Socialista Morena
Vídeos

O dia em que os fotógrafos se recusaram a fazer imagens do ditador

Em 1984, inconformados com o desrespeito de Figueiredo com seu trabalho, repórteres fotográficos baixaram as câmeras à sua passagem

Fotógrafos baixam as câmeras diante de Figueiredo em 1984. Foto: J. França
Da Redação
23 de novembro de 2018, 17h37

O que Jair Bolsonaro está fazendo com a mídia comercial desde antes de assumir, vetando a presença de alguns veículos em entrevistas e ameaçando-os por conta de críticas e reportagens, já aconteceu antes no país. Em janeiro de 1984, penúltimo ano do último ditador militar, João Baptista de Figueiredo, os jornalistas que cobriam o Palácio do Planalto tiveram uma série de atritos com o presidente de farda, que resolveram enfrentar através de um protesto inusitado.

A extrema grosseria do presidente, que passou à História por declarar que gostava mais de cheiro de cavalo do que de seres humanos e que, se ganhasse um salário mínimo, “dava um tiro no coco”, já era conhecida de todos os brasileiros. E Figueiredo tratava mal sobretudo os repórteres fotográficos, dando respostas atravessadas e proibindo-os de subir ao gabinete para fazer imagens suas, desde que foi fotografado com a mão quebrada.

A Folha deu o protesto na primeira página

Inconformados, os fotógrafos decidiram dar o troco e, à passagem do presidente na descida da rampa do Palácio do Planalto, simplesmente colocaram as câmeras no chão. O único do grupo a utilizar o equipamento foi J. França, encarregado justamente de fazer o clique que registra o protesto. De braços cruzados, os fotógrafos apenas olham para Figueiredo passando, com passos ligeiros e semblante carrancudo.

A Folha de S.Paulo noticiou o protesto com direito à foto na primeira página, onde o jornal já aderia à campanha pelas Diretas-Já. “Uma semana após a proibição, imposta pelo presidente Figueiredo, de subirem ao terceiro andar do Palácio do Planalto, onde fica o gabinete presidencial, fotógrafos e cinegrafistas credenciados na presidência da República fizeram um protesto ‘branco’ contra a decisão. Depositaram seus equipamentos de imagem no momento em que o chefe de governo descia a rampa do palácio (…)na tradicional cerimônia que se repete todas as terças-feiras”, contou a Folha.

Dias antes, o porta-voz de Figueiredo, Carlos Átila, tinha tentado “ensinar” a imprensa seu ofício. “Vocês, se não tomarem cuidado, contribuirão para o descrédito da imprensa”, disse, irritado porque vazara uma frase de Figueiredo em conversa com Maluf

A mini “greve” também era um protesto contra as palavras do porta-voz de Figueiredo, Carlos Átila, que dias antes tinha tentado “ensinar” a imprensa seu ofício. “Vocês, se não tomarem cuidado, contribuirão para o descrédito da imprensa”, disse o porta-voz, irritado porque vazara uma frase do presidente em uma conversa com Paulo Maluf, futuro candidato da situação na eleição indireta que Tancredo Neves venceu. A frase fora ouvida e transmitida ao Jornal de Brasília por um dos fotógrafos, daí a proibição de que tivessem acesso ao gabinete.

A história é contada no curta A Culpa É da Foto, dos fotógrafos André Dusek, Joedson Alves e Eraldo Peres, premiado no Festival de Brasília em 2015. É uma boa sugestão para a imprensa experimentar no trato com Bolsonaro.

Assistam.


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
(7) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Fraga em 05/11/2018 - 23h49 comentou:

Pode ficar tranquila….não faltarão fotógrafos dispostos. Já os de jornalecos como a Folha…. dispensados.

Responder

Miranda em 06/11/2018 - 13h49 comentou:

Cynara como sempre surpreendendo. Grato pelo excelente documentário sobre o protestos dos profissionais da imagem.

Responder

Marcelo Eduardo Ramos em 06/11/2018 - 22h59 comentou:

Já deveriam ter feito isso com esse ogro,Sem educação !!!

Responder

Cristina em 07/11/2018 - 09h26 comentou:

Não basta não conhecer a história do país, tem que ser ignorante o suficiente pra não entender o momento de repetição da pior pagina dela, e o risco que vc mesmo corre de em breve não poder fazer comentários vazios como esses.

Responder

joselino ribeiro em 24/02/2020 - 11h24 comentou:

É por essas e outras, que é melhor deixar a imprensa livre, ainda que cometa erros, do que amordaçá-la, ainda que com a desculpa de uma regulação, independente de o regime ser de esquerda ou de direita.

Responder

Diogo Tomé em 05/03/2020 - 07h59 comentou:

Parte da imprensa não vai aderir, não há mais coragem, apenas cifras. A Record, por exemplo, recebe verba pra cobrir e encobrir coisas deste desGoverno e o SBT segue a mesma linha, a Band, uma emissora lambe botas!

Responder

kalyxtonetto em 06/05/2020 - 17h46 comentou:

e poder receber mais, essa verbas rleis todos os veículos de comunicações tem direito, simples assim

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Politik

“Epic fail” do direitista Macri leva Argentina a declarar moratória ao FMI


Política econômica neoliberal que levou nosso vizinho à bancarrota é seguida à risca por seu parça Bolsonaro no Brasil

Cultura

Mangueira é campeã com enredo esquerdista e homenagem a Marielle


Chora, bolsominion: o desfile da escola vencedora foi um manifesto pró-Paulo Freire e contra o "escola sem partido"