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Nobel de Literatura bielorrussa apela a intelectuais russos: “Por que estão calados?”

Governo ditatorial de Lukashenko prendeu todos os amigos de Svetlana Alexievich, que teve sua casa invadida na quarta-feira

A escritora Svetlana Alexievich. Foto: Elke Wetzig/Wikimedia Commons
Da Redação
10 de setembro de 2020, 21h44

Na última quarta-feira, a escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, prêmio Nobel de Literatura em 2015, denunciou que desconhecidos tentaram entrar em seu apartamento em Minsk, capital da Bielorrússia (ou Belarus). Svetlana é a única dos integrantes do Conselho de Coordenação, coalizão de oposição ao governo ditatorial de Alexander Lukashenko, que continua em liberdade após o sequestro do advogado Maxim Znak, detido no mesmo dia por homens encapuzados.

Aliado do líder russo Vladimir Putin, Lukashenko se recusa a deixar o poder, que ocupa desde 1994. No início de agosto, ele foi reconduzido ao cargo pela sexta vez em uma eleição sob suspeita de fraude e que não foi reconhecida pela União Europeia. Os protestos nas ruas de Minsk foram reprimidos e vários membros da oposição fugiram do país para não serem presos: a líder da oposição, Svetlana Tikhanovskaya, está na Lituânia.

A escritora Svetlana Alexievich divulgou uma carta aberta onde apela aos intelectuais russos que intercedam pelos habitantes da Bielorrússia, que integrou a União Soviética. “Por que vocês estão calados? Nós ainda somos seus irmãos”, escreveu.

“Primeiro, eles sequestraram nosso país. Agora, estão sequestrando os melhores entre nós. Mas, em nosso lugar, centenas de outros virão. Não foi o Conselho de Coordenação que se revoltou. O país se revoltou”

Leia abaixo a íntegra da carta.

“Nenhum dos amigos que compartilham das mesmas ideias comigo no Conselho de Coordenação ainda está por perto. Todo mundo está na prisão ou foi expulso do país. Hoje eles levaram o último, Maxim Znak.

Primeiro, eles sequestraram nosso país. Agora, estão sequestrando os melhores entre nós. Mas, em nosso lugar, centenas de outros virão. Não foi o Conselho de Coordenação que se revoltou. O país se revoltou. Quero repetir o que sempre digo: não estávamos preparando um golpe. Queríamos evitar uma divisão em nosso país. Queríamos que um diálogo começasse na sociedade. Lukashenko diz que não vai falar ‘com a rua’, mas as ruas estão cheias com centenas de milhares de pessoas que saem para protestar todos os domingos e todos os dias. Não é somente uma rua. É a nação.

“Lukashenko diz que não vai falar ‘com a rua’, mas as ruas estão cheias com centenas de milhares de pessoas que saem para protestar. Não é somente uma rua. É a nação. As pessoas vão às ruas com suas crianças pequenas porque acreditam que irão vencer”

As pessoas vão às ruas com suas crianças pequenas porque acreditam que irão vencer.

Eu também quero apelar à intelligentsia russa, vamos chamá-la assim, ao velho estilo. Por que vocês estão calados? Nós ouvimos muito poucas vozes nos apoiando. Por que vocês permanecem em silêncio enquanto assistem este pequeno e orgulhoso país ser esmagado? Nós ainda somos seus irmãos.

Ao meu próprio povo, o que eu quero dizer é: eu amo vocês e estou muito orgulhosa de vocês.

Agora, há outro desconhecido tocando a campainha da minha porta…”

Original em russo aqui.


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(4) comentários Escrever comentário

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Bernardo Santos Melo em 11/09/2020 - 16h13 comentou:

NASSIF com excelentes reportagens BTG & Tchuca, na rapina do BB , foi CENSURADO
JUDICIALmente .
Aqui é pior do que na Bielorússia !

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Avel+de+Alencar em 13/09/2020 - 11h16 comentou:

Angela Merkel está no poder desde 2005 mas como faz o jogo dos neoliberais tudo bem.

Responder

Sonia Branco em 14/09/2020 - 10h56 comentou:

Sou tradutora da Svetlana e a admiro muito. Estive com ela há um ano em Minsk e conversamos muito sobre literatura e política. Ficou muito claro para mim que, apesar de o trabalho dela ser importantíssimo, sobretudo nas reflexões que ela faz sobre a existência humana, e ao propor novas conceitualizações, no que tange à política internacional ela é extremamente ingênua. Ela não possui uma visão de política internacional, nem sabe bem o que é América Latina. Quero dizer com isso que a valorização da democracia que ela faz é totalmente romântica. Não estou defendendo a ditadura Lukachenko, no poder desde 94, mas devemos no mínimo nos perguntar por que exatamente agora acontecem essas manifestações. Sabemos a resposta. Basta ver a destruição da Ucrânia, onde tb estive, que até hoje está em guerra interna. Sabemos que o objetivo dos governos estadunidenses é o de subordinar a Rússia, pondo-a na mira dos seus mísseis. Não conseguiram isso na Ucrania, a Crimeia era estratégica para esse feito. Vamos lembrar. Há poucas semanas a Otan deslocou tropas para a fronteira da Polônia com a Rússia. Parte dessas tropas haviam sido deslocadas da Alemanha para a Polônia em julho. Adoro Svetlana. Espero que os intelectuais amigos dela sejam soltos. E devem haver sim movimentações nesse sentido. Mas nesse momento não é possível concordar com tudo. O país não é fechado, ao contrário, a população da comunidade europeia não precisa de visto para entrar, e os bielorrussos podem viajar.
Há um intenso comércio com a CE. Não há situação de carência. Há de fato um controle interno e repressão à palavra. Isso é sempre horrível. Mas eles estão sendo usados, pq o ocidente na verdade pouco se importa com aquele pequeno pais agrário.

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Flavio de Oliveira Lima em 18/09/2020 - 13h41 comentou:

Sou seu fã, mas nem li esse post
Ajudando os gringos em um golpe Cynara?
Sem ilusões amiga, vamos nos preocupar com nossa falta de democracia
O certo é o Putin ocupar duma vez, desculpa aí

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