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Feminismo

Marinha tem agora a primeira almirante negra; ou seria “almiranta”?

Nunca se usou o feminino de "almirante" ou "brigadeiro" antes porque não havia mulheres oficiais-generais; agora existem

A contra-almirante Maria Cecilia. Foto: divulgação/Secom
Da Redação
06 de abril de 2023, 17h09

Na última terça-feira, 4 de abril, a médica Maria Cecilia Barbosa, de 58 anos, entrou para a história das Forças Armadas brasileiras ao se tornar a primeira almirante negra, promovida ao posto de oficial-general em cerimônia no Palácio do Planalto. “Me sinto bastante orgulhosa e feliz por estar representando uma parcela grande da tripulação da Marinha, que é a parcela feminina”, declarou a contra-almirante Maria Cecilia.

Maria Cecilia foi uma das primeiras mulheres a ingressar na Força após a criação, em 1980, do Corpo Auxiliar Feminino da Reserva, formado pelo Quadro Auxiliar Feminino de Oficiais (QAFO) e pelo Quadro Auxiliar Feminino de Praças (QAFP). Até então, só homens eram permitidos nas três Forças Armadas. Em 1982, as mulheres passaram a ser aceitas na Aeronáutica, também em cargos administrativos.

Apenas 17 anos depois, em 1997, as mulheres da Marinha obtiveram igualdade de condições com os homens e passaram a integrar os respectivos Corpos e Quadros existentes para o sexo masculino, o que possibilitou o ingresso delas como Oficiais nos Corpos de Engenheiros e de Intendentes da Marinha, e nos Quadros de Médicos, de Cirurgiões-Dentistas, de Apoio à Saúde e Técnico. Um ano antes, em 1996, a Aeronáutica havia autorizado o ingresso das primeiras cadetes e as mulheres ganharam a oportunidade de ascender todos os postos, até o de brigadeiro. Atualmente a Força Aérea é a que mais tem mulheres: entre temporárias e de carreira, são mais de 14 mil.

Antes de Maria Cecília, somente duas outras mulheres haviam alcançado o posto de almirante –posto máximo da Marinha. A primeira havia sido a médica Dalva Maria Carvalho Mendes, em 2012. Em 2018, a Marinha promoveu ao posto de contra-almirante a engenheira Luciana Mascarenhas da Costa Marroni. Na Aeronáutica, uma mulher se tornou oficial-general pela primeira vez em 2020, quando a diretora do Hospital Central da Aeronáutica (HCA), a médica Carla Lyrio Martins, foi promovida ao posto de brigadeiro.

Dilma com Dalva, a primeira mulher almirante, em 2012. Foto: Roberto Stuckert/PR

Já o Exército continuou a ser um “clube do Bolinha” até 2012, quando a presidenta Dilma Rousseff sancionou a lei que ampliou a participação feminina na Força: após 20 anos dedicadas a cargos técnicos, atuando na Saúde, na Educação e na Informática, as mulheres passaram a ter a possibilidade de integrar o quadro de combatentes. Mas o Exército ainda teve cinco anos para se adaptar à nova realidade; só em 2027 teremos as primeiras mulheres a ser promovidas a generais.

Na Marinha, elas continuam avançando: este ano ocorreu o ingresso das primeiras mulheres na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Santa Catarina (EAMSC), o acesso da primeira turma de alunas no Colégio Naval e é a primeira vez que mulheres poderão prestar concurso para Soldados Fuzileiros Navais. Até 2024, estarão incluídas em todos os Corpos, escolas e centros de instrução da Força.

Só o Exército continuou a ser um “clube do Bolinha” até 2012, quando Dilma sancionou a lei ampliando a participação feminina. Que venham as almirantas, brigadeiras e generalas! Também nunca houve ministra da Marinha, Exército ou Aeronáutica. Fica a dica

“A Marinha dá essa possibilidade de ingressar no corpo de saúde, como foi o meu caso, e concorrer com o sexo masculino em todos os níveis. Eu fui a terceira mulher a se tornar almirante e acredito que agora as portas vão ficar mais abertas porque tem um grande número de mulheres oficiais nesses quadros de acesso para o generalato”, disse Maria Cecilia, que atualmente ocupa o cargo de diretora do Departamento de Saúde e Assistência Social da Secretaria de Pessoal, Saúde, Desporto e Projetos Sociais do Ministério da Defesa.

Ela comentou também o fato de ser a primeira mulher negra a alcançar o posto. “Sou da Marinha há 28 anos. Amo minha profissão e amo a Marinha do Brasil. Naturalmente, as coisas foram acontecendo. Nessa instituição não existe preconceito de nenhuma forma, nem pelo sexo, nem pela raça. Todos têm iguais capacidades de competir e de crescerem e se posicionarem na profissão e na carreira militar. Desde o ingresso até hoje, me sinto muito realizada na profissão e dentro da instituição.”

Nós perguntamos: e por que não ALMIRANTA? Segundo o dicionário Houaiss, o termo “almiranta” existe, mas é aplicado à “nau a bordo da qual o almirante de uma força naval içava a sua insígnia (era a segunda nau, logo abaixo da capitânia, onde estava embarcado o capitão-mor da Armada)” e também à esposa do almirante.

Ora, não havia o feminino de “almirante” antes porque não havia mulheres oficiais-generais da Marinha. Agora, existem. O mesmo vale para as mulheres nos postos de brigadeiro ou general: que venham as brigadeiras e generalas! Atualmente, não se usa o feminino em nenhum posto militar: a mulher que ocupa o posto de capitão é chamada de “a capitão”, embora exista a palavra capitã (assim como estão dicionarizados “soldada”, “sargenta” e “coronela”).

Também nunca existiu na História do país uma ministra da Marinha, Exército ou Aeronáutica. Fica a dica.

Com informações da Secom, da Aeronáutica e da Marinha


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(2) comentários Escrever comentário

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Caronte em 18/04/2023 - 14h23 comentou:

Hummmmm, que lindo, não? Que legal que o sistema das desigualdades (o capitalismo) promova ele mesmo a “reparação” por cotas (nem sempre proporcionais) dos excluídos, que sem perceberem, se associam aos opressores para reproduzirem novas diferenças, empurrando outros para baixo…

Fica a dúvida: Se regina duarte (assim, com letras minúsculas, do tamanho dela) fosse oficial da marinha, a fosse promovida, as feminazi estariam satisfeitas? E a Micheque, faz parte das cotas feministas?

Fico com o Adolph Reed Jr, cientista (político) estadunidense:
https://www.newyorker.com/news/annals-of-inquiry/the-marxist-who-antagonizes-liberals-and-the-left

Também se aplica a vocês…

Responder

Caronte em 19/04/2023 - 11h35 comentou:

“Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.”

Olha, se você diz que há moderação e o que não será aceito, se houver algo com o sentido proibido, sim, é sua responsabilidade (solidária) SIM, senhora…

Este aviso acima só faria (algum) sentido se não houvesse moderação.

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