Socialista Morena
Direitos Humanos

Os pezinhos do menino encontrado no barril e a banalização do mal

A história dessa criança é um reflexo da desconexão da vida, do respeito e de tudo de ruim que passou a ser normal neste país

Foto: PM de Campinas/divulgação
Willian Novaes
03 de fevereiro de 2021, 17h12

Uma história pode cortar o seu coração, tirar o seu sono, trazer do fundo da sua alma a raiva, a revolta e a vontade de praticar atos inomináveis. Grande parte desses sentimentos afloraram nas pessoas após ouvirem falar da história do menininho de 11 anos que passava os dias acorrentado num barril de ferro no puxadinho de um barraco em Campinas. Isso mesmo, em uma das maiores cidades do país, distante a menos de 100 quilômetros de São Paulo.

O pequeno contou atrocidades que nos causam repulsa e mal-estar, como comer fezes, casca de banana e fubá cru, e que estava há dias em pé, sendo que frequentou aquele local por anos, sempre nu, sem água, sem amor, sem compaixão dos pais. Ele não sabe coisas sobre o elementar da vida, como amar, ser amado, receber carinho e afeto. O garotinho tem os pezinhos pequeninos, inchados porque não podia nem sequer se sentar dentro do tonel onde era mantido; é franzino, desnutrido e relatou aos policiais uma rotina de sofrimentos e dor.

Ao ler, assistir, ouvir essa história, nos transformamos em outras pessoas; queremos repetir tudo isso com os responsáveis por tal tortura. Será que essa violência nos permite ser violadores de vidas? Ou esse absurdo nos isenta de punições?

A história dessa criança é um reflexo da desconexão da vida, do respeito e de tudo de ruim que passou a ser normal neste país. Ele sofreu horrores nas mãos do pai, da madrasta e da filha dela, como nos mais macabros contos de fada. Uma alma brutalizada, um corpinho maltratado, um exemplo vivo do que a maldade humana pode fazer.

Voltamos ao início. Ao ler, assistir, ouvir essa história, nos transformamos em outras pessoas; seja pela revolta que nos causa, pela raiva, pelo ódio, queremos repetir tudo isso com os responsáveis por tal tortura. Será que essa violência nos permite ser violadores de vidas? Cretinos? Ou esse absurdo nos isenta de punições? Os vizinhos se revoltaram e canalizaram todos esses sentimentos na destruição da casa do pequeno de 11 aninhos que se transformou num dos símbolos da pura, crua e nua maldade brasileira.

Os três adultos estão presos e contaram que fizeram tudo isso porque a criança é muito bagunceira.


(7) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Francisco M de Souza em 03/02/2021 - 19h29 comentou:

Gente monstruosa e desalmada ! Repugnantes …….. Não vai acontecer nada c/esses criminosos e irresponsáveis . Nosso país é imprestável , nossa justiça é imoral . Não vai acontecer absolutamente nada . 🤮

Responder

Maria do RJ em 03/02/2021 - 19h56 comentou:

Pobre menino, isso daí é de uma maldade absurda, será que nenhum vizinho conseguiu ver isso pra denunciar? Como será que foi encontrado, quem será que conseguiu denunciar? E agora, onde ele está? Merecia ser adotado por alguma família de gente boa e de princípios! Ainda bem que o socorro chegou a tempo de salvá-lo.

Responder

Ana Cecília em 04/02/2021 - 07h14 comentou:

Um desses adultos deve ser psicopata e fez dos outros seus “soldados”. Ao ler, embora chocada, pensei no menino, em acolhê-lo amorosamente e resgatar nele a conexão com a vida como ela deve ser. Tomara que ele encontre alguém que busque compensar, com muoto amor, todo esse bárbaro sofrimento!

Responder

Sérgio Pinho em 04/02/2021 - 09h50 comentou:

Interessante o título desta reportagem, pois assistindo na televisão eu também observei os pés do menino inchados já que ele era obrigado a ficar em pé o tempo todo.
Tortura, crueldade, perversidade.

Responder

PAULO ROBERTO MARTINS em 04/02/2021 - 13h14 comentou:

Foi-se o tempo em que se dizia em alto e bom som que o brasileiro era um povo diferente dos demais.Aqui éramos bondosos,ordeiros,felizes,musicais,sem racismo,hospitaleiro e cordiais.A ditadura explorou ad nauseum este conceito.O povo brasileiro era considerado o aperfeiçoamento da espécie. A realidade,nua e crua,é que somos exatamente o oposto,um povo no íntimo mau,perverso,bárbado que dá exemplos excepcionais de bondade através de pouquíssimas pessoas.Somos cruéis desde 1500.A eleição d um psicopata é o reflexo disto,o produto acabado,ele sim,do aperfeiçoamento da maldade brasileira.Bolsonaro é o Brasil.

Responder

RICARDO DOS REIS XAVIER SANTANA em 06/02/2021 - 15h30 comentou:

“Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura… se é verdade
Tanto horror perante os céus…”

Responder

RICARDO DOS REIS XAVIER SANTANA em 06/02/2021 - 15h35 comentou:

Se fazem isso com humanos, imagina com os animais!!!?

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Politik

Brasil descumpre tratados internacionais que assinou, diz ONU sobre reformas de Temer


Do site da ONU O representante do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) na América do Sul, Amerigo Incalcaterra, alertou que as mudanças recentes na legislação brasileira estão desconsiderando tratados…

Cultura

O dia em que Clarice Lispector “defendeu um bandido”. E se fosse hoje?


A escritora ficou abalada com a história do assaltante Mineirinho, metralhado pela polícia com 13 tiros, fato corriqueiro no Brasil atualmente