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Era Temer: fabricante de balas de borracha agora integra “conselhão” da presidência

Tempos cada vez mais sombrios na presidência da República: foi anunciado hoje em Brasília que, entre os novos membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “conselhão” criado por Lula, será empossado o empresário Carlos Erane de Aguiar, que preside a Condor Tecnologias Não-Letais e o Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa […]

Cynara Menezes
30 de janeiro de 2017, 23h30
professorcondor

(Professor paranaense com “colar” de armas da Condor. Foto: Ana Beatriz Pazos/CUT-PR)

Tempos cada vez mais sombrios na presidência da República: foi anunciado hoje em Brasília que, entre os novos membros do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “conselhão” criado por Lula, será empossado o empresário Carlos Erane de Aguiar, que preside a Condor Tecnologias Não-Letais e o Sindicato Nacional das Indústrias de Materiais de Defesa (Simde). A Condor, empresa de Nova Iguaçu (RJ), é uma das maiores fabricantes de balas de borracha, gás lacrimogêneo e spray de pimenta do mundo. Ou seja, um especialista em reprimir manifestações virou conselheiro da presidência da República. Tudo a ver com a era Temer.

Criado em 2003 por Lula, o “conselhão” sempre foi composto por importantes empresários, representantes de movimentos sociais, de sindicatos e da sociedade civil. Nomes dos quais a sociedade poderia sentir orgulho e não vergonha. A prática permaneceu na era Dilma. Na última reunião do “conselhão” antes do impeachment, constavam nomes como os do ator Wagner Moura e dos empresários Cláudia Sender, da TAM, Abílio Diniz, da BRF, e Roberto Setúbal, do Itaú, além de personalidades como Viviane Senna, do Instituto Ayrton Senna, e o neurocientista Miguel Nicolelis. A conferir o que os atuais membros acharão de posar ao lado de um fabricante de balas de borracha.

Ao contrário do que o nome diz, as balas de borracha estão longe de ser de fato “armas não-letais”. Os próprios fabricantes aconselham atirar nas pernas a uma distância de ao menos 20 metros, o que não é levado exatamente ao pé da letra nos momentos de conflito e pelos policiais que temos. Se o disparo for mais próximo do que isso, pode ferir gravemente a pessoa e até matar. Em 2013, o fotógrafo Sérgio Andrade da Silva ficou cego de um olho ao ser atingido por uma bala de borracha. O mais incrível é que, no ano passado, um juiz inocentou o Estado na ação movida por Sérgio, culpando o fotógrafo por se colocar na linha de tiro.

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(Manifestante atingido por bala de borracha em Curitiba em 2015. Foto: Everson Bressan/SMCS)

Armas “não-letais” da Condor foram utilizadas no massacre que a administração Beto Richa (PSDB) promoveu contra os professores paranaenses que protestavam contra seu governo, em abril de 2015. Mais de 200 professores ficaram feridos, atingidos por exatamente 2.323 balas de borracha e 1.413 bombas de efeito moral, segundo levantamento feito pela Ubes (União Brasileira de Estudantes Secundaristas). No ano anterior, o governo Richa gastara 6,3 milhões de reais em compras de armamentos “não-letais” na Condor, sem exigência de licitação, porque a empresa não possui concorrentes.

As balas de borracha e outros artefatos da Condor viraram um produto de exportação brasileiro para reprimir manifestações mundo afora. Em 2012, ativistas do Bahrein denunciaram que bombas de gás lacrimogêneo fabricadas no Brasil foram usadas para conter os protestos pró-reforma no país, encabeçados pela maioria xiita contra a monarquia sunita do rei Hamad bin Issa al-Khalifa. No YouTube apareceu um vídeo onde se pode ver claramente as cápsulas com as bombas de efeito moral tupiniquins utilizadas pelas forças policiais.

Agora, o fabricante das balas de borracha virou conselheiro do presidente da República. Que “ideias” ele trará para o país?

 


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