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Com o Geraldo, com tudo: 2022 é o ano do grande conciliador Lula

Não é hora de gourmetizar apoios; quando se está à beira de um precipício, não se rejeita uma mão estendida

Alckmin e Lula em seu primeiro encontro oficial, no jantar do grupo Prerrogativas. Foto: Ricardo Stuckert
Cynara Menezes
24 de dezembro de 2021, 10h55

Durante os anos em que esteve no poder, Lula foi ao mesmo tempo acusado pela mídia comercial de “incentivar a polarização” e criticado por parte da esquerda por “conciliar demais”. O tempo não só mostrou que a tal “polarização” entre PSDB e PT era melhor para o país do que a real divisão em que caímos graças ao furibundo antipetismo encabeçado pela própria mídia, como mostrou que o poder de conciliação de Lula não era um defeito, mas talvez a sua maior qualidade –e o Brasil necessita muito dela agora.

Teremos todos que dar alguns passos atrás para poder caminhar para a frente. Para concretizar uma mais que desejável vitória no primeiro turno, impedindo assim um embate violento com os fascistas no segundo, é preciso deixar as mágoas de lado e ser estratégico

2022 é o ano em que Lula, o candidato favorito do povo, terá que exercitar o seu talento como conciliador. Para isso, teremos todos que dar alguns passos atrás para poder caminhar para a frente. Não é hora de gourmetizar apoios. Quando se está à beira de um precipício, não dá para rejeitar uma mão estendida. A aliança primordial é entre PT, PSB, PCdoB e PSOL; entre nós não pode mais haver briga. Mas quem quiser vir junto é bem-vindo e bem-vinda. Para concretizar uma mais que desejável vitória no primeiro turno, impedindo assim um embate violento com os fascistas no segundo, é preciso deixar as mágoas de lado e ser estratégico. O rancor é um péssimo conselheiro.

A principal meta para o próximo ano é tirar Bolsonaro do Planalto e recolocar nosso país descarrilado de volta nos trilhos da democracia. E não é preciso ser um gênio da política (como Lula) para perceber que o melhor e mais seguro caminho para lograr isso é uma grande conciliação nacional. “Com o Geraldo, com tudo”, eu diria para os que hoje torcem o nariz a uma possível aliança com o ex-tucano, que seria candidato a vice do petista. E que se preparem os que ainda estão iludidos com a possibilidade de uma chapa “puro sangue”, como se fosse algo racional neste momento: Alckmin, se vier, será só o primeiro.

A partir de 2023, tendo afastado o bode maligno da sala, poderemos nos dar ao luxo de divergir em torno de privatizações, autonomia do banco Central e outras miudezas novamente. Contra Bolsonaro não divergimos entre projetos de país, mas, desculpem o clichê, entre barbárie e civilização

Uma conciliação ideal incluiria Ciro Gomes, Marina Silva e não se surpreendam se Lula atrair ex-entusiasmados defensores do golpe contra Dilma Rousseff ou ex-apoiadores de Bolsonaro. Para arrancar o Brasil dos braços do fascismo, vamos ter que engolir alguns sapos –não é esta a própria definição de política, “a arte de engolir sapos”? A partir de 2023, tendo afastado o bode maligno da sala, poderemos nos dar ao luxo de divergir em torno de privatizações, autonomia do banco Central e outras filigranas novamente. Contra Bolsonaro não divergimos entre projetos de país, mas, desculpem o clichê, entre barbárie e civilização. O povo tem fome e tem pressa.

Ao lado de Lula cabe quase todo brasileiro progressista capaz de reconhecer, em que pesem as divergências, que durante os seus dois mandatos o Brasil foi muito mais feliz do que agora, e que confie em Lula como o cara com reais condições de livrar o Brasil de Bolsonaro. O único erro que o ex-presidente não pode cometer é voltar a se aliar com os pastores vendilhões do templo, inimigos da democracia tanto quanto o ocupante do Planalto a quem apoiam ferozmente. Lula precisa falar diretamente com os fiéis evangélicos, e se aliar a pastores progressistas.

O único erro que o ex-presidente não pode cometer é voltar a se aliar com os pastores vendilhões do templo, inimigos da democracia tanto quanto o ocupante do Planalto a quem apoiam ferozmente. Lula precisa falar diretamente com os fiéis evangélicos, e se aliar a pastores progressistas

Vejo parte da esquerda pintando o ex-tucano como se fosse o diabo na Terra, alguém que seria capaz de perpetrar um novo golpe contra o PT se ocupasse a vice. Ora, para quem votou duas vezes em Michel Temer como vice de Dilma, me parece um tanto risível dizer que não votará em Lula se o vice for Alckmin. E vamos ser francos? Ainda que ele desse um golpe e ocupasse a presidência seria melhor do que ter Bolsonaro no Planalto até 2026. Parece que muita gente ainda não se deu conta do grave momento que vivemos.

Em fevereiro de 2002, numa situação muito menos problemática para o país do que agora, Lula escolheu o empresário mineiro José Alencar para ocupar a vice na sua chapa numa até então improvável aliança com o PL, e a grita também foi geral entre a militância e dentro do partido. No dia da convenção, em junho, militantes distribuíam panfletos na porta do Palácio do Anhembi contra o vice: “Empresário bem sucedido é sinônimo de explorador competente”. Deputados propuseram até um plebiscito para decidir se a chapa deveria ser aprovada ou não.

Vejo parte da esquerda pintando o ex-tucano como o diabo na Terra, capaz de perpetrar um novo golpe. Ora, para quem votou duas vezes em Temer como vice de Dilma, me parece um tanto risível torcer o nariz para Alckmin. E vamos ser francos? Ainda que ele desse um golpe seria melhor do que Bolsonaro

Escaldado por três eleições em que foi sabotado pelas elites e derrotado, Lula não estava disposto a perder a quarta eleição, e fincou pé em defesa da aliança e do vice. “Assim nunca ganharemos uma eleição. Eu quero ganhar”, dizia Lula. Importante ressaltar que se unir ao PL significava ainda apoiar o bispo da Igreja Universal Marcelo Crivella para o Senado no Rio de Janeiro… Enquanto a militância e membros do partido chiavam, Lula se derretia por Alencar: “Estamos igual a Romeu e Julieta. Já nos declaramos amor eterno, mas precisamos da aprovação de nossos pares”.

Lula foi eleito e, oito anos mais tarde, José Alencar só não desceu a rampa aclamado por todos ao lado do presidente que se despedia porque estava hospitalizado, com o câncer que o mataria meses depois. “O Zé Alencar foi o melhor vice que um presidente podia ter no planeta Terra”, disse o petista em 2017.

A diferença é que, naquela época, o principal objetivo de Lula ao fazer alianças consideradas “esdrúxulas” para um partido de esquerda era ganhar a eleição e, depois, conseguir governar e aprovar seus projetos no Congresso. Hoje o principal objetivo de Lula é salvar o Brasil.

Feliz 2022 a todos e todas.

 


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Eldemar de Souza em 24/12/2021 - 21h33 comentou:

Análise brilhante!

Parabéns e Feliz Natal!!!

#Lula 2022!

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Luís Carlos Kerber em 26/12/2021 - 20h12 comentou:

Precisamos eleger Lula Presidente (e temos que engolir um sapo tucano), mas também temos que eleger um Legislativo nacionalista, progressista e de esquerda, pois para poder desfazer todas as perdas sociais, econômicas e ambientais, é mais que necessário enterrar esse atual centrão da bala, da bíblia e do agronegócio devastador para colocar sindicalistas, progressistas, ambientalistas, lgtbs, nacionalistas e muita gente de esquerda no Congresso Nacional.

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Eric Souza dos Santos em 03/01/2022 - 13h37 comentou:

Texto lúcido, maravilhoso, Cynara. Você escreveu tudo que eu não conseguia elaborar em palavras, só conseguia sentir. Obrigado!

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Bernardo Santos Melo em 03/01/2022 - 19h15 comentou:

Não !
Alckmim Presidente ?
Um novo SARNEY e um novo Tancredo ?
Certo mesmo é que o único PROJETOde longo prazo até agora apresentado ,somente Ciro Gomes o fez , contudo quem desagrada a Casa Grande NÃO tem como ser eleito , não convém à elite financeira e nem ao PT do agora honesto LULA .
Seguiremos desiguais , subalternos aos EUA e aumentando uma desavergonhada concentração de renda .
BRASIL CENTRÃO seguirá destruindo o que Getúlio e Geisel construíram , talvez num futuro longíquo nosso país encontre um destino menos cretino , por enquanto só miséria , corrupção , milicada vendida , familícia , privatização vergonhosa é safadeza geral .

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Fabio P. R. em 05/01/2022 - 11h58 comentou:

Geisel???

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Bernardo Santos Melo em 08/01/2022 - 09h57 comentou:

Quero ver a grande Cynara fazendo um texto sobre a entrega do sonho de Lobato , a entrega da Petrobras , do Pré Sal e fim dos planos de Educar nosso povo humilde com os lucros do Petróleo .

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paulo erley veiga leal em 11/01/2022 - 13h19 comentou:

pois é!
conciliação, onde foi que o povo ganhou algo com conciliação?
se há uma conciliação é com o POVO, verdadeiro POVO e não as elites de sempre.
não tenhamos medo de ir a rua e conclamar o povo e caso eleito governar para o povo.
a mas dirão – se não fizer acordo como governar com o congresso? Simples, chame o povo a decidir o que deseja, façam assembleias populares, orçamentos participativos e outras inúmeras ideias, quero ver o congresso dizer não. Governar com o povo e não para os banqueiros.
“A partir de 2023, tendo afastado o bode maligno da sala” olha só a velha estória do bode, o problema continuará depois do bode sair. deixa disto minha garota cynara! já te tive por mais inteligente.

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paulo erley veiga leal em 11/01/2022 - 13h29 comentou:

ciro, como diria brizola, filhote da “ditabranda”, nasceu na arena e na arena se encontra de cabeça, só o corpo está fora!

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Sergio Vauduro em 27/01/2022 - 12h20 comentou:

Achei que encontraria aqui, nas palavras da Cynara, uma postura lúcida e coerente descrevendo essa apunhalada nas costas dos que lutam por uma sociedade mais justa e igualitária, mas infelizmente acabo de me decepcionar mais uma vez com a capacidade humana de não se precaver de explícitas tragédias.
Que bom que a cada dia que passa recebo combustível para comprar meu sítio e me isolar dessa toxicidade que vem contaminando e ajudando a desmoronar a sociedade brasileira, e com a ajuda de quem menos eu esperaria.

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