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Maconha

A maconha é uma nova commodity

Uma das coisas que me espantam no capitalismo, sobretudo o brasileiro, é a absoluta falta de criatividade. Se depender do sistema, nem mesmo as maneiras de se fazer dinheiro se renovarão. Vejam o caso das commodities: elas são praticamente as mesmas desde que o mundo é mundo: agricultura (leia-se grãos), pecuária, mineração, petróleo… Nada de […]

Cynara Menezes
22 de junho de 2016, 17h56
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(“Faça a economia crescer; legalize e cobre impostos”)

Uma das coisas que me espantam no capitalismo, sobretudo o brasileiro, é a absoluta falta de criatividade. Se depender do sistema, nem mesmo as maneiras de se fazer dinheiro se renovarão. Vejam o caso das commodities: elas são praticamente as mesmas desde que o mundo é mundo: agricultura (leia-se grãos), pecuária, mineração, petróleo… Nada de novo sob o sol.

As principais commodities brasileiras, por exemplo, não se renovam desde a época do coronelismo (ou talvez essa época nunca tenha passado): já foram borracha, café e banana; hoje são soja, minério de ferro, petróleo e carne. Para começo de conversa, esta é uma maneira ultrapassada de enxergar a economia, porque todas estas commodities são nocivas ao meio ambiente. Vão contra a “sustentabilidade”, para usar uma palavra tão ao gosto dos capitalistas “modernos”.

Mas o caso é que essas commodities do tempo da onça são responsáveis por 65% de nossas exportações. Se o capitalismo tivesse se modernizado de verdade, já existiriam outras, não? Ou será que o fato de as commodities, as mercadorias que movem os mercados, continuarem idênticas há pelo menos 100 anos é uma prova concreta da estagnação do capitalismo?

A economia do planeta está frequentemente em crise. São crises cíclicas, ao que tudo indica inerentes ao sistema. E o que acontece em momentos de crise como o que vive o Brasil agora? Trabalhadores são demitidos e são feitos cortes nos programas sociais dos governos. Não muda, é sempre esta equação em toda parte: quando vem a crise, quem paga o pato são os que mais precisam e não quem mais dinheiro tem. Mais grave: NADA no sistema se altera. É assim com as commodities: aconteça o que acontecer, o Brasil sempre exportará soja. Ou seja, nós alimentamos um sistema falido, obsoleto, arcaico.

Por que não modernizar o sistema, pelo menos? Promover novas commodities pode ser uma solução. Uma delas: os produtos orgânicos são um mercado em ascensão no mundo e movimentam cerca de 80 bilhões de dólares anualmente. Para se ter uma ideia, mesmo com o Brasil em crise, nosso minúsculo mercado de orgânicos cresceu 25% em 2015. Insistimos em soja, algodão e milho, quando também poderíamos estar também exportando orgânicos. Somos campeões em agrotóxicos e lanterninhas em orgânicos.

Quando se fala em orgânicos, há gente até na esquerda que torce o nariz: “Ah, mas não vai ter comida para todo mundo se não houver agrotóxico”. Mentira. Primeiro que isso seria uma negação à premissa máxima do capitalismo, a lei da oferta e da procura. Se há procura, haverá oferta. E segundo porque somos um país de dimensões continentais, existe espaço para alimentos com e sem agrotóxicos -sendo que estes últimos representam o passado e os orgânicos, o futuro.

Vejam o caso do Canadá, um país enorme como o nosso, que é o quarto mercado mundial em orgânicos. Em março, o país fechou um acordo de equivalência com a União Europeia que tornará possível a exportação dos produtos orgânicos canadenses. No Brasil, um acordo semelhante está parado desde 2007 e não existem nem sequer números oficiais sobre a produção e a comercialização de orgânicos. Este é um número que tem muito mais a ver com os tempos em que vivemos: 59% dos canadenses estão conscientes de que plantar orgânicos é melhor para o meio ambiente. Isso se chama visão de futuro.

Outra clara commodity do mundo em que vivemos é a maconha. De acordo com um estudo recente elaborado por técnicos da Câmara Federal a pedido do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), a legalização da maconha poderia render ao Brasil cerca de 6 bilhões de reais apenas em impostos -um cálculo feito por baixo, levando em consideração que apenas 2,7 milhões de brasileiros fumam maconha recreativamente, um número claramente subestimado (nos EUA são mais de 20 milhões). O país também economizaria quase 1 bilhão de reais no sistema prisional se não ocorressem prisões relacionadas à maconha.

Nos Estados Unidos, onde foi liberada para uso medicinal em 25 Estados e para uso também recreativo em quatro, a maconha é considerada uma nova commodity quente pelos especialistas na bolsa de valores, prejudicada pelo fato de ainda ser proibida nos demais. Por lá, a expectativa é de que em 2016 a maconha legal movimente 6,7 bilhões de dólares. Se fosse legalizada no país inteiro, projeções apontam que poderia alcançar quase 22 bilhões de dólares em 2020.

Imaginem no Brasil a produção enorme de maconha que teríamos: todos sabem que a cannabis cresce que é uma maravilha no sertão nordestino, e olha que na criminalidade, sem nenhuma técnica agrícola moderna… Detalhe: maconha não é só a que contém THC e “dá barato”; a fibra também pode ser usada na fabricação de dezenas de produtos. Infelizmente, em nosso país a discussão sobre a legalização da maconha é interditada pela lógica eleitoreira que favorece os acordos com o pensamento retrógrado tanto de fundamentalistas evangélicos quanto de ruralistas (não raramente aliados no Congresso Nacional).

Até os nossos capitalistas são mais atrasados do que os outros.

 


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