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CPI “escolinha do professor Raimundo” confirma zorra total do bolsonarismo no Congresso

E o salário, ó! Só que não...

Dona Cacilda, ops, Joice Hasselmann na CPMI. Foto: Geraldo Magela/Agência Senado
Cynara Menezes
05 de dezembro de 2019, 17h24

Metida num discreto terninho preto, a loiríssima Dona Cacilda, supostamente arrependida por ter feito parte da turma do fundão, senta-se ao lado do amado mestre na carteira do professor, pronta a detonar os antigos coleguinhas, hoje desafetos. Seu primeiro alvo é a ex-melhor amiga dona Bela, toda faceira na fila da frente da classe:

– Sua burra! O presidente me perguntou se você tinha sido prostituta na Espanha. Seu ex-marido já confessou publicamente ter problemas com drogas. Você fez uma foto na avenida Paulista com dizeres fofos na barriga e na segunda o aborto já estava marcado. Mentirosa! Manipuladora! Psicopata! Beijinho, beijinho, pau, pau!

Um bom roteirista não teria a menor dificuldade em adaptar os diálogos do depoimento da deputada Joice Hasselmann à CPMI das Fake News para um episódio trash da imortal Escolinha de Chico Anysio

No meio da turma, o musculoso Paulo Cintura apoia a amiga e provoca o ex-parceiro de academia, Bebeto, caprichando no sotaque carioca:

– Quando me conheceu no jogo do Flamengo o senhor sentou no meu colo… Não sabia que eu já tinha ido aí.

Claque: hahahaha.

O malandro Bebeto não deixa por menos.

– Ih, ó o cara, aê. Mas como ele fala que eu sentei no colo se ele admitiu que teve de fazer uma prótese para implantar um pênis?

Claque: hahahaha.

Cintura parte para a ignorância, ou melhor, para a tréplica.

– O problema é que eles ficam excitados com essas coisas a meu respeito. Iiiissa!

O professor Raimundo bem que tentou lembrar aos alunos que o Brasil inteiro os estava assistindo, mas, como na ficção, também sucumbiu aos comentários sem graça.

– A senhora já chorou bem, está vermelhinha…, disse ele à Dona Cacilda ao final da “aula”.

Um bom roteirista não teria a menor dificuldade em adaptar os diálogos do depoimento da deputada Joice Hasselmann à CPMI das Fake News para um episódio trash da Escolinha do Professor Raimundo. Os trechos que compilei acima, à exceção dos bordões dos personagens citados, são literais. Não há sombra de dúvida que o bolsonarismo e o ex-bolsonarismo levaram o Congresso ao nível “zorra total”.

Dava vergonha alheia assistir ao desfile de deputados de extrema direita despreparados e desqualificados se atacando uns aos outros na CPMI. Como os brasileiros puderam eleger essa gente? Como pudemos decair tanto?

Palavras de baixo calão, fofocas, provocações rasteiras… Dava vergonha alheia assistir ao desfile de deputados de extrema direita despreparados e desqualificados se atacando uns aos outros na CPMI. As revelações de Hasselmann de que as milícias virtuais foram bancadas com quase meio milhão de reais em dinheiro público e de que é o próprio filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, quem comanda os ataques virtuais, acabaram obscurecidas pela baixaria dos governistas. Como os brasileiros puderam eleger essa gente? Como pudemos decair tanto? Talvez as próprias fake news expliquem.

As oito horas de sessão, em que pesem as graves denúncias feitas pela ex-líder do governo no Congresso, podem ser resumidas em uma gigantesca lavagem de roupa suja por parte de membros do PSL, o partido que o presidente da República usou para se eleger e agora rejeita. Não há dúvida, porém, que cada uma daquelas novas estrelas do baixo clero legislativo foi criada à imagem e semelhança do ídolo Jair Bolsonaro em seus longos anos como parlamentar –assim como os detratores de Joice no twitter são a exata imagem do “mito” refletida no espelho.

Robôs ou de carne e osso, fictícios ou reais, cidadãos comuns ou parlamentares eleitos pelo povo: o Brasil virou um interminável quadro de humor de mau gosto, protagonizado por personagens patéticos de um país que perdeu o rumo após o golpe contra Dilma. Peço até perdão ao grande Chico Anysio pela comparação com sua imortal escolinha, mesmo porque o que estamos vivendo não é cômico, é trágico.

E o salário, ó… Só que não.

 


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