, com seu próprio dinheiro, não com cartão corporativo.

A mídia comercial está fazendo de tudo para que o governo não dê certo, pouco importa que o Brasil afunde junto. Desde o golpe contra Dilma, a imprensa brasileira demonstrou de sobra seu desamor pelo país. Não é à toa que se comporta como o cocho onde o gado bolsonarista se alimenta

O presidente do Brasil não pode usar uma gravata boa? O complexo de vira-latas da mídia comercial alcança os píncaros quando se trata de atacar Lula. É como se nosso país fosse uma nação de terceira cujo líder só pode se vestir com roupas de terceira. O mais revoltante é que quando colocou um isopor na cabeça nas férias ou quando Marisa Letícia pediu que convidados levassem pratinhos para uma festa de São João na Granja do Torto… também foi criticado como “brega” e “cafona”.

Mas não é só em fofocas mesquinhas que a mídia comercial envolve Janja para dar corda ao bolsonarismo nas redes sociais. Agora são as matérias sobre uma suposta influência da primeira-dama na saída do general G.Dias do GSI. Nos últimos dias, O Globo e o Estadão fizeram “reportagens” praticamente idênticas onde afirmam, sem nenhuma aspa para comprovar, que foi Janja quem exigiu a cabeça do general. “De recuo da taxação na Shein até a queda de GDias: Janja amplia influência em decisões de Lula”, publicou o jornal dos Marinho no dia 22.

Gravata chique só quem podia usar era FHC, o “príncipe da sociologia”. Não fosse por Chico mostrar escancarar a jequice da mídia brasileira em seu discurso, e o “gravatagate” poderia chegar até, quem sabe, a uma CPI, como aconteceu tempos atrás com uma tapioca

Dois dias depois, o Estadão sapecou em manchete: “Queda do general G. Dias mostra Janja no centro das decisões no Palácio do Planalto”. Quem plantou notícias tão semelhantes? Segundo o jornal dos Mesquita, o ministro deixou o GSI “por interferência da primeira-dama”, cuja “antipatia pelo general era conhecida por petistas desde a campanha de 2022”. Segundo o jornal dos Mesquita, mesmo assim G.Dias “se tornou o único homem de confiança de Lula a superar as cabalas de Janja e a obter um lugar no palácio”. E o que seriam exatamente as “cabalas de Janja”? Preconceito religioso?

Obviamente todo esse ataque do “jornalismo profissional” a Janja se reflete, nas redes, em misoginia pura por parte dos bolsonaristas, em mais preconceito de classe, e em fake news. É um ciclo vicioso que começou lá atrás; pelo visto não aprenderam nada após patrocinar o golpe contra Dilma. Menos mal que, no caso da gravata, tivemos Chico Buarque para mostrar a tremenda mesquinharia, a pobreza de espírito suprema da nossa imprensa. Ao receber o Camões, Chico zoou: “minha esposa Carol Proner saiu para comprar essa gravata para mim”…

A verdade é que a mídia comercial usou Lula para se livrar de Bolsonaro. Agora que já se livrou do capitão boquirroto, volta ao modo PIG de ser, fazendo de tudo para que o governo não dê certo, e pouco importa que o Brasil afunde junto. Desde o golpe contra Dilma, a imprensa brasileira demonstrou de sobra seu desamor pelo país. Não é à toa que se comporta como o cocho onde o gado bolsonarista se alimenta.

 

 


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(4) comentários Escrever comentário

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Loira Capitalista em 25/04/2023 - 22h48 comentou:

https://www.youtube.com/watch?v=AadTy-2jQH0

Bem feito !!!! Carma !

Ano passado ele falou que a classe média brasileira (pobre na verdade) ostentava…blá…blá…blá e que comprava mais de uma TV ! Imagina, eu trabalho e um político vem me dizer o que eu posso ou não posso fazer com meu suado dinheiro.

Responder

Maria Clara em 26/04/2023 - 18h47 comentou:

Oi Cy!!!

Fui procurar sua lojinha e nao consegui encontrar. Pode me passar o link, por gentileza?

Responder

    Cynara Menezes em 26/04/2023 - 22h05 comentou:

    não há mais loja, ficamos só no jornalismo mesmo

Luís Carlos Kerber em 27/04/2023 - 11h03 comentou:

A imprensa brasileira sempre foi contra Lula (só engoliu o Lula para tirar o genocida Bozo do poder, justamente colocado no poder pela própria imprensa brasileira, que patrocinou o golpe contra a Dilma e os ataques contra os partidos de esquerda). A nossa imprensa elitista e sem vergonha na cara sempre foi entreguista e anti-povo. A imprensa brasileira, denominada PIG, sempre teve complexo de vira-lata.

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