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Efeito CPI: a volta triunfal do Zé Gotinha após um ano de ostracismo

Até então, a única aparição de destaque do personagem no governo Bolsonaro havia sido empunhando uma metralhadora

Queiroga, ministro da Saúde, apresenta campanha de vacinação. Foto: Tony Winston/MS
Cynara Menezes
08 de junho de 2021, 14h29

Ao contrário do sinistro Mosquito da Dengue, que manteve seu prestígio inabalado no governo Bolsonaro, o simpático Zé Gotinha andou escanteado das campanhas do Ministério da Saúde em 2020.

Durante os 10 meses da gestão Pazuello, a única vez em que o personagem infantil ganhou destaque foi quando apareceu empunhando uma metralhadora em postagem do filho do presidente, Eduardo Bolsonaro, para indignação geral e de seu criador, o artista plástico Darlan Rosa. Agora, após a CPI do Genocídio ser instalada, o personagem  voltou a ser protagonista das campanhas do ministério e ganhou até uma família, a “família Gotinha”.

Criado em 1986 por Darlan, Zé Gotinha atravessou todos os governos desde então. Apenas no governo Bolsonaro foi deixado de lado, sobretudo após ganhar fama de “comunista” só porque seguiu as orientações sanitárias e não retribuiu o aperto de mão do presidente em uma cerimônia, em dezembro de 2020. Seu castigo: não estrelou, como aconteceu nos últimos anos, a mensagem de Feliz Natal no instagram do Ministério da Saúde.

Em março deste ano, no primeiro discurso após a anulação pelo STF de sua condenação, o ex-presidente Lula havia cobrado: “Cadê o Zé Gotinha? O Bolsonaro mandou embora porque pensou que ele era petista”. A “resposta” do bolsonarismo foi justamente o Zé Gotinha miliciano postado por Eduardo.

O retorno triunfal do Zé Gotinha ao centro das campanhas de saúde públicas coincide exatamente com a CPI da Pandemia. No dia 27 de abril, a CPI é instalada; dois dias depois, no dia 29 de abril, como se fosse um membro do governo, Zé Gotinha aparece ao lado do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, recebendo as doses da vacina Pfeizer que chegaram em Campinas.

Zé Gotinha em Campinas com Queiroga. Foto: Ailton de Freitas/MS

No dia 12 de maio, o Ministério da Saúde lança a nova campanha de conscientização e medidas preventivas contra a Covid-19, com a “família Gotinha” como protagonista. Um ano e três meses depois de a doença ter chegado a nosso país, o governo federal utiliza o personagem para disseminar medidas básicas de proteção, como usar máscara, praticar distanciamento social e higienizar as mãos.

Detalhe: a médica infectologista Luana Araújo aparece ao lado dos personagens, da ministra da Mulher, Damares Alves, e de Queiroga no dia do lançamento da campanha. No dia 2 de junho, apenas 20 dias depois, Luana faria um depoimento demolidor na CPI em que acusaria o Palácio do Planalto de não homologar sua contratação por ser contra o inexistente “tratamento precoce” preconizado pelo bolsonarismo sem evidência científica para tal.

Damares, Luana Araújo e Queiroga com a família Gotinha em maio. Foto: Tony Winston/MS

Vídeos com a “família Gotinha” inundam agora as redes sociais do governo e o horário comercial dos principais canais de televisão. Cartazes com Zé Gotinha alertando para o uso de máscaras estão sendo espalhados país afora.

Mesmo que “acabe em pizza”, como muitos temem, a CPI tem feito o governo se mexer em direção à ciência. A volta do Zé Gotinha à mídia oficial, após um ano de ostracismo, indica que finalmente Bolsonaro vai colocar a vacinação dos brasileiros como prioridade. Agradeçam aos senadores membros da Comissão. E ao Zé Gotinha.


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