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Derrotas de Dilma e Suplicy indicam: fake news e não antipetismo impulsionaram fascismo

Candidatos ao Senado pelo PT foram alvo de intenso bombardeio de notícias falsas pelo whatsapp às vésperas da eleição

Dilma com Suplicy no Alvorada em 2016. Foto: Roberto Stuckert/PR
Cynara Menezes
09 de outubro de 2018, 00h51

As mentiras nas redes sociais, as chamadas fake news, foram o fator mais importante na ascensão do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro e seus aliados nas eleições de domingo. Foram as notícias falsas, espalhadas sobretudo pelo whatsapp, que impulsionaram a “onda” bolsonarista às vésperas da eleição, e não o “antipetismo” da sociedade. E a maior evidência disso são as derrotas inesperadas de Dilma Rousseff e Eduardo Suplicy na disputa para o Senado em Minas e São Paulo.

Tanto Dilma quanto Suplicy foram alvos de boatos compartilhados por milhares de perfis de extrema-direita nas redes sociais e perderam intenções de votos na reta final. Em uma das mensagens que mais bombaram no aplicativo em Minas, a petista era acusada de ser, ao lado de Lula, responsável por um rombo de 400 bilhões no BNDES que nunca existiu.

Mas a mentira contra Dilma que mais circulou no whatsapp foi a acusação de que ela teria matado pessoalmente o soldado Mário Kozel Filho quando militou na luta armada durante a ditadura. Dilma de fato integrou a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), mas suas funções sempre foram burocráticas, nunca pegou em armas.

Boato contra Dilma no whatsapp

Na mensagem mentirosa, compartilhada freneticamente pelo aplicativo na semana anterior à eleição, a suposta mãe de Mário Kozel, que teria hoje quase 90 anos (se ainda for viva), diz que “nunca mais teve paz” após a explosão que matou seu filho, em 1968. Mas a imagem da senhora que aparece na mensagem é do atentado ocorrido durante a maratona de Boston, nos EUA, em 2015, como você pode conferir neste link.

Foto: Boston Globe

O “meme” que originou a notícia falsa partiu, ao que tudo indica, do site de extrema-direita Política & Direito, que publicou a montagem em junho de 2017. A campanha de Dilma não respondeu porque nem chegou a tomar conhecimento de que a postagem estava circulando. O boato foi uma das razões, senão a maior delas, para que Dilma despencasse de primeiro para quarto lugar na votação.

A mentira contra Dilma que mais circulou no whatsapp foi a acusação de que ela teria matado pessoalmente o soldado Mário Kozel Filho quando militou na luta armada durante a ditadura, mas ela nunca pegou em armas

Sobre o vereador e candidato ao Senado Eduardo Suplicy, como não tinham nada para atacar no seu passado, recorreram à idade: um boato que se espalhou como pólvora nas redes dizia que ele está velho e não iria conseguir terminar o mandato, e que seu lugar seria ocupado por “um comunista”, o sindicalista Chicão, do PCdoB. O texto que circulava pelo whatsapp e que também foi compartilhado pelo facebook “alertava”:

“Repassem para seus contatos:

O Suplicy tem 77 anosO mandato de senador é de 8 anos. Ao final de seu mandato ele terá 85 anos. Claro que uma pessoa pode estar em ‘plena forma’ com essa idade, mas, se ele tiver qualquer problema (não estou ‘secando’!!!), assume o seu suplente. Vocês se deram ao trabalho de descobrir quem é o suplente dele ? Eu tive esse trabalho. Trata-se de um sindicalista chamado Eduardo Annunciato, vulgo Chicão, do PCdoB!!!! E ele não foi escolha do Suplicy. Foi escolha do partido. Ele só ficou conhecendo o Chicão no dia da convenção do PT (tudo isso está no UOL Notícias). Então, quem votar no SUPLICY pode estar elegendo o“conhecidíssimo” Chicão para senador.”

O mesmo texto circulou em formato de memes:

O maior beneficiado com a derrota de Suplicy foi justamente o candidato de Bolsonaro, Major Olímpio, que disparou às vésperas da eleição, ultrapassando o vereador petista e Mara Gabrilli, do PSDB. O próprio Olímpio criou uma fake news em seu twitter sobre Suplicy, afirmando que em 20 anos de Senado ele apenas tinha “defendido o PT e a corrupção”. O TRE ordenou a exclusão do tweet, mas o estrago estava feito.

Durante a eleição norte-americana, quando Donald Trump, o Bolsonaro dos EUA, pavimentou seu caminho à base de notícias falsas ao mesmo tempo que berrava fake news! para os outros, apenas três boatos foram capazes de levar Hillary Clinton à derrota, de acordo com um estudo da Universidade de Ohio. Um deles era bem parecido com o que usaram para atacar Suplicy: disseram que Hillary estava seriamente doente, com mal de Parkinson.

No início do mês, o site Nexo publicou uma reportagem mostrando as ligações de Bolsonaro e o guru de Donald Trump, Steve Bannon, hoje considerado o mentor intelectual da extrema-direita no mundo. O filho de Bolsonaro, Eduardo, recém-eleito deputado federal por São Paulo, esteve com Bannon em agosto em Nova York.

Um levantamento da Agência Lupa sobre as dez postagens falsas mais compartilhadas nas redes durante o primeiro turno mostra que todas elas beneficiam Bolsonaro. E o alvo principal das fakes news que mais circularam no facebook na eleição, rede onde as agências de checagem atuam, eram políticos do PT. Ou fake news “positiva” para o próprio candidato, como no caso de um “ato de apoio à saúde de Bolsonaro em Campinas” que era, na verdade, a imagem da torcida durante o jogo Brasil X Sérvia na Copa da Rússia. O fato de os bolsonaristas usarem a camiseta da CBF em suas manifestações facilita que qualquer agrupamento de torcedores da seleção vire marcha pró-Bolsonaro.

O PT precisa, urgente, encontrar uma vacina contra esta estratégia das fake news sobre temas morais ou perderá a eleição como aconteceu com Dilma e Suplicy

No domingo, o jornalista Leandro Beguoci revelou no twitter que, no ano passado, Jair Bolsonaro fez dois projetos de lei que envolvem o aplicativo, algo que nunca o havia interessado antes. Em um deles, apresentado em agosto de 2017, estabelece que apenas o Supremo Tribunal Federal pode suspender aplicativos de troca de informação pela internet.

Vale a pena ler os tweets (clique no primeiro para ver a sequência completa):

Algum dia os especialistas se debruçarão sobre a influência do whatsapp, espécie de terra-sem-lei das redes sociais, nas eleições brasileiras em 2018. Em entrevista nesta segunda-feira ao Jornal Nacional, Bolsonaro deu a senha para o que está por vir. Ao mesmo tempo que, como Trump, acusou os outros de atiçar notícias falsas contra ele, tocou nos pontos em que virão as fake news em seu benefício daqui para frente: temas morais, principalmente em relação às crianças. “Que a inocência da criança em sala de aula esteja acima de tudo”

Tudo indica que as fake news sobre “kit gays” inexistentes e bizarrices de todo tipo insinuando pedofilia, como a distribuição de mamadeiras com bico de piroca em creche, se multiplicarão para atingir Fernando Haddad. O PT precisa, urgente, encontrar uma vacina contra esta estratégia ou perderá a eleição como Dilma e Suplicy.

 


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(14) comentários Escrever comentário

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duduwalter em 09/10/2018 - 03h47 comentou:

Sem tomar lado, agora que só existem duas opções, o ideal é que o eleitor (soberano em seu voto) analise o programa de governo de cada um e decida (por conta própria) qual a proposta que lhe convém. Fake News existem pra todos os lados, sábio é o que pesquisa e toma sua própria conclusão.

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Wagner em 09/10/2018 - 07h27 comentou:

O que está acontecendo na verdade é que o povo está cansado do mesmo, PT esteve no poder por muito tempo, independente de fake news ou não essa eleição foi toda antipetista, além disso houve fake news dos dois lados. Não existe lado bom e lado ruim, tanto esquerda quanto direita tem pessoas boas e ruins, gente que propaga fake news e gente que luta contra isso. Enfim, acho que já passou da hora de mudar, só espero um pouco mais de tolerância de todas as partes.

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Celso Aparecido da Silva em 09/10/2018 - 07h42 comentou:

O fato é:
– 46% do nosso povo é racista.
– Preferem militares
– se acham ricos
– não se enxergam como pobres
– são analfabetos funcionais
– não querem justiça social para o outro
– defendem Petrobrás, mas não o petróleo brasileiro

Se, e somente se, a esquerda fosse unida teríamos liquidado no primeiro turno com Ciro e Haddad, Manuela D’Ávila, Guilherme Boulos

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Fabricio em 09/10/2018 - 13h10 comentou:

É uma tristeza toda essa enchurrada de notícias falsas nos grupos de WhatsApp. Usam de forma grosseira e manipuladora o posicionamento progressista, como se o objetivo deste fosse a miséria econômica e a decadência moral.

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Gustavo em 09/10/2018 - 16h55 comentou:

Ser mais enfático, acusar, condenar publicamente. Ajustar o discurso. Comunicar-se com o publico certo. Eu entendo perfeitamente o que ele diz, mas e o povo brasyleyro que acredita em tais fake news tão bizonhas ???

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Miranda em 09/10/2018 - 20h28 comentou:

Bela abordagem, Cynara. Detalhes relevantes de como se estrutura essa merda toda. No fundo a gente sabia que tinha o dedo do tio sam.

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João Junior em 09/10/2018 - 21h13 comentou:

O que mais me chama a atenção nesta eleição é a quantidade de “surpresas” de última hora. A quantidade de candidatos eleitos pelo PSL, a quantidade de candidatos do PT que ficaram de fora, mesmo favoritos, isso tudo para mim é absolutamente incrível e ainda mais que tenha ocorrido simultaneamente em muitos estados. E nem todos os apoiadores do Bolsonaro são do PSL, diga-se, mas de outros partidos, e muitos desrespeitando inclusive a orientação partidária para apoia-lo. Tudo tão incrível que custo a acreditar que esse movimento tenha passado despercebido das pesquisas eleitorais, que tenha passado incólume por um conjunto de observadores políticos experientes. Tem mais aí. Tem dinheiro, e não é pouco. Se entendo um pouco de política, mas só um pouco mesmo, é bastante provável que Bolsonaro, por ter pouco tempo de TV e tendo a internet e o exército de fake news a favor, e a própria verborragia contra, em algum momento passou a investir especificamente nas campanhas estaduais, mais precisamente em candidatos do partido dele e de outros aliados do Congresso, identificados com a candidatura dele, fugindo do debate no plano nacional e reforçando a imagem do outsider que Dória gostaria de ter. A facada em Juiz de Fora o afastou do plano de debate nacional e em nenhum momento ele mostrou preocupação com isso, o que reforça a hipótese do investimento em candidaturas estaduais que o alavancassem no plano nacional. Bolsonaro se gaba de fazer uma campanha barata, mas isso pode ser apenas distração, um contorcionismo financeiro, como com aquela doação da JBS. E Bolsonaro pode ter mesmo realizado uma campanha tão rica quanto as outras, mas contando com a discrição dos Estados e fugindo dos holofotes do debate nacional. Para mim, essas surpresas não aconteceram sem apoio financeiro, sem financiamento da campanha. Vejo que a eleição de tantos apoiadores, inclusive para o executivo nos estados eleitos já no primeiro ou indo para o segundo turno, como um sintoma desa estratégia de espalhar recursos de uma campanha nacional pelos estados. Seria a estratégia perfeita, ou quase, para o candidato que perde voto se abrir a boca. Acho mesmo que candidatos que se identifiquem politicamente com o discurso de ódio algo tão provável quanto a maçã de Newton subir pelo ar e se agarrar novamente à macieira. Isso é só uma estratégia que pode estar emergindo agora na campanha de Bolsonaro, a ponta do iceberg. O que pode ter atraído tantos políticos para o lado de Bolsonaro mais que a possibilidade de financiamento da campanha? O posicionamento político (sic) dele? Eu acho que não. A campanha de Bolsonaro tem lá suas características peculiares, mas falta de apoio financeiro, com certeza não é uma delas. Acho que tem mais que ainda não percebemos e nem o Haddad, nem o Ciro ou o Boulos perceberam esse movimento e mesmo se fosse Ciro Gomes a passar ao 2º turno, como estariam as coisas para o campo progressista? Melhores? Nesses dias de domingo para cá, observando as notícias, acho que apenas fomos enrolados, que não conhecíamos todos os números, acho que não tínhamos como prever tudo. Nem o PT, nem Ciro, nem Boulos. Então apenas o que sabemos a essa altura, a parte essa minha suspeita que é só suspeita, é que o povo escolheu Haddad para combater o fascismo. Unamo-nos!

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Sergio em 10/10/2018 - 15h38 comentou:

E essas pesquisas???

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Freitas em 10/10/2018 - 22h48 comentou:

kuá,kuá,kuá! O eleitor se guiou “Pelo ódio & pelo medo!” (que clichezaço!).
E o PT, hein?…
Buá!, buá, buá!
PT vive de clichês publicitários elaborados por marqueteiros. Nada espontâneo. Mas apenas um frio slogan (tal qual “Danoninho Vale por Um Bifinho”/Ou: “Fiat Touro: Brutalmente Lindo”). Não tem nada a ver com um projeto de Nação. Eis:

0.
“Coração Valente”
1.
“Fica Querida”
2.
“Impeachment Sem Crime é Golpe”
3.
“Foi Golpe”
4.
“Fora Temer”
5.
“Ocupa Tudo”
6.
“Lula Livre”
7.
“O Brasil Feliz de Novo”
8.
“Lula é Haddad Haddad é Lula”
9.
“Ele não”.
10.
“Haddad agora é verde amarelo”. [rsrsrs].

O PeTê é vigarista. Vive de mitos publicitários.

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    Cynara Menezes em 12/10/2018 - 01h33 comentou:

    “brasil acima de tudo e deus acima de todos” não é um slogan publicitário? não é um clichêzaço?

Ana em 11/10/2018 - 15h55 comentou:

Eu acompanho o movimento da direita há uns 4 anos, pois minha família é toda evangélica. Não me parece que são tão organizados assim, em termos políticos mesmo, o conservadorismo possui uma rede ampla, pois as igrejas neopentecostais, principalmente possuem uma rede muito organizada para disseminar suas verdades e colocar o fiel em uma bolha. Resumindo: escutam uma rádio, frequentam só festas, comércio, restaurantes de evangélicos ou irmãos da igreja, veem só novela bíblica e uma rede de TV, os filhos que seguem (não foi meu caso) se relacionam com gente da igreja, enfim, criam um mundo próprio e vivem nele. Desde as eleições passadas eu escuto minha mãe e meus tios que o país precisava ter alguém de pulso firme e sempre vinha o nome do tal Bolsonaro, pela família, bandido bom é bandido morto e pelo kit gay (acho que é hoje é só por isso), esses chavões impregnaram, cara eu ouvi centenas de vezes isso. Aí você junta a merda do último governo Dilma, com o empobrecimento da classe média que já tava se sentindo mais elite, o filho do classe média voltou pra escola pública, o carro do ano virou carro popular, as férias da disney vivaram férias em praia grande e por aí vai… Junta com a organização militar, com os meios de comunicação pouco exploradores pela esquerda (youtube) e a Globo espancando a esquerda, pronto, tá aí o resultado. E só pra complementar, no dia 6, antes das eleições meu primo foi sozinho na esquina de Avenida das Torres aqui em Curitiba, balançar a bandeira do Brasil, com uma camisa do Bolsonaro. Ele não ganhou nada pra isso. Pela minha vivência nesse meio acredito que esse cara tem uma facilidade em atrair pessoas sim, infelizmente.

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Heloisa Tonolli em 11/10/2018 - 16h33 comentou:

Não dá prá combater fake news e elas dão certo exatamente por causa disso: ao invés de falar sobre si e seu programa, o candidato fica se defendendo ou argumentando. A saída que eu vejo é colar o Boçalnazi ao Temer, lugar aliás, de onde ele nunca saiu.

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LUIZ FERNANDO NUNES RODRIGUES em 11/10/2018 - 20h42 comentou:

Canalhas

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Marcos em 16/10/2018 - 06h39 comentou:

Algo que devemos refletir é o “se”…já dizem que a família Bolsonaro luta por projetos e leis bizarros de proibir divulgar ideias de Marx. Como o colega acima disse o percentual de votos do candidato vem demonstrando a cultura de pouca evolução da igualdade…o ruim que personalidades importantes se calaram em nome do “ódio” a um partido progressista…momento difícil na história brasileira…algo para refletir qual a posição dos servidores públicos estatais de hoje na visão estado x sociedade….

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