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Direitos Humanos

Pelo menos quatro comunidades indígenas foram atacadas após a vitória de Bolsonaro

Uma escola e um posto de saúde foram incendiados por jagunços em Pernambuco. E se fosse o MST que tivesse feito isso?

Posto de Saúde incendiado em Jatobá, Pernambuco. Foto: Whitney Pereira/Ascom Jatobá
Da Redação
30 de outubro de 2018, 14h59

Pelo menos quatro comunidades indígenas foram atacadas desde a eleição de Jair Bolsonaro a presidente, no último domingo. Os ataques, em Mato Grosso do Sul e Pernambuco, envolveram uso de armas de fogo e balas de borracha, além de atearem fogo a uma escola e um posto de saúde. Não há registros de mortes, mas de feridos. Autoridades, a Funai (Fundação Nacional do Índio) e o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) confirmaram as ações violentas. O novo presidente já se pronunciou de forma agressiva contra os indígenas diversas vezes.

De acordo com os relatos, os ataques ocorreram entre a madrugada do domingo, imediatamente após o resultado da eleição, e a segunda-feira. O caso mais violento confirmado pela Funai foi contra moradores da aldeia Bororó, uma das várias existentes no interior da Reserva Indígena Dourados, em Mato Grosso do Sul. Localizada no perímetro urbano, a Reserva de Dourados é a área indígena de maior concentração populacional étnica do país, com cerca de 13 mil habitantes distribuídos por uma área de cerca de 3 mil hectares (cada hectare corresponde às medidas aproximadas de um campo de futebol oficial).

A prefeitura de Jatobá disse que o “ato de vandalismo criminoso” prejudica a toda a comunidade, “que ficará carente por vários meses, sem atendimento médico e escolar”

Índios guarani-kaiowá da aldeia Bororó relataram a missionários do Cimi que, na madrugada do último domingo, foram surpreendidos pelo ataque de um grupo composto por índios de outras comunidades e não-índios. Os agressores se aproximaram da aldeia em caminhonetes e com um trator. Alguns deles dispararam contra o grupo. Além de pelo menos quatro feridos com balas de borracha, dois jovens foram atingidos por projéteis de armas de fogo. Uma das vítimas, que levou um tiro na perna, foi atendida no Hospital da Vida e já teve alta. Por medo, um outro indígena também baleado na perna não quis ser socorrido fora da aldeia e, de acordo com um missionário do Cimi, continuava com a bala alojada até a tarde de segunda-feira.

Também na madrugada de domingo para segunda, a única escola e o único posto de saúde de atendimento ao povo indígena Pankararu, na Comunidade indígena Bem Querer de Baixo, em Pernambuco, foram incendiados criminalmente por jagunços. Os dois prédios públicos da prefeitura de Jatobá estavam localizados na aldeia, uma área de conflito entre índios e posseiros não-índios no interior da Terra Indígena dos Pankararus.

Segundo membros da comunidade, o fogo destruiu documentos, equipamentos e comprometeu quase que integralmente a estrutura das duas construções. A equipe médica do posto de saúde fazia cerca de 500 atendimentos mensais. Em nota, a prefeitura de Jatobá confirmou que os prédios foram “praticamente 100% destruídos e o prejuízo é incalculável”. E acrescenta que o “ato de vandalismo criminoso” prejudica a toda a comunidade, “que ficará carente por vários meses, sem atendimento médico e escolar”. E se fosse o MST que tivesse feito isso?

Aproximadamente uma hora após a apuração das urnas e pronunciamento do presidente eleito, 40 caminhonetes circularam várias vezes em comboio na região que faz divisa com a aldeia indígena Caarapó, no sudoeste do Mato Grosso do Sul. Segundo informações dos indígenas Guarani-Kaiowa, devido ao histórico de massacre praticado aos indígenas na região, a presença dessas caminhonetes representa claro sinal de intimidação e ameaça aos indígenas.

Uma hora após a apuração das urnas e pronunciamento do presidente eleito, 40 caminhonetes circularam diversas vezes em comboio na região que faz divisa com a aldeia indígena Caarapó, em um claro sinal de intimidação

A área de Caarapó reivindicada pelos indígenas está em disputa há anos. Em 2016, cerca de 300 índios ocuparam uma área de 490 hectares que afirmam ter pertencido aos seus antepassados. Dias depois, homens armados e encapuzados atacaram o local e incendiaram todos os pertences indígenas. Um índio morreu, cinco foram baleados e ao menos outros seis foram feridos. Procurada, a Funai informou não ter registro do ataque.

Na aldeia indígena Passarinho, na Terra Indígena Pilad Rebua, em Miranda, fazendeiros locais chegaram em quatro caminhonetes logo após a divulgação do resultado das eleições presidenciais, encostaram os veículos na divisa da aldeia com a fazenda Garrote, soltaram fogos de artificio e em seguida começaram a atirar na direção dos indígenas. A aldeia é dividida apenas por uma cerca de arame farpado e as armas letais foram direcionadas para os indígenas. Todos da aldeia presenciaram o ato, mas ninguém foi atingido.

Com informações da Agência Brasil e do Cimi


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