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No ano do centenário da revolução russa, bloco soviético avança e sai em três capitais

Um espectro ronda o carnaval brasileiro: o bloco soviético não só está de volta como tomará as ruas em três capitais no ano em que se comemora o centenário da Revolução Russa. Desta vez, o Exército vermelho avança com muito mais ginga e malemolência, sem outra arma nas mãos que não o pandeiro, o tamborim […]

Cynara Menezes
15 de fevereiro de 2017, 20h20

internacional

Um espectro ronda o carnaval brasileiro: o bloco soviético não só está de volta como tomará as ruas em três capitais no ano em que se comemora o centenário da Revolução Russa. Desta vez, o Exército vermelho avança com muito mais ginga e malemolência, sem outra arma nas mãos que não o pandeiro, o tamborim e a cuíca.

Tudo começou com uma brincadeira de amigos no twitter, em 2013, entre eles a cantora Vange Leonel (1963-2014) e sua companheira, a jornalista Cilmara Bedaque. No primeiro ano, o bloco não conseguiu reunir nem 200 adeptos da ditadura gayzista e bolivariana ao redor do som que saía de um carrinho de feira nas proximidades do Tubaína, charmoso bar da Haddock Lobo, em São Paulo, que virou, desde então, o ponto de partida. Em 2016, já eram quase 5 mil foliões esquerdopatas. Para este sábado, 18 de fevereiro, vai ter carro de 13 metros de comprimento com banda ao vivo e bateria com 20 instrumentistas. Haja comunista bom de samba no pé.

missandrinha

Como se não bastasse a comuna momesca paulistana, réplicas do Bloco Soviético começam a surgir em outras capitais. O Bloco Soviético Vermelhim vai às ruas um dia antes, na sexta, 17, em Belo Horizonte, onde a revolução será permanente: em comemoração aos 100 anos da Revolução Russa, o Vermelhim promete repetir a dose todo dia 17, durante o ano inteiro. Em Brasília, o KGBloco Soviético sai no dia 4 de março no Parque da Cidade.

No bloco de São Paulo, o politburo decidiu que só dá entrevistas à imprensa soviética –até hoje só aceitaram falar com a Gazeta Russa.

– Mas o Socialista Morena não é considerado pró-soviético?, perguntei a uma das fundadoras.

– Não, camarada –ela respondeu, lacônica.

– O que você acha da crítica da direita de que fazer um bloco soviético é “celebrar um regime genocida”?

– Acho uma tristeza ter de explicar piada.

Tanto os “soviéticos” quanto os demais foliões de blocos alternativos estão reclamando que o prefeito João Doria Jr., o coveiro da revolução, ops, do carnaval, tenha criado um “blocódromo”, ou seja, as agremiações só podem desfilar em ruas escolhidas pela prefeitura, que serão fechadas. Somente neste percurso pré-determinado poderão desfilar até quatro blocos por dia. Com isso, o Bloco Soviético perdeu parte do seu trajeto original, a chamada Transiberiana, que ia da Haddock ao bar do Coco, na rua Fortunato, em Santa Cecília.

escravocrata

Mas o apreço do CEO de São Paulo pela burocracia não foi capaz de desanimar os bolchevique e mencheviques que desfilarão gloriosos em pleno reduto da burguesia cantando versões de marchinhas conhecidas, como Mulata Iê-Iê-Iê, de João Roberto Kelly, que virou Reaça Escravocrata, e Cachaça Não é Água, de Mirabeau, L.Castro, H.Lobato e M. Trigueiros Filho, que foi sovietizada para Se Você Pensa Que Orloff É Água (algumas das marchinhas ilustram este post).

O KGBloco Soviético de Brasília surgiu da iniciativa de estudantes da UnB. De Humanas, claro: Robert Rezende, de Filosofia, Hiago Lins, de Pedagogia e Jéssica Giuliana, de Gestão em Políticas Públicas. Tudo começou com um post de Robert no Face, em que falava do desejo de trocar umas purpurinas com gente ideologicamente semelhante no carnaval. “Cadê bloco soviético aqui no DF? Quero beijar uns comunista no carnaval, porque no ano passado até gente da Aliança Pela Liberdade eu beijei, não quero correr esse risco novamente. Vamos organizar um aqui”, escreveu ele. A Aliança Pela Liberdade é o movimento coxinha dentro da UnB.

Robert acha que os ataques da direita aos blocos soviéticos que vêm pintando no carnaval escondem um tantinho de inveja. Afinal, a direita tem se esforçado em mostrar que, ao contrário do que dizem por aí, também pode ser “transante” e até “festiva”, sem muito sucesso: o bloco de direita Libera Que Eu Conservo, convocado pelo guru “liberal” Rodrigo Constantino e pelo Movimento Reaça no Facebook reuniu meia dúzia de gatos pingados no Rio de Janeiro, no último domingo, 12. Parece que nem o Constantino apareceu.

orloff

“A direita é muito mal-humorada. A revolução russa não é unânime nem entre a esquerda… Eu me divirto muito e aproveito para debochar um pouco. Algumas palavras deixam eles extremamente nervosos, é tragicômico”, diz o estudante. “Quando eles nos veem brincando com a rixa entre Trotsky e Stalin, brincando com os dados que eles trazem, ou apresentando a Rússia como a principal responsável por barrar o nazismo eles ficam bem nervosos.”

Em Belo Horizonte, o idealizador do Bloco Soviético Vermelhim foi José Guilherme, militante do carnaval e da comunicação popular, que defende a politização do carnaval como forma de colocar a esquerda ocupando a rua também como foliã. A pretexto de comemorar o Centenário da Revolução Russa, os vermelhins de Beagá vão sambar todo dia 17 (Dia da Solidariedade Internacionalista) de 2017, às 17 horas, sempre na Praça Sete, espaço característico das mobilizações na cidade. Cabalísticos, estes comunistas.

A música-tema do bloco é a Internacional, tocada em ritmo de samba. “O bloco também vem para fazer este debate político-ideológico e estético, apresentando as conquistas da Revolução Russa como uma das maiores mobilizações sociais da história da humanidade, a chegada dos trabalhadores ao poder e a transformação de um país agrário, semi-feudal, na maior potência do planeta, com grandes avanços em todas as dimensões da sociedade”, diz um dos organizadores, Christian Coelho, professor de Literatura e escritor.

“Algumas conquistas dos trabalhadores soviéticos na Constituição de 1936, como a jornada de 7 horas de trabalho (6 em algumas áreas) e um amplo sistema de aposentadoria (60 anos para homens e 55 para mulheres, e até 50 para trabalhos pesados; ou de 20 a 25 anos por tempo de serviço). Essas conquistas da revolução, do início do século passado, são bandeiras ainda hoje de determinados movimentos organizados. Na conjuntura atual, diante do golpe, o retrocesso nessas questões pode ser enorme.”

Em Salvador, não tem bloco soviético mas tem o Filhos e Filhas de Marx, também comemorativo dos 100 anos da Revolução Russa, com o slogan: “Revolução é a festa do explorado e do oprimido”.

Sambe sem perder a ternura nos blocos soviéticos:

Bloco Soviético de São Paulo: sábado, 18 de fevereiro, 14h. Saída do Tubaína Bar – rua Haddock Lobo, 74, Bela Cintra.

Bloco Soviético Vermelhim, de Belo Horizonte: sexta, 17 de fevereiro, 17h. Saída da Praça Sete, centro.

KGBloco Soviético, de Brasília: sábado, 4 de março, 14h. Saída do Parque da Cidade, estacionamento 10.

Bloco Filhos e Filhas de Marx, em Salvador: sábado, 18 de fevereiro, 11h30. Saída do Santo Antônio Além do Carmo.

 

 

 


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