Socialista Morena
Politik

Orlando esnoba foice & martelo: “um chip pode ser o símbolo de identidade dos trabalhadores”

Candidato do PCdoB admite troca de nome do partido no futuro e alfineta adversários de esquerda na corrida eleitoral em São Paulo

Orlando em campanha. Foto: divulgação twitter
Da Redação
22 de outubro de 2020, 22h27

Em entrevista a Cynara Menezes no Jornal da Fórum, o deputado federal Orlando Silva, candidato a prefeito pelo PCdoB, admitiu que o partido pode mudar de nome no futuro e questionou inclusive o uso da foice e do martelo como símbolo de esquerda. “Pode mudar de nome, do meu ponto de vista. O que não pode mudar é de programa. Outro dia eu falei assim, a turma reclamou: mano, foice e martelo não necessariamente é o melhor símbolo de identidade para os trabalhadores. Pode ser um chip o símbolo de identidade dos trabalhadores”, disse.

O comunista também alfinetou os adversários do campo da esquerda, atribuindo a eles um papel na “despolitização” da campanha. “Márcio França é como aquele carro total flex, você pode ter álcool, gasolina, bateria elétrica… Ele já tentou se aproximar de Bolsonaro, aí saiu do Bolsonaro… É o total flex. Meu amigo Jilmar fica olhando no retrovisor: ‘ó, lá foi assim, vamos voltar a ser assim’, só que o mundo já mudou. E o outro amigo meu fica cantando ‘meu calhambeque bi-bi’. É meu calhambeque bi-bi pra cá, meu calhambeque bi-bi para lá”, disse, em referência ao psolista Guilherme Boulos, cujo Celta 2010, o “Celtinha prata”, é exibido como estrela da campanha.

Pinçamos algumas boas frases de Orlando na entrevista, que você também pode assistir na íntegra em vídeo.

Comunismo

“Eu sou comunista, sou comunista sempre. Estudei o assunto, não estou aqui a passeio. E eu vejo o capitalismo como um regime incapaz de dar um horizonte de promoção de oportunidades, de igualdade, justiça, liberdade, democracia. Eu não vejo como fazer isso no sistema capitalista. Sou comunista com convicção, comunista brasileiro, não sou russo, não sou grego. A gente tem que tropicalizar, fazer do nosso jeito.”

Mudar o nome do partido

“Pode mudar de nome, do meu ponto de vista. O que não pode mudar é de programa. Outro dia eu falei assim, a turma reclamou: mano, foice e martelo não necessariamente é o melhor símbolo de identidade para os trabalhadores. Pode ser um chip o símbolo de identidade dos trabalhadores. A máxima exploração da mais-valia está em processos de produção altamente automatizados, robotizados. Não dá para você ficar se agarrando. É claro que tem um valor simbólico, cultural, a aliança do campo e da cidade, só que a gente não pode se agarrar no detalhe. Então, se tiver um debate com começo, meio e fim, manter o programa, eu não morreria do coração, não, se houvesse alguma mudança de forma. Forma também é importante para comunicar o conteúdo.”

Mano, foice e martelo não necessariamente é o melhor símbolo de identidade para os trabalhadores. Pode ser um chip. A máxima exploração da mais-valia está em processos de produção altamente automatizados, robotizados

Alfinetadas no PT e no PSOL

“O PT não foi parceiro do PT, é parceiro do PT. Nós compomos no Congresso Nacional o campo de oposição, operamos política juntos. O que não quer dizer que você tem que estar aliado o tempo inteiro. Parceiros não quer dizer que tem que manter uma posição de subordinação o tempo inteiro. Eu acho engraçado quando falam: ‘Mas como pode o PCdoB ter um candidato a prefeito?’ E qual o problema? ‘Ah, a esquerda vai ficar dividida’. Em 2018, o PT tinha candidato, o PSOL tinha candidato. Aliás, o candidato do PSOL que está muito bem nas pesquisas em São Paulo, em 2018 não fez 1%. E eu não vi ninguém pedindo para ele retirar a candidatura para apoiar o Haddad. O PSOL agora virou aliado do PT, mas quando o PT governava o Brasil, o PSOL sempre foi oposição ao Lula. Era uma oposição que tinha um discurso udenista. Eu acho graça hoje quando o PT e o PSOL se aproximaram um pouco, parece que o tempo passado não existiu. Eu era do governo Lula quando via os líderes do PSOL esculhambando de cima a baixo o governo de Lula, esculhambando de cima a baixo o governo de Dilma. Mas parece que 2016 produziu uma espécie de purgatório. O camarada entrou no purgatório e saiu limpinho. Toda aquela confusão que havia antes, como que por encanto parou de existir.”

Márcio França é total flex: já tentou se aproximar de Bolsonaro, aí saiu do Bolsonaro... Meu amigo Jilmar fica olhando no retrovisor: 'ó, lá foi assim, vamos voltar a ser assim', só que o mundo já mudou. E o outro amigo meu fica cantando 'meu calhambeque bi-bi'

Os “carros” na corrida eleitoral em São Paulo

“Eu estou meio impressionado com o nível do debate político, mesmo do campo progressista. Olhe os programas eleitorais, as campanhas nas redes sociais. Márcio França é como aquele carro total flex, você pode ter álcool, gasolina, bateria elétrica… Ele já tentou se aproximar de Bolsonaro, aí saiu do Bolsonaro… É o total flex. Meu amigo Jilmar fica olhando no retrovisor: ‘ó, lá foi assim, vamos voltar a ser assim’, só que o mundo já mudou. E o outro amigo meu fica cantando ‘meu calhambeque bi-bi’, é meu calhambeque bi-bi pra cá, meu calhambeque bi-bi para lá… Nós devíamos era mirar na testa do Bolsonaro, na testa do Russomanno, fazer uma crítica consistente ao que os tucanos fizeram em São Paulo. Sinto falta de política na eleição em São Paulo e a esquerda é parte da despolitização.”

O “projeto nacional de desenvolvimento” é ideia de quem?

“Respeito a liderança do Ciro, mas se cópia houve, ele copiou o programa do PCdoB. Lá está escrito: ‘novo projeto nacional de desenvolvimento’. Esse é um tema programático para nós, já tem mais de 20 anos que foi aprovado, acho que foi em 2001 ou 2005. Esse é um termo que na verdade é um desafio do Brasil. O Brasil é um país que tem uma democracia de baixa incidência, que tem uma elite miserável, patrimonialista, vagabunda, que não tem projeto nenhum, eles vivem de renda. O Skaff é presidente da FIESP e não tem uma fábrica, esses caras da Paulista vivem de renda, não produzem um prego.”

Até negros que ficam postando 'vidas negras importam', na hora que pode votar num negão para prefeito, vai atrás igual cordeirinho do que determinada orientação política traz. Eu subo na tribuna da Câmara e olho para o plenário, parece que eu tô na Suécia

A questão identitária

“O Brasil tem uma marca profunda da escravidão. Um país que, de 500 anos de vida, teve quatro séculos de escravidão, três séculos de escravidão negra. Eu não posso ser defensor de um projeto que traga apenas o olhar dos trabalhadores ignorando essa herança pesada, esse fardo que os negros têm no Brasil. O mesmo eu poderia falar das mulheres. Você não pode falar de sociedade democrática com o machismo, que como o racismo é estrutural. Então eu acredito num projeto que é de classe, de gênero e de raça. São Paulo será uma cidade melhor para todos quando for uma cidade melhor para os negros. Mas até negros que ficam postando ‘vidas negras importam’, indignado com a morte de George Floyd, do garoto João Pedro, na hora que pode votar num negão para ser prefeito, num negão para vereador, vai atrás igual cordeirinho do que determinada orientação política traz. Não pode, cara. Vidas negras importam, mas representatividade também importa. Eu subo na tribuna da Câmara e olho para o plenário, parece que eu tô na Suécia.”

 


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
(3) comentários Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Bernardo Santos Melo em 23/10/2020 - 06h03 comentou:

São Paulo amanheceu comemorando e motivado , já se ouve um cântico uníssono…Boulos chegou,Erundina voltou!
E assim como um perfume espalhando-se pela cidade , o cheiro DO POVO INDIGNADO contra ÓDIO e a FAMILÍCIA avança como uma fumaça libertária .
B O U L O S & ERUNDINA é o VOTO do BRASIL , UM NÃO ROTUNDO contra o CLÃ MILICIANO CARIOCA , Foooooora BOZENTOS RACHADEIROS FECALIZADOS !

Responder

PAULO ROBERTO MARTINS em 23/10/2020 - 12h37 comentou:

Boa entrevista,boas respostas.Apenas continua aquela dúvida: porque a esquerda continua se alfinetando na hora H e deixa sempre o caminho livre para a direita ganhar? Não seria hora de fazer aquilo que ele critica com a união do PT com o PSOL e primeiro ganhar,tirar o fascismo do poder e depois sim discutir quem é mais ou menos socialista? Neste sentido o Orlando não ajudou em nada! Outra,chip nunca se identificou com operário nem aqui nem na China.Chip se identifica com robô! Se a foice e o martelo são simbolos discutíveis em nossos dias,ainda são mais representativos do que chips de robôs!

Responder

Simone em 23/10/2020 - 13h06 comentou:

Está correto, tem que mudar de nome e de símbolo, mas porque não condiz com a política do partido, não são comunistas nem aqui nem em lugar nenhum.

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Politik

Resultado da eleição indica que a esquerda subestima a força das questões identitárias


Tem gente que fala que as questões de gênero e raça "tiram votos"; o aumento do número de trans, negros e mulheres vereadorxs aponta o contrário

Politik

Tatto sobre a mídia: “Eles insistem, querem que eu fale mal do Boulos. Não…


Candidato diz que a animosidade contra o PT diminuiu. "Mesmo quando a pessoa não aceita, não agride mais. Melhorou o clima, a rua está boa para o PT"