“El efecto Bananiña”: como Eduardo Bolsonaro ajudou a melar o Milei
De pistola em riste, a "nova Zambelli" ajudou a tirar a vitória no primeiro turno do "Bolsonaro argentino"; e ainda ganhou fama de "mufa" (azarado)

Eduardo Bolsonaro desembarcou no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires, na manhã do domingo, 22 de outubro, crente e abafando que iria causar um efeito avassalador na campanha de Javier Milei, o extremista de direita que despontava como favorito para ganhar as eleições na Argentina no primeiro turno. E causou. Só que um efeito bem contrário ao que ele imaginava: o discurso pró-armas de Bananinha ajudou a levar a disputa ao segundo turno e com Milei atrás do peronista Sergio Massa.
Bienvenido a la Argentina @BolsonaroSP !!
Las Fuerzas del Cielo te reciben en un día histórico para la Argentina! @JMilei pic.twitter.com/xkA1nfHNSn— Nahuel Sotelo (@nsotelolar) October 22, 2023
Recebido em Ezeiza pelo deputado Nahuel Sotelo, espécie de Nikolas Ferreira de lá, Eduardo chegou de boné, camiseta e jeans, figurino que logo trocaria por um terno escuro e uma gravata azul estampada onde reluzia um prendedor em formato de pistola de cano longo.
🇦🇷 Satisfação ter almoçado com a candidata a Vice-presidente de @JMilei, @VickyVillarruel que reuniu diversas lideranças de direita da Am. Latina e Espanha. pic.twitter.com/Xn0SP4Ke0N
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) October 22, 2023
Lutando bravamente contra o castelhano, o 03 dos Bolsonaro daria entrevistas a, segundo ele próprio, cerca de 20 veículos do país vizinho. O portal El Destape perguntou a ele qual era sua proposta favorita dentre todas de Milei. Decisão difícil, porque o que não faltam a Milei e seu grupo são propostas.
Eduardo poderia ter escolhido “dinamitar” o Banco Central, romper relações comerciais com “comunistas” como China e Brasil (e também com o Vaticano), liberar o mercado de venda de órgãos humanos, acabar com a obrigatoriedade da escola… Podia ter apontado até mesmo a proposta da maquiadora do candidato, Lilia Lemoine, eleita deputada pela província de Buenos Aires, de possibilitar aos homens o direito de renunciar à paternidade.

Detalhe da gravata de Eduardo. Foto: reprodução twitter
Mas não, Eduardo “Bananinha” queria falar aos argentinos do seu fetiche máximo: as armas de fogo. O canal C5N já havia dado sinais de que o assunto não era bem-vindo ao interromper ao vivo o filho poliglota de Bolsonaro quando ele tentou introduzir o tema.
“Avançar na liberação de armas de fogo significa dar condições para os cidadãos terem legítima defesa, para que não sejam massacrados”, dizia Bananinha ao ser cortado. “Obrigado, Mariano, a Argentina e nós argentinos somos generosos demais para receber esse tipo de gente, não?”, disse o apresentador. “Por isso que seu pai foi tirado do poder pelos brasileiros, por sorte.”
🇦🇷 ELEIÇÕES ARGENTINAS: Deputado Eduardo Bolsonaro é retirado do ar em TV na Argentina ao defender porte de armas. pic.twitter.com/xbZmhRgJoc
— Eleições em Pauta (@eleicoesempauta) October 22, 2023
O jovem repórter do El Destape deixou 03 hablar, e isso foi ótimo. “Entre as propostas de Milei, a parte da arma es la que más me encanta, como se pode notar pela minha gravata”, disparou, em portunhol selvagem, exibindo o prendedor-revólver. “Olha, ele tem um revólver de prendedor de gravata”, disse o atônito rapaz. “Porque você pode falar de tudo”, continuou Eduardo, “de educação, de saúde, mas primeiro por supuesto você tem que estar vivo, então esta seria a palta que eu mais gosto e uma das principais de Milei.”
🔴 "La parte de las armas es la que más me encanta"
Con un revólver de corbata, Eduardo Bolsonaro, hijo del ex presidente brasileño, Jair Bolsonaro, estuvo presente en el búnker de Javier Milei para brindar su apoyo. pic.twitter.com/aCMw7GWKUS
— El Destape (@eldestapeweb) October 23, 2023
Eduardo não contava com um detalhe: a “palta” (ele queria dizer “tema”, “pauta”; saiu “palta”, abacate) que o encanta não encanta os argentinos. Segundo uma pesquisa divulgada em abril, a rejeição às armas de fogo é imensa no país: 77,3% dos argentinos não querem que as armas sejam liberadas; só 16,1% concordam que sejam. O tiro literalmente saiu pela culatra. Eduardo conseguiu o que queria: colar em Milei o carimbo de “defensor das armas” de fogo –mas isso não foi nada bom para o “Bolsonaro argentino”.

Fonte: pesquisa Zuban Córdoba
Mal terminou a apuração e seu adversário Sergio Massa já estava explorando o tema. “Meu compromisso é construir mais Argentina e mais argentinidade, e não menos; construir mais ordem, mais segurança, e não improvisação; construir regras claras diante da incerteza. Meu compromisso é construir uma pátria na qual sem dúvidas tenhamos a capacidade de escolher se nossos filhos vão à escola com um computador na mochila e não com uma arma na mochila”, disse Massa em seu discurso de vitória, na noite de domingo.
“Mi compromiso es que sin dudas tengamos una patria con la capacidad de que nuestros hijos puedan ir a la escuela con una compu en la mochila y no con un arma en la mochila”, @SergioMassa
Horas antes en C5N le quitaron el micrófono a Eduardo Bolsonaro, el hijo del expdte.… pic.twitter.com/ItiYO1mMub
— Nacho Lemus (@LemusteleSUR) October 23, 2023
Na segunda-feira pós-eleitoral, os marqueteiros, os mesmos da campanha vitoriosa de Lula em 2022, usaram a deixa para produzir para o candidato peronista um vídeo impactante que viralizou nas redes. Nele, uma criança chega à escola com um revólver dentro da mochila. Detalhe: no mesmo dia, um estudante armado com um calibre 38 (o número do partido que Bolsonaro queria criar em 2019) havia invadido um colégio estadual em São Paulo, ferido três estudantes e matado uma menina de 17 anos.
🇦🇷 Novo comercial da campanha eleitoral na Argentina critica a liberação da venda de armas, proposta por Milei.
“Na Argentina, graças a Deus, isso não é uma realidade, mas poderia ser”, diz o vídeo. pic.twitter.com/I7Hbss8eDa
— Eixo Político (@eixopolitico) October 23, 2023
Como uma Carla Zambelli correndo de pistola na mão pela avenida 9 de Julho (a de Buenos Aires), Eduardo Bolsonaro pode ter ajudado a destruir a candidatura de Milei com seu discurso armamentista. Como se não bastasse, ainda ganhou fama de “mufa”, como dizem os argentinos sobre quem tem pé-frio. “Por favor, que Milei não traga para o segundo turno o MUFA do Eduardo Bolsonaro. Recordo a vocês que ele viajou para os EUA para celebrar a ‘vitória’ de Trump e ele perdeu”, protestou um eleitor de Milei no X, ex-twitter.
Como uma Zambelli de pistola na mão pela 9 de Julho (a de Buenos Aires), Eduardo pode ter ajudado a destruir a candidatura de Milei com seu discurso pró-armas. Como se não bastasse, ainda ganhou fama de “mufa”, como dizem os argentinos sobre quem é pé-frio
No C5N, o apresentador Alejandro Bercovitch tirou onda, aliando tanto a má estratégia de defender armas num país que as rejeita quanto o azar, a zica que parece tradição familiar. “Estava o terceiro filho de Bolsonaro, Eduardo, o homem que vai passeando, em geral com má sorte, por distintos países quando algum extremista de direita se lança candidato. Esse homem que chegou no domingo de manhã e disse: ‘apoiamos a liberdade do porte de armas’. Sem perceber que este não é um valor para a sociedade argentina.”
Gente… o Edu B. segue pautando o noticiário argentino, hein 👀 o filho do inelegível fazendo sucesso por lá 😂 pic.twitter.com/YbFAccmnI0
— 🅱🆁🆄🅽🅾 🅰🅻🅴🅽🅲🅰🆁 (@Brunocomunika) October 24, 2023
Não sabemos ainda o que acontecerá no segundo turno da eleição argentina, em 19 de novembro. Mas, a se confirmar a derrota de Javier Milei, os cientistas políticos certamente irão se debruçar sobre o que entrará para a história como “el efecto Bananiña”. Eduardo não confirmou se irá à Argentina para a disputa final entre Milei e Massa. Os peronistas estão torcendo para que volte.
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