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Cultura

Dicas literárias para um Natal vermelho (sétima edição)

Mais infalíveis que o tio do pavê ou o primo bolsonarista, todo Natal tem as dicas do site para você presentear amigos e parentes com inteligência

Cynara Menezes
21 de dezembro de 2018, 15h17

Mais infalíveis que o tio do pavê ou o primo bolsonarista, todo Natal tem as dicas literárias do site para você presentear os amigos com inteligência. Confira as dicas anteriores aqui.

Este ano as megalivrarias Saraiva e Cultura anunciaram problemas financeiros e até fechamento de lojas por conta de seu modelo de negócio equivocado. Ambas estão dando calote nas editoras, a quem devem 325 milhões de reais. Portanto, escolha comprar os livros direto das editoras, em sebos ou nas pequenas livrarias.

São livros e HQs que li ou que também estão na minha lista pessoal para ler em 2019… A literatura vai nos salvar muito nestes tempos sombrios, aposto. Esta lista pode ser atualizada a qualquer momento até o Natal e também durante as férias de janeiro. Feliz Natal e Lula Livre!

NÃO-FICÇÃO

Zé Dirceu – Memórias (volume 1) –Mesmo seus mais ferrenhos inimigos seriam incapazes de negar que a história do mineiro de Passa-Quatro José Dirceu de Oliveira e Silva se cruza com a história do Brasil dos últimos 50 anos. O primeiro volume, lançado em agosto, começa com sua infância na pequena cidade mineira e acaba em 2006, quando Zé Dirceu é condenado pelo processo do “mensalão”. No meio, muitas histórias de bastidores de sua passagem pelo governo brasileiro como ministro chefe da Casa Civil de Lula, a quem não faltam críticas no livro… Geração Editorial, 520 págs., R$59,90.

Putafeminista –Trabalhadora sexual e ativista, a gaúcha Monique Prada relata sua trajetória ao enfrentar os preconceitos tanto da direita quanto da esquerda com a prostituição, perseguida por ramos do feminismo que, ao mesmo tempo que pregam que a mulher é dona do próprio corpo, não aceitam que isso inclui a possibilidade de vendê-lo. Putafeminista é um misto de autobiografia, ensaio e manifesto sobre o que ela chama justamente de “putafeminismo”, ou seja, dar voz à luta das trabalhadoras sexuais. Editora Veneta, 108 págs., R$34,90.

Como esmagar o fascismo –Compilação de textos de Leon Trótski sobre o fascismo, a maioria deles escritos às vésperas da eclosão da Segunda Guerra Mundial. O revolucionário russo fala desde a definição de fascismo até a compreensão de que não há luta antifascista sem um esforço de aproximação entre a pequena burguesia e o proletariado. “É certo que a social-democracia preparou, com a sua política, o florescimento do fascismo, mas é certo também que o fascismo supõe uma ameaça mortal primeiramente para a própria social-democracia”. Algumas das traduções, de Aldo Sauda e Mario Pedrosa, são inéditas em língua portuguesa. Autonomia Literária, 319 págs., R$35.

Jorge Amado, Uma Biografia –O que começou como o que seria um perfil para os 100 anos do escritor terminou como uma tarefa hercúlea para a jornalista baiana Joselia Aguiar. Durante sete anos, ela escarafunchou a vida e a obra do romancista e político: Jorge chegou a ser eleito deputado federal em 1946 pelo Partido Comunista Brasileiro, que seria declarado ilegal no ano seguinte, obrigando o escritor a se exilar na França. Mais tarde, em 1955, decepcionado com o stalinismo, passaria a se dedicar inteiramente à literatura. Uma história de vida imperdível. Editora Todavia, 640 págs., R$79,90.

Comunismo para crianças –Por causa do título provocativo, o livro causou furor entre políticos e a mídia conservadora norte-americana ao ser lançado nos EUA em 2017, que o atacaram ferozmente supondo que o objetivo da obra era “ensinar comunismo a criancinhas”. Na verdade, Comunismo para crianças não se destina exatamente aos pequenos. Embora a linguagem parodie histórias infantis, o livro da ativista e artista alemã Bini Adamczac tem como alvo o funcionamento da economia capitalista contemporânea, uma crítica para todas as idades. Tradução Christine Röhrig. Editora Três Estrelas, 96 págs., R$25.

História do Movimento LGBT no Brasil –Professoras/es, pesquisadoras/es e militantes dos mais diversos campos disciplinares e regiões do país buscam reconstruir neste livro alguns temas e momentos privilegiados da história de quatro décadas deste importante ator político do Brasil contemporâneo, atentando para a diversidade de sua composição e de perspectivas no interior do movimento. Pretende-se, assim, contribuir para traçar um panorama interdisciplinar dos 40 anos do movimento LGBT brasileiro. Organizadores: James N.Green, Renan Quinalha, Marcio Caetano e Marisa Fernandes. Capa de Laerte. Editora Alameda, 536 págs., R$89.

FICÇÃO

A Transparência do Tempo –O consagrado autor de O Homem Que Amava os Cachorros, Leonardo Padura, lança agora no Brasil seu mais novo romance, na verdade um retorno a sua fase policial. O detetive Mario Conde, agora sessentão, vive da venda de livros usados, em franca decadência na Havana atual, quando um ex-colega o procura para resolver o desaparecimento da estátua de uma virgem negra que lhe fora roubada. Como co-protagonistas da trama, a vida e a política na Cuba de Raúl Castro. Tradução: Monica Stahel. Boitempo, 373 págs., R$45,60.

Desamparo –Estreia do também poeta Fred di Giácomo na ficção, Desamparo é uma história do velho oeste, mas não dos EUA, e sim do oeste paulista do final do século 19 e princípios do século 20, com semelhante genocídio indígena. O enredo, misto de ficção e vida real, conta a saga de duas famílias, os primeiros ocupantes da região que daria origem ao município de Penápolis, terra natal do escritor. Entre as protagonistas à la Cem Anos de Solidão, está a viúva Maria Capa Negra, que veio de Portugal e foi ama de leite de Dom Pedro II. Editora Reformatório, 248 págs., R$40.

Alguns Humanos –Coletânea de contos do escritor, antropólogo, diplomata e também amante do samba Gustavo Pacheco, traz 11 narrativas insólitas que, segundo o autor, um cético da separação entre romance e conto, guardam unidade entre si. Entre os personagens, o orangotango Dohong, muriquis hippies hipersexualizados, a mulher mais feia do mundo… Editora Tinta da China Brasil, 144 págs., R$65.

CLÁSSICOS

A Revolução dos Bichos –Não por acaso, no ano em que os brasileiros resolveram chamar a ditadura militar de volta, desta vez pelas urnas, este pequeno clássico de George Orwell voltou a aparecer na lista dos livros mais vendidos no país. Muitos pensam, equivocadamente, que tanto A Revolução dos Bichos quanto 1984, também de Orwell, criticam o comunismo, quando, na verdade, um em forma de fábula e outro de distopia, são uma amostra de como atuam os regimes totalitários, não importa se de direita ou de esquerda. E como líderes populistas podem se revelar ditadores enquanto afirmam estar “libertando” o povo. Tradução: Heitor Aquino Ferreira. Companhia das Letras, 152 págs., R$34,90.

TEATRO

O ator dialético –O ator e professor Ney Piacentini, que integra a Companhia do Latão desde a sua fundação, em 1997, publicou este livro indispensável para atores, diretores e criadores teatrais. Originalmente sua tese de doutorado defendida na ECA- USP, a obra examina o gradativo aprendizado das atrizes e atores que fizeram parte do grupo, na direção de uma interpretação dialética baseada na contradição entre os aspectos internos e externos dos personagens. Hucitec Editora, 346 págs., R$60.

HQs

Diastrofismo Humano –Gilbert Hernandez ou Beto Hernández se tornou conhecido no mundo dos quadrinhos ao publicar, junto com os irmãos Mario e Jaime a celebrada série Love and Rockets na década de 1980. Nesta incursão solo saída da própria série original, Beto aprofunda a história da latina Luba, a sexy dona da casa de banhos de Palomar, lugarejo onde se passa a trama de Love and Rockets: enquanto tentam descobrir quem é o serial killer que está agindo na cidade, se descortinam os amores, conflitos e a filharada de Luba, agora uma matriarca em Palomar. Tradução: Cris Siqueira. Editora Veneta, 256 págs, R$89,90.

Holandeses –O historiador, antropólogo e quadrinista André Toral narra as aventuras de dois irmãos judeus, Cástor e Esaú, que vêm para o Brasil no século 18 e se instalam em Pernambuco durante a invasão holandesa. Eles acreditam que irão encontrar aqui tribos perdidas de judeus, mas chegando ao Brasil mudam completamente de planos: enquanto Cástor se enamora da terra, Esaú prefere o lucrativo comércio de escravos, o que gera um conflito entre os dois irmãos. Editora Veneta, 96 págs., R$59,90.

Como uma Luva de Veludo Moldada em Ferro –Este clássico de Daniel Clowes, que reúne os dez capítulos da história de mesmo nome publicada pelo quadrinista entre 1989 e 1993 na revista Eightball, está sendo reeditado no Brasil após muito tempo. Os personagens estranhos de Clowes estão ainda mais bizarros: uma dupla sádica de policiais que entalha um estranho símbolo no seu calcanhar; uma suburbana de meia-idade e libidinosa, cujo encontro sexual com uma misteriosa criatura das águas gerou uma filha mutante grotescamente disforme, mas não menos libidinosa; um cão sem qualquer orifício (que tem de ser alimentado via injeções)… Tradução: Jim Anotsu. Nemo, 144 págs., R$54,90.

A Marcha (1 e 2) –Nesta trilogia em quadrinhos cujos dois primeiros números já foram publicados no Brasil, o ativista e congressista negro John Lewis conta sua saga de uma pequena fazenda no Alabama aos corredores do Congresso norte-americano; de uma sala de aula segregada para a Marcha em Washington e seu encontro com Martin Luther King; dos ataques da polícia ao recebimento da Medalha Presidencial da Liberdade pelas mãos do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Tradução: Erico Assis. Nemo, 128 págs., R$49,80.

Asa Quebrada –O escritor Antonio Altarriba e o quadrinista Kim contam a história real da mãe do primeiro, Petra, que conseguiu esconder da família a vida inteira que tinha um braço imóvel por conta da tentativa de seu pai, desesperado com a morte da mulher no parto, de matá-la. A sensível biografia quadrinizada de Petra corre em paralelo com os acontecimentos na Espanha da década de 1930, às voltas com o fascismo do generalíssimo Franco. Tradução: Marcelo Barbão. Editora Veneta, 272 págs., R$64,90.

 

 


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(1) comentário Escrever comentário

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Sergio em 26/12/2018 - 12h27 comentou:

Precisa mesmo incentivar. O mercado de livros tem despencado! Grandes redes fechando filiais. Menos tempo em redes sociais e mais tempo em leitura.

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