Socialista Morena
Direitos Humanos

Uma semana após invasão, diplomatas venezuelanos temem por sua integridade física

"Como não houve punição, a embaixada ficou vulnerável, sujeita a ataques de facínoras", diz encarregado de Negócios

O encarregado de negócios Fred . Foto: Cynara Menezes
Cynara Menezes
19 de novembro de 2019, 17h22

Uma semana após a embaixada da Venezuela em Brasília ter sido invadida por um grupo de extrema direita, os diplomatas que trabalham e vivem no local continuam a temer por sua integridade física. “Nos preocupa a questão da impunidade”, diz o encarregado de Negócios Freddy Meregote, representante do país no Brasil –desde 2016, em protesto ao golpe contra Dilma Rousseff, não foi nomeado um novo embaixador. “Como ninguém foi punido, a embaixada ficou vulnerável. A qualquer momento podemos ser atacados por facínoras.”

Desde a invasão, na quarta-feira 13, duas viaturas da Polícia Militar do Distrito Federal permanecem 24 horas diante dos portões da representação diplomática venezuelana, mas a parte de trás, por onde entrou o grupo de cerca de 20 pessoas após cortar a cerca elétrica, continua desguarnecida. Eram 6 horas da manhã quando Meregote foi avisado pelo adido militar de que havia pessoas estranhas dentro da propriedade, onde vivem oito adultos e cinco crianças.

A atitude do governo brasileiro nos coloca em estado de incerteza, de desassossego. A vida de todos nós está em risco. É uma posição estranha a do governo, um tanto tímida, diante do que aconteceu. São famílias com crianças aqui

Os invasores, que os diplomatas chamam de “terroristas”, colocaram cones impedindo a saída dos carros do pessoal da embaixada que vive ali. “Fomos sequestrados, cerceados do direito de ir e vir. Se houvesse alguma emergência não teríamos como sair”, disse Meregote. A PM nada fez para impedir que os invasores se instalassem e ainda impediu a passagem dos parlamentares que queriam entrar para negociar, apesar de a situação contrariar a Convenção de Viena da ONU, de 1961, que garante a proteção das missões diplomáticas pelo país anfitrião, reconhecida pelo Decreto 56.435, de 1965.

A Convenção diz explicitamente que “o Estado acreditado tem a obrigação especial de adotar todas as medidas apropriadas para proteger os locais da Missão contra qualquer intrusão ou dano e evitar perturbações à tranqüilidade da Missão ou ofensas à sua dignidade”. No entanto, as autoridades brasileiras foram no mínimo omissas. O governo Bolsonaro só soltou nota condenando a invasão após eles terem sido expulsos por um grupo de militantes e de deputados de esquerda.

“O presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da embaixada da Venezuela”, dizia o comunicado, assinado pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional), comandado pelo general Augusto Heleno. A invasão da embaixada, no mesmo dia em que Brasília sediava a Convenção de Cúpula dos Brics, foi, porém, apoiada pelo próprio filho do presidente da República, Eduardo Bolsonaro, em publicações no twitter dizendo que estava sendo feito “o certo, o justo”.

“A chegada dos movimentos sociais foi vital para salvaguardar nossa integridade contra os terroristas”, afirma o diplomata Meregote. Para ele, o mais grave é a inércia do governo em investigar e punir os culpados pela invasão. Ninguém até agora foi indiciado. “As autoridades deveriam investigar, dar uma resposta contundente. A atitude do governo brasileiro nos coloca em estado de incerteza, de desassossego. A vida de todos nós está em risco. É uma posição estranha a do governo, um tanto tímida, diante do que aconteceu. São famílias com crianças aqui.”

A invasão da embaixada foi denunciada às organizações internacionais pelo governo Nicolás Maduro, que mencionou a “passividade” das autoridades policiais brasileiras. O encarregado de Negócios também criticou a OEA (Organização dos Estados Americanos). “Infelizmente a OEA atua hoje como uma ferramenta imperialista para atacar nossa região”, disse.

“O Brasil não só não protegeu o corpo diplomático venezuelano, como também integrantes do Itamaraty estavam lá para retirar o corpo diplomático legalmente constituído da Venezuela”, denunciou o senador Rogério Carvalho

Nesta segunda-feira, 18 de novembro, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) denunciou no plenário que o Itamaraty foi informado da invasão. “Estamos aqui diante de uma situação gravíssima. Você tem o Itamaraty informado de uma invasão a uma embaixada e o Itamaraty não toma nenhuma providência para preservar e cumprir todas as garantias e todos os tratados internacionais de que o Brasil é signatário. E o Brasil não só não protegeu o corpo diplomático venezuelano, como também integrantes do Itamaraty estavam lá para retirar o corpo diplomático legalmente constituído da Venezuela”, acusou o senador.

Carvalho protocolou dois requerimentos, convocando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e convidando Maria Teresa Belandria, reconhecida pelo governo brasileiro como a embaixadora do autoproclamado presidente da Venezuela, deputado Juan Guaidó, para comparecer à Comissão de Constituição e Justiça do Senado e prestar esclarecimentos sobre a invasão.

Com informações da Agência Senado

 


Apoie o site

Se você não tem uma conta no PayPal, não há necessidade de se inscrever para assinar, você pode usar apenas qualquer cartão de crédito ou débito

Ou você pode ser um patrocinador com uma única contribuição:

Para quem prefere fazer depósito em conta:

Cynara Moreira Menezes
Caixa Econômica Federal
Agência: 3310
Conta: 000591852026-7
PIX: [email protected]
(1) comentário Escrever comentário

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião da Socialista Morena. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

joão ferreira bastos em 20/11/2019 - 10h27 comentou:

Tragam 1 duzia de soldados, muito bem armados e os próximos que tentarem invadir o território venezuelano, metam bala

Responder

Deixe uma resposta

 


Mais publicações

Direitos Humanos

Globo diz que novela “baiana” não tem negros porque Taís Araújo estava ocupada


Assista também no post ao vídeo que está viralizando no facebook ao ironizar novela escandinava da Globo passada na Bahia

Direitos Humanos

Pinochet vive: os vídeos da polícia chilena espancando manifestantes


Como podemos falar em democracia se a ideologia que guia as forças policiais na América do Sul continua a mesma da ditadura?