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Direitos Humanos

Te cuida, Borba Gato: estátua de ativista negra substitui monumento a traficante de escravos

Na Inglaterra, escultura de manifestante do Black Lives Matter é colocada no pedestal onde estava a que foi jogada no rio em junho

A Surge of Power. Foto: divulgação
Da Redação
15 de julho de 2020, 16h35

A estátua do traficante de escravos Edward Colston, que há 125 anos “ornava” o centro de Bristol, na Inglaterra, e que acabou jogada no rio por manifestantes antirracistas em junho, foi substituída nesta quarta-feira pela escultura de uma ativista negra do movimento Black Lives Matter. O artista Marc Quinn eternizou em resina negra a imagem em carne e osso de Jen Reid ao subir, de punho cerrado, no pedestal onde ficava o monumento ao negociante de vidas humanas. A substituição foi feita sem autorização formal dos órgãos públicos.

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I’d first like to thank Jen for collaborating with me on A Surge of Power (Jen Reid) 2020 at every point in the process of making this new temporary public artwork. The sculpture’s title comes from Jen’s powerful description of her experience of standing on the plinth: “It was like an electrical charge of power was running through me. My immediate thoughts were for the enslaved people who died at the hands of Colston and to give them power. I wanted to give George Floyd power, I wanted to give power to Black people like me who have suffered injustices and inequality. A surge of power out to them all.” I would also like to thank @mtec0 for the amazing job that they did with their swift and safe installation, in the early hours of this morning. #marcquinnart

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Quinn explicou que o título da obra, A Surge of Power (Uma Onda de Energia), veio da descrição que Jen fez do que sentiu ao ocupar, como uma estátua viva, o pedestal vazio, quando caminhava de volta para casa após participar das manifestações. “Foi como se uma corrente de energia elétrica corresse em mim. Meus pensamentos imediatos foram as pessoas escravizadas que morreram nas mãos de Colston, e transmitir energia a eles. Eu queria transmitir energia a George Floyd, queria transmitir energia às pessoas negras como eu que sofreram injustiças e desigualdades. Uma onda de energia para todos eles.”

Jen Reid diante da escultura de si mesma. Foto: reprodução instagram

Jen e Marc lançaram juntos um manifesto onde explicam seus sentimentos. “Esta escultura é uma tomada de posição sobre minha mãe, minha filha, pessoas negras como eu. É sobre crianças negras vendo isso lá em cima. É algo do qual se sentir orgulhoso, ter um sentido de pertencimento, porque na realidade nós pertencemos a este lugar, não estamos indo para lugar nenhum”, disse a ativista.

Imaginem se acontecesse no Brasil, a estátua de um destes bandeirantes genocidas sendo derrubada e substituída pela escultura de um dos indígenas ou de um dos negros que eles assassinaram? E não seria muito mais significativo para o nosso povo?

“Esta escultura captura um momento. Isso aconteceu no meio das notícias e do efeito cascata ao redor do mundo causada pelo assassinato de George Floyd, que eu vinha acompanhando”, disse Marc Quinn. “Um amigo me mostrou a foto de Jen no instagram sobre o pedestal em Bristol, com o punho erguido em uma saudação Black Power. Meu pensamento imediato foi como seria incrível fazer uma escultura dela. Contactei Jen pelas redes sociais e ela topou.”

O artista, que é branco, defendeu a importância de os brancos com poder se engajarem na luta antirracista. “Tem uma coisa que Desmond Tutu disse que reverbera em mim fortemente: ‘Se você é neutro em situações de injustiça, você escolheu o lado do opressor. Eu acho que chegamos num ponto em que os brancos têm que se aliar e os brancos em posições de poder precisam falar e combater ativamente o racismo. Para mim isso significa me educar, ouvir os outros e achar um meio significativo de contribuir.”

Não se sabe ainda como as autoridades da cidade reagirão à presença da nova estátua. Mas imaginem se acontecesse no Brasil, um monumento a um destes bandeirantes genocidas sendo derrubado e substituído pela escultura de um dos indígenas ou de um dos negros que eles assassinaram? E não seria muito mais significativo para o nosso povo? Te cuida, Borba Gato!

 


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(4) comentários Escrever comentário

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Armando Castro em 16/07/2020 - 13h48 comentou:

Cynara, é importante essa substituição, mas e o contexto dessa roupa da adidas? Pepe Escobar disse que a direita está aproveitando a indignação pela morte do George Floyd para sequestrar esse movimento do black lives. Várias multinacionais estão financiando esse movimento, que está se tornando majoritariamente branco e capitalista. Black lives não é Black panthers!

Responder

Marcus em 17/07/2020 - 12h57 comentou:

Eu também fiquei incomodado com a adidas da roupa.

Responder

Paulista com orguho em 14/10/2020 - 13h55 comentou:

Te cuida você, que te denuncio por CRIME DE RACISMO, se tocar com essas mãos imundas e atacar o símbolo de um povo.

Responder

    Cynara Menezes em 14/10/2020 - 19h20 comentou:

    risos

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