Socialista Morena
Kapital

ONU ataca rentismo das corporações: “um mundo de lucros sem prosperidade”

Nações Unidas criticam que o crescimento do controle dos mercados pelas grandes empresas não é proporcional ao crescimento do emprego e contribui para o aumento da desigualdade

A meia dúzia de empresas que domina o mundo
Da Redação
19 de setembro de 2017, 22h15

Um novo relatório da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) critica as grandes corporações por inflarem seus lucros pela manipulação das regras do jogo. A crise de 2008 expôs essas práticas nos mercados financeiros; o uso dos paraísos fiscais por parte do 1% mais rico é fato conhecido. Contudo, tais práticas também têm se estendido a setores não financeiros. E os rendimentos derivados dessas práticas têm aumentado a desigualdade, “em um mundo onde o vencedor leva (quase) tudo”, diz o documento.

Para impedir que esse ciclo saia do controle, o secretário-geral da UNCTAD, Mukhisa Kituyi, defende que as autoridades, nos planos nacional e internacional, devem resgatar que o conhecimento e a concorrência voltem a ser considerados “bens públicos”. As declarações foram feitas no lançamento do Trade and Development Report, 2017: Beyond Austerity – Towards a Global New Deal (Relatório de Comércio e Desenvolvimento 2017: para além da austeridade –rumo a um novo pacto global).

O documento critica que o crescimento do controle dos mercados pelas grandes empresas não esteja sendo proporcional ao crescimento do emprego por elas oferecido. Medida pela capitalização de mercado, a participação das 100 maiores empresas quadruplicou, mas sua participação no emprego apenas dobrou. “Estamos enfrentando um mundo de ‘lucros sem prosperidade’, onde o poder de mercado assimétrico é um fator que contribui fortemente para a desigualdade de renda”, disse Kituyi.

Em 1995, a capitalização de mercado das 100 maiores empresas globais era 31 vezes maior que a das 2 mil empresas no piso da pirâmide; 20 anos depois, passou a ser 7 mil vezes maior

Por meio de uma análise de dados de companhias não financeiras em 56 países desenvolvidos e em desenvolvimento, o relatório mostrou que os ganhadores levam (quase) tudo. Entre 1995 e 2015, os lucros “extraordinários” (lucros que não decorrem das atividades centrais da empresa) passaram de 4% para 23% do lucro total do conjunto das empresas, e de 19% para 40% nas 100 maiores empresas. Em 1995, a capitalização de mercado das 100 maiores empresas globais era 31 vezes maior que a das 2 mil empresas no piso da pirâmide; 20 anos depois, passou a ser 7 mil vezes maior.

Os economistas da UNCTAD constataram que grandes empresas de países emergentes começaram a se tornar globais, em grande parte devido ao boom de seus mercados domésticos. Contudo, as empresas de países desenvolvidos ainda dominam, particularmente em setores de alta lucratividade como medicamentos, mídia e tecnologia da informação e comunicação, respondendo pela maior parte das remessas internacionais de lucros.

 

Segundo o relatório, monopólios naturais decorrentes de avanços tecnológicos são apenas uma pequena parte da história. As chamadas superstar firms devem seus impérios tanto às proezas tecnológicas quanto à ineficiência da legislação antitruste, à excessiva proteção da propriedade intelectual e às agressivas estratégias de fusão e aquisição.

Um círculo vicioso em que poder de mercado gera poder de lobby deu legitimidade ao submundo do “rentismo” empresarial, contribuindo sistematicamente para o aumento das desigualdades de renda

Com base em dados de filiais de empresas norte-americanas no Brasil, na China e na Índia, o relatório mostra que, em três setores intensivos em tecnologia (tecnologias da informação e comunicação, químico e farmacêutico), o aumento da proteção por patentes está associado à crescente rentabilidade das filiais, deixando para trás as empresas locais.

Elisão fiscal, liquidações de ativos públicos, subsídios públicos para grandes corporações e recompras de ações têm oferecido novas oportunidades de rentabilidade e aumentado a remuneração de diretores-executivos.

De acordo com o relatório, um círculo vicioso em que poder de mercado gera poder de lobby deu legitimidade ao submundo do “rentismo” empresarial (corporate rent-seeking), contribuindo sistematicamente para o aumento das desigualdades de renda e para os desequilíbrios de poder na economia global.

Do site da ONU

 


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
(2) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Rodrigo Dias em 19/09/2017 - 23h11 comentou:

E a grande mídia até agora nem um pio sobre a notícia…

Responder

Vicente Jouclas em 03/01/2018 - 14h50 comentou:

Pois é, estudiosa Morena; o dia em que se comer salada de dólares …

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Kapital

Horrores do capitalismo: os caras no Japão que moram em cabines de cibercafés


A pobreza não pára de crescer no Japão, quarta economia do planeta. Hoje, um em cada seis japoneses vive em condição de pobreza relativa

Politik

Dois velhinhos previram a crise espanhola em 2007


Que economistas que nada! Dois velhinhos do diminuto povoado de Valdegeña, com 44 habitantes, na província de Soria, previram a crise que atinge a Espanha com cinco anos de antecipação. Entre várias críticas à bolha…