Socialista Morena
Politik

5 vezes em que os atuais “defensores da democracia” agiram igual a Bolsonaro

Contra o PT, mídia comercial, PSDB e outros "democratas" apelaram a práticas similares às que hoje criticam na extrema direita

Aécio, Aloysio Nunes e Serra questionam a eleição de Dilma em 2014. Foto: divulgação
Cynara Menezes
10 de março de 2020, 15h30

A mídia comercial e os “democratas” do liberalismo estão alvoroçados com mais um ataque do presidente de extrema direita Jair Bolsonaro às instituições. Após gerar indignação ao convocar os brasileiros às manifestações contra o Congresso do próximo domingo, 15 de março, Bolsonaro agora levanta suspeitas sobre as urnas eletrônicas, dizendo, sem apresentar provas, que “houve fraude em 2018” e que ele, na verdade, foi eleito no primeiro turno.

Tudo isso surgiu por acaso, porque o presidente é “louco” ou porque é o resultado de um longo processo? Quem pavimentou o caminho para Bolsonaro, estimulando este tipo de pensamento na opinião pública?

Mas tudo isso surgiu por acaso, porque o presidente é “louco” ou porque é o resultado de um longo processo? Quem pavimentou o caminho para Bolsonaro, estimulando este tipo de pensamento na opinião pública? Neste post, damos alguns exemplos de como, para arrancar o PT do poder, a mídia comercial, o PSDB e seus aliados apelaram a práticas semelhantes às de Bolsonaro antes de se tornarem ferrenhos defensores da democracia e do Estado de direito.

Confira.

1. Atacaram o STF

Exatamente como faz hoje o bolsonarismo, em 2014 o ministro Gilmar Mendes apontou a metralhadora giratória contra sua própria Casa, “alertando” sobre o “risco” de o Supremo Tribunal Federal “se converter em uma corte bolivariana”, mesmo que não houvesse qualquer sinal disso. Afinal, a Corte havia condenado vários petistas e aliados pelo mensalão apenas dois anos antes. “É importante que não se converta numa corte bolivariana. Isto tem de ser avisado e denunciado”, disse Gilmar, em entrevista repercutida nos sites alinhados ao tucanato, como o de Reinaldo Azevedo, que ecoou diversas vezes a acusação do ministro indicado por FHC a seus colegas de toga. Agora Gilmar cobra respeito de Bolsonaro ao STF.

2. Duvidaram da lisura das urnas eletrônicas

Também em 2014, o então senador Aécio Neves, derrotado nas urnas por Dilma Rousseff, pediu ao TSE uma auditoria para verificar a “lisura” da eleição. Foi a primeira vez desde o restabelecimento da democracia que um candidato derrotado pedia recontagem de votos.

Na solicitação, o PSDB sugeria a criação de uma comissão com representantes do tribunal e de partidos para verificar o sistema que apura e faz a contagem dos votos. Como Bolsonaro fez agora, o texto protocolado pelos tucanos não apresentava nenhuma evidência de fraude e se baseava nos questionamentos “que imperavam na sociedade” sobre a confiabilidade da apuração e a infalibilidade da urna eletrônica, manifestados “nas redes sociais”. Os blogueiros alinhados com o tucanismo celebraram.

Um ano depois, a auditoria feita pelo PSDB concluiu que não houve fraude na reeleição de Dilma, mas a semente da dúvida nas urnas eletrônicas estava plantada. Hoje, Reinaldo Azevedo afirma que, ao colocar sob suspeita as urnas eletrônicas, o presidente “quer golpe”. Bolsonaro “acusa de fraude o sistema eleitoral que elegeu o presidente (ele próprio), vinte e sete governadores, 513 deputados e 54 senadores. Ao fazê-lo, larga uma bomba no Poder Judiciário e se coloca como único fiador da política”, diz o colunista.

3. Minimizaram abusos da ditadura

Em 2009, o jornal Folha de S.Paulo publicou um editorial onde afirmava que a ditadura brasileira não tinha sido tão dura quanto os outros regimes militares na América do Sul. A daqui, que durou 21 anos, foi uma “ditabranda”, não uma ditadura, segundo a Folha, pisando na memória das vítimas da repressão, da tortura, dos desaparecimentos e dos assassinatos, a maior parte delas jovens. “As chamadas ‘ditabrandas’ –caso do Brasil entre 1964 e 1985– partiam de uma ruptura institucional e depois preservavam ou instituíam formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”, dizia o texto.

Quando Bolsonaro dá “nota dez” para a ditadura e diz que “o erro da ditadura foi torturar em vez de matar”, corrobora a tese da Folha de que o regime aqui foi “brando”. Aliás, não podemos esquecer que o tucano Aécio Neves, assim como Bolsonaro, chamava o golpe de “revolução”.

4. Criaram fake news

A mesma Folha acusada de ser “comunista” pelos bolsonaristas, que a apelidaram “Foice de S.Paulo”, e que tem suas repórteres atacadas por fake news foi incapaz de pedir desculpas a Dilma Rousseff por ter publicado na primeira página uma ficha criminal dela no DOPS comprovadamente falsa, numa reportagem onde o grupo que ela integrou na luta armada, a VAR-Palmares, era acusado de ter planejado sequestrar o ministro Delfim Netto durante o governo Médici, o que a então presidenciável petista também negou.

Em vez do tradicional “erramos”, o jornal apenas publicou um texto admitindo não haver conseguido provar que a ficha é autêntica, onde reconhece que, ao contrário do que afirmava, não havia sido o arquivo do DOPS a fonte da ficha e sim um e-mail enviado à autora da reportagem.

A mesma Folha que tem suas repórteres atacadas pelo bolsonarismo com fake news foi incapaz de pedir desculpas a Dilma por ter publicado uma ficha criminal dela no DOPS comprovadamente falsa

Imaginem se hoje alguém recebesse uma ficha criminal de Bolsonaro e publicasse na primeira página, sem checar… O ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva, após receber da própria Dilma laudos de especialistas da Unicamp que apontavam para a falsificação do documento, considerou as explicações da redação insuficientes, em um texto onde afirmava ser fácil para o jornal checar. “Se a Folha quer mesmo esclarecer o assunto, é simples: deve identificar a fonte que lhe enviou eletronicamente a ficha (assim, o público avaliará sua credibilidade) e instá-la a fornecer o documento original para exame de peritos isentos e pagos pelo jornal”, disse Lins da Silva. O jornal não o fez. Até hoje a ficha circula na internet como sendo verdadeira.

Em 2017, para defender Michel Temer das acusações de Joesley Batista, o grupo Globo acusou Dilma e Lula de possuir contas no exterior, mas acabou desmentindo o erro como uma “imprecisão” no dia seguinte.

“Na reportagem que foi ao ar o Jornal Nacional cometeu uma imprecisão. Dissemos que Joesley Batista tinha contado na delação premiada detalhes de duas contas correntes no exterior em nome dos ex-presidentes Lula e Dilma. Na verdade, Joesley Batista disse no depoimento que mantinha no nome dele duas contas com dinheiro destinado a Lula e Dilma, a ser usado em campanhas eleitorais”, corrigiu a emissora. As matérias sobre o caso, no entanto, continuam circulando normalmente.

5. Flertaram com o Clube Militar

O Clube Militar divulgou uma carta em apoio às manifestações contra o Congresso em dia 15 de março. “Não podemos permitir que se estabeleça um indevido ‘parlamentarismo branco’ se nosso sistema de governo é presidencialista”, diz o texto, concluído com o slogan de Bolsonaro: “Brasil acima de tudo!”

As movimentações na caserna estão causando furor em toda a mídia comercial não-governista. “Tem gente querendo fazer agitação em quartel”, denunciou Reinaldo Azevedo em seu programa. Houve uma época, porém, que o jornalista e seu colega do Globo, Merval Pereira, iam ao Clube Militar incitar os fardados contra Dilma Rousseff, candidata à sucessão de Lula.

Em setembro de 2010, um mês antes da eleição, os dois colunistas foram ao Clube Militar pedir  “vigilância” no caso de Dilma chegar à presidência, em virtude do que consideravam  ameaças à democracia e à liberdade de expressão. Na palestra A Democracia Ameaçada – Restrições à Liberdade de Expressão, organizada com o apoio do Instituto Millenium, a dupla pronunciou frases bem semelhantes às do guru de Bolsonaro, Olavo de Carvalho, para atacar o PT.

Reinaldo Azevedo e Merval Pereira iam ao Clube Militar incitar os fardados contra Dilma Rousseff, na época candidata a presidente. “Se o PNDH for aprovado no governo Dilma, estará instaurada a ditadura no Brasil”, disse Reinaldo

“Todos os passos na tentativa de controlar a imprensa não foram arroubos de grupos isolados. O controle da produção cultural do país é um objeto de estudo e de trabalho do governo federal. Existe uma tese, não é uma coisa por acaso. Desde o primeiro momento eles tentaram e tentam controlar a produção de notícias e a produção cultural no país”, disse Merval, repetindo a tese de “marxismo cultural” do bolsonarismo.

“É evidente que se tem hoje no Brasil a contaminação do processo democrático por teses autoritárias. Se o PNDH for aprovado no governo Dilma, estará instaurada a ditadura no Brasil, é simples”, afirmou Reinaldo, em referência ao Plano Nacional de Direitos Humanos. Damares, és tu?


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
(3) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Pedro Gabriel Portugal Junior em 11/03/2020 - 10h17 comentou:

Ótimo artigo Cynara. Sempre lúcida. São todos uns hipócritas. Parabéns.

Responder

LuisCPPrudente em 12/03/2020 - 10h30 comentou:

Parabéns por jogar nas caras cínicas dos “democratas” de hoje que eles foram golpistas e cínicos ontem. É o caso do cabeção Reinaldo Azevedo (será que se arrependeu de ser golpista?) e de algumas famiglias do PIG que posam de entes democratas hoje.

Responder

Evaldo em 12/03/2020 - 13h42 comentou:

É sempre bom e louvável relembrar as sandices de quem colaborou para a atual situação política. O PSDB, Aécio, Serra, Reinaldo Azevedo e toda essa turma precisam ser lembrados sempre de seus atos insanos!

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Politik

Direitista Macri também prometeu isenção de imposto de renda para os pobres –e não…


Bolsonaro faz a mesma promessa que seu ídolo não cumpriu, pelo contrário: mais trabalhadores argentinos pagam impostos do que antes

Politik

Juiz que mandou soltar jovens detidos critica PM de São Paulo: “Este tempo já…


O juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, do Tribunal de Justiça de São Paulo, fez duras críticas à atitude da Polícia Militar do Estado, que prendeu 26 jovens no domingo antes da manifestação contra Michel Temer…