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No Dia Mundial Sem Tabaco, mídia destacou “estudo” de fundação criada pela Philip Morris

Como o lobby das grandes corporações faz com que estudos patrocinados pela própria indústria virem pesquisas "científicas" nos jornais

Foto: Sidney Oliveira/Ag. Pará
Cynara Menezes
01 de junho de 2018, 12h01

Vejam como o lobby das grandes corporações faz com que estudos patrocinados pela própria indústria virem pesquisas “científicas” nos meios de comunicação hegemônicos.

Nesta quinta-feira, Dia Mundial Sem Tabaco, os principais veículos da mídia comercial brasileira divulgaram como se fosse científico um “estudo” feito pela Foundation for a Smoke-Free World sobre o vício do tabagismo no país, omitindo a seus leitores que a fundação foi lançada em setembro do ano passado pela Philip Morris, a gigante dos cigarros.

Fabricante do Marlboro, a Philip Morris  anunciou na época que destinará 80 milhões de dólares nos próximos 12 anos à fundação, criada com o objetivo de fazer as pessoas trocarem os cigarros de tabaco por vaporizadores (Iqos), “coincidentemente” também fabricados pela empresa.

Jornais e portais omitiram que a autora do “estudo” é uma fundação lançada pela Philip Morris com o objetivo de fazer as pessoas trocarem os cigarros de tabaco por vaporizadores (Iqos), “coincidentemente” também fabricados pela empresa

Os jornais Zero Hora e Estadão, a revista Exame e os portais UOL e Terra deram destaque ao “estudo”, que busca, justamente, apelar para a “redução de danos” como política de combate ao vício em tabaco e pavimentar o caminho para os vaporizadores. Os meios brasileiros simplesmente fizeram CtrlC+CtrlV do release enviado pela fundação, que fala em como ela está “comprometida em financiar uma série de pesquisas que priorizará a descoberta de novos métodos para redução de danos”. Como no release está destacado que a fundação é “independente”, a mídia comercial brasileira apenas repetiu o texto, sem checar que entidade é esta.

CtrlC+CtrlV

“A Foundation for a Smoke-Free World é uma organização independente, sem fins lucrativos, criada para acelerar os esforços globais em reduzir os impactos na saúde e mortes pelo cigarro e tem como objetivo eliminar o tabagismo em todo o mundo”, diz o texto replicado por nossa mídia. Quando a fundação foi lançada, para dar aquele ar de “neutralidade” e seriedade, a empresa contratou um ex-diretor da OMS (Organização Mundial de Saúde) para ser o presidente, fato citado em todas as “matérias” sobre o tal estudo.

A OMS, no entanto, publicou um comunicado salientando não ter nada a ver com a empreitada e apontou o conflito de interesses da indústria do tabaco com uma iniciativa “contra o tabaco”. “A Assembleia Geral da ONU reconheceu um conflito de interesses fundamental entre a indústria do tabaco e a saúde pública. A OMS não se envolve com a indústria do tabaco ou com atores não estatais que trabalham para promover seus interesses. Por isso, o organismo internacional não se envolverá com esta nova fundação”, afirmou a agência da ONU.

Os meios brasileiros simplesmente copiaram o release enviado pela Foundation for a Smoke-Free World, inclusive quando ela destaca ser “independente”, sem checar que fundação é esta

Sempre citando o presidente da fundação, Derek Yach, como “ex-diretor da OMS”, a mídia comercial brasileira não teve estes pruridos. Assinou embaixo do “estudo” altamente pessimista da tal fundação, que afirma que os brasileiros, mesmo informados sobre os riscos, supostamente prefere continuar fumando: 72% dos que tentaram, desistiram. É o mote perfeito para Yach pontificar: “Muitos fumantes não querem parar porque obtêm prazer ao fumar. Os avanços em produtos para redução de danos são literalmente uma questão de vida ou morte”, disse.

Que “produtos” serão esses? Cigarros eletrônicos, talvez? Em 2016, o CEO da Philip Morris, André Calantzopoulos, disse à BBC que a empresa gostaria de atuar junto a governos para promover o fim dos “cigarros convencionais”, isto é, substitui-los pelos Iqos, que continuariam dando lucros bilionários à empresa sem (provavelmente) tantas ações na Justiça. O vaporizador do fabricante do Marlboro, que funciona a bateria, produz nicotina, mas não efetua a combustão do tabaco. A empresa sustenta que o vapor produzido alcança temperaturas muito mais baixas do que os cigarros convencionais e por isso seria “mais saudável”.

 


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