Moro “acuou” e “coagiu” porteiro do Vivendas da Barra, acusou Witzel na CPI
Depoimento do ex-governador mostra que, mais de três anos após seu assassinato, Marielle continua incômoda ao bolsonarismo. Por quê?
É muito grave o que disse o ex-governador do Rio, Wilson Witzel, à CPI do Genocídio: que Jair Bolsonaro e seu então ministro da Justiça, Sergio Moro, intervieram para atrapalhar a investigação sobre os mandantes do assassinato da vereadora do PSOL Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em março de 2018. Witzel acusou diretamente Moro de haver “acuado” e “coagido” o porteiro do condomínio Vivendas da Barra, que dissera que o autor dos disparos, Ronnie Lessa, havia se dirigido à casa de Bolsonaro antes de cometer o crime. Lessa era vizinho do presidente no condomínio.
“Tudo isso começou porque eu mandei investigar sem parcialidade o caso Marielle. Quando foram presos os dois executores da Marielle o meu calvário e a perseguição contra mim foi inexorável”, disse o ex-governador à CPI. Ele afirmou que, logo após a notícia, a PGR (Procuradoria-Geral da República) abriu, a pedido de Moro, um inquérito para apurar o depoimento como uma forma de fazer o porteiro recuar da afirmação, o que de fato aconteceu menos de um mês depois.
Wilson Witzel afirmou na #CPIdaCovid que o “calvário” que resultou no seu impeachment começou com a prisão dos acusados de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes.
Ele citou uma live em que @jairbolsonaro o acusou de vazar informações da investigação. pic.twitter.com/QvrXMuFI8x
— Metrópoles (de 🏠) (@Metropoles) June 16, 2021
“O ministro Moro, logo após o porteiro, uma pessoa simples, prestar depoimento à Polícia Civil, logo depois o ministro Moro, de forma criminosa, lamentavelmente, requisita um inquérito para investigar crime de Segurança Nacional porque o porteiro prestou um depoimento para dizer que o executor da Marielle teria chegado no condomínio e mencionado o nome do presidente. Se isso é verdade ou não, isso não é problema meu, não tenho nada com isso, não sou juiz nem delegado do caso”, depôs Witzel.
“Agora, o governo do Rio de Janeiro não tomou nenhuma providência em relação a isso, foi a polícia que atuou, junto com o Ministério Público, e pediu um encaminhamento do processo junto ao Supremo Tribunal Federal. O porteiro, que estava como testemunha, recebe uma intimação da Polícia Federal –essa Polícia Federal que infelizmente eu não estou reconhecendo–, é uma Polícia Federal que vai lá à requisição do ministro da Justiça, e o Procurador-Geral da República abre um inquérito para acuar.”
“Qual é a outra leitura que se pode fazer disso? Eu sou jurista, é eminentemente uma acuação da testemunha no curso do processo feito por um Estado democrático –que não é democrático, né?– por um Estado no objetivo de coagir aquela testemunha. Óbvio, depois disso o que o porteiro fez? Pegou e falou que não tinha nada a ver, que ele se equivocou, etc. e tal. Eu cheguei a falar com a Defensoria Pública: ‘vocês não vão fazer a defesa do porteiro? Vocês não vão pedir ao porteiro para entrar no programa de proteção à testemunha?’ O porteiro estava apavorado. Ele não quis mais falar nada nem entrar no programa de proteção à testemunha”, relatou Witzel.
Witzel revelou empenho de Moro de usar a PF para intimidar o porteiro do condomínio de Bolsonaro, que mudou de depoimento e calou-se. O porteiro havia admitido que Élcio Franco, assassino de Marielle, requisitou para a casa de Bolsonaro entrada no condomínio no dia do assassinato pic.twitter.com/juqZQU6cCU
— Jorge Solla (@depjorgesolla) June 16, 2021
Ora, se Moro, a pedido do “chefe”, como o ministro tratava Bolsonaro, segundo o próprio Witzel, interveio para pressionar uma testemunha, isso é crime de obstrução de Justiça e precisa ser investigado. Alguma verdade há no relato do ex-governador, porque a cronologia confere: no dia 29 de outubro de 2019, saiu a matéria sobre o depoimento do porteiro no Jornal Nacional; nesta mesma noite, falando de Dubai, Bolsonaro acusa Witzel de estar por trás da revelação; no dia 30 de outubro, o Procurador-Geral Augusto Aras atende pedido de Moro e abre inquérito sobre o depoimento do porteiro.
Alguma verdade há no relato do ex-governador, porque a cronologia confere: no dia 29/10/2019, saiu a matéria sobre o porteiro no Jornal Nacional; na mesma noite, de Dubai, Bolsonaro acusa Witzel de estar por trás; no dia 30/10, a PGR atende pedido de Moro e abre inquérito sobre o depoimento do porteiro
Segundo o livro de presenças da portaria, Élcio Queiroz –apontado como o motorista do carro usado no assassinato de Marielle– entrou no condomínio horas antes do crime dando como destino a casa 58, de Bolsonaro. O porteiro foi ouvido pela polícia e reiterou essa informação. Ele disse que ligou para a casa 58 e foi atendido por “Seu Jair”. O porteiro deu essa versão em dois depoimentos, mas voltou atrás em um terceiro depoimento, dia 19 de novembro de 2019, menos de um mês após a abertura do inquérito pela PGR. Declarou que lançou errado na planilha o número da casa do presidente.
As declarações surpreendentes de Witzel agitaram o bolsonarismo nas redes e na CPI. O filho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro, questionou o ex-aliado, e mais uma vez ele voltou a repetir sobre a intimidação do porteiro. “Não sou porteiro, não vai me intimidar, não”, atacou Witzel, que acabou solicitando uma inquirição reservada aos senadores, em sigilo de Justiça.
No twitter, Eduardo Bolsonaro se referiu à vereadora assassinada e a Witzel como “cachorros mortos”.
Desenterram cachorros mortos para atacar Bolsonaro. https://t.co/dc956vuHzp
— Eduardo Bolsonaro🇧🇷 (@BolsonaroSP) June 16, 2021
Não sabemos se Wilson Witzel terá condições de provar o que acusa. Nem se haverá interesse daa Polícia Civil do Rio de Janeiro, sob o comando do bolsonarista Claudio Castro, em apurar as denúncias. Mas seu depoimento à CPI mostra que Marielle Franco continua incômoda ao bolsonarismo. Eles sempre atacaram a vereadora morta, inclusive associando-a, com fake news, ao crime organizado –e isso muito antes de o porteiro mencionar a casa do presidente.
Por que uma mulher negra assassinada incomoda tanto ao bolsonarismo? Não há como não pensar que, para que haja resposta a esta pergunta, é preciso que outra seja respondida: afinal, quem mandou matar Marielle?
Não podemos esquecer que Bolsonaro foi o único dos pré-candidatos à presidência em 2018 que não lamentou o assassinato. E que o próprio Witzel, então bolsonarista roxo, aparece na foto famosa, ao lado dos dois trogloditas rasgando uma placa em homenagem à vereadora morta.
Por que uma mulher negra assassinada incomoda tanto ao bolsonarismo? Não há como não pensar que, para que haja resposta a esta pergunta, é preciso que outra seja respondida: afinal, quem mandou matar Marielle?
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Luis Carlos Kerber em 17/06/2021 - 21h24 comentou:
O tal Marreco de Maringá vai se encaminhando para se tornar um Savonarola. Como um sujeito medíocre desse consegue se tornar um juiz federal? O conje comprou uma vaga de juiz federal? Ou ele entrou pela cota de canalhas (cota essa que permite que um monte de pilantras assumam) no Juizado Federal?
Bernardo Santos Melo em 18/06/2021 - 23h48 comentou:
Marielle e Celso Daniel , assassinados porém vivos e atuantes contra os poderosos que lhes retiraram o direito à vida .
Genô e seus filhotes tremem e perdem o fôlego quando o PORTEIRO diz : Casa 58 de seu JAIR .
Ladeira abaixo , desce o Brasil , metade da população beira à fome , Amazônia assiste o fogo crescente , a chegada da BOIADA e a partida da MADEIRA extraída ILEGALMENTE
,nos aviões da FAB o brilho fica por conta dos 39 kg apreendidos na Espanha , sucesso total só Juliette e o COVID 19 , 50o mil mortes e GENÔ passeando de MOTOCICLETA como bom neonazifascista .
Mas há um grito entalado , nas ruas venceremos , ainda haveremos de enjaular o MONSTRO .