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Reação ao coronavírus não contrapõe ideologias e sim competência X incompetência

Há bons e maus exemplos tanto na esquerda quanto na direita; a questão é colocar o bem da população em primeiro lugar

Foto: Sérgio Lima/Poder360
Cynara Menezes
02 de abril de 2020, 17h03

A reação dos governos municipais, estaduais e federais à pandemia de coronavírus em todo o mundo não contrapõe, ao contrário do que se poderia imaginar, esquerda versus direita e sim competência versus incompetência na hora de gerir crises; preparo versus despreparo no exercício do cargo. Os governantes que estão colocando a ideologia acima da saúde pública, como já advertiram Cuba e China, estão errando feio e, com isso, serão responsáveis diretos pelos milhares de mortos que porventura ocorrerem em seus países.

A chanceler alemã Angela Merkel, de direita, é um exemplo dos governantes que optaram, de forma racional, por colocar a saúde pública em primeiro plano. A Alemanha, embora seja o quinto país do mundo com mais infectados, registra um número de mortes baixo em relação a outros, graças à ação rápida do governo, que passou a testar em massa seus cidadãos e isolar os contaminados.

Angela Merkel, de direita, é um exemplo dos governantes que optaram, de forma racional, por colocar a saúde pública em primeiro plano. Como Alberto Fernández, de esquerda, a alemã combate a pandemia sem deixar desprotegidos os trabalhadores

Merkel também está tomando atitudes corretas em relação à economia. Permitiu que as empresas possam reduzir a jornada, mas a Agência Federal de Emprego vai pagar os 60% de perda aos trabalhadores. A liberal primeira-ministra vai conceder empréstimos ilimitados às empresas com problemas para manter a liquidez e evitar demissões e pretende até mesmo estatizar algumas delas em setores estratégicos, como o farmacêutico.

Vejam a diferença para as decisões de Jair Bolsonaro, também de direita (extrema). Além de ter desprezado a pandemia, chamando de “gripezinha”, e dado mau exemplo burlando diversas vezes o isolamento social aconselhado pela OMS, Bolsonaro está jogando o peso da crise inteirinho nas costas do trabalhador. A Medida Provisória que anunciou autoriza os patrões a suspender o contrato de trabalho por 60 dias e reduzir em 70% os salários. Como as pessoas vão comer, pagar o aluguel? Para o presidente isso deve ser um “detalhezinho”.

De esquerda, o presidente argentino Alberto Fernández vem mostrando competência na gestão da crise. Decretou quarentena geral obrigatória já em 19 de março, criou mecanismos de proteção social e agora proibiu as empresas de demitir sem justa causa durante 60 dias.

Seu vizinho de direita, Luis Lacalle-Pou, do Uruguai, não decretou quarentena obrigatória, mas suspendeu todos os espetáculos públicos e aulas nas escolas e colocou a polícia nas ruas para impedir aglomerações. Lacalle-Pou, que defende a estratégia sul-coreana de testar em massa a população (o que não é difícil em se tratando de um país pequeno), se reuniu com a oposição no espírito “desta saímos todos juntos” e anunciou a redução dos salários mais altos do funcionalismo público para destinar a um “Fundo Coronavírus”.

No Brasil, fica evidente que as ideologias devem estar em segundo plano quando analisamos as atitudes corretas de prefeitos e governadores, que visam proteger a população. Já Bolsonaro só fala em economia

Já o governo de centro-esquerda de Pedro Sánchez na Espanha se equivocou e muito no combate à pandemia e agora o país carrega o triste título de segundo do mundo no número de mortos, justamente pela demora em reagir. Dos seis conselheiros científicos do governo espanhol, três minimizaram o perigo por tempo demais, e, embora os aliados esquerdistas do Ahora Podemos e até do oposicionista PP, de direita, pressionassem pelo endurecimento da quarentena, o presidente só foi ordenar o isolamento após as mortes dispararem.

O mesmo aconteceu nos Estados Unidos, só que tendo no comando uma ideologia oposta. Enquanto a China “comunista” peitava o vírus com o confinamento de cidades inteiras, o extremista de direita Donald Trump só foi ceder à expertise de Xi Jinping no combate à pandemia ao se dar conta da avalanche de mortes decorrentes do “vírus chinês”, como ele apelidou. São mais de 200 mil infectados e 4.600 mortos até agora e o próprio Trump estima que as vítimas fatais alcancem 200 mil.

É certo que o despreparo para o cargo fica mais evidente na extrema direita. As reações de Bolsonaro e Trump foram idênticas: primeiro apelaram às teorias conspiratórias, dizendo que o vírus era uma invenção de seus inimigos, para se render às evidências apenas muito mais tarde, quando a desgraça havia se espalhado.

Enquanto Trump negou a pandemia dizendo que era “hoax” (boato) dos democratas…

…Bolsonaro afirmava que era “invenção da imprensa”.

Outro que subestimou a pandemia foi o primeiro-ministro britânico, o direitista Boris Johnson, a ponto de contar em uma entrevista ter apertado a mão de várias pessoas infectadas, ao lado de um especialista que aconselhou: “Lave suas mãos”!

Até que… ele próprio foi contaminado pelo coronavírus. A partir daí, Johnson passou a usar a tag #StayHomeSaveLives (“ficar em casa salva vidas”) nas redes sociais.

Mas Lenín Moreno, do Equador, supostamente de esquerda, já que foi vice de Rafael Correa, teve postura similar. A atuação de Moreno diante da pandemia foi tão pífia que o país se tornou campeão de casos na América Latina, em termos proporcionais. A imprensa local e internacional está mostrando imagens chocantes de gente morta no país sem que nem sequer seus corpos sejam recolhidos das ruas.

Outros governantes de esquerda que minimizaram a pandemia como seus homólogos de direita foram López Obrador, no México, e Daniel Ortega, na Nicarágua –este último há tempos indigno do rótulo de “esquerdista”. Em plena crise do coronavírus, sua mulher e vice-presidenta, Rosario Murillo, convocou uma marcha de apoiadores para ir às ruas sob o lema “Amor em Tempos de Covid-19” no dia 15 de março, exatamente como fez Bolsonaro no Brasil.

López Obrador também desafiou as orientações sanitárias aconselhando as pessoas a continuarem a se abraçar, manteve os encontros com a população e chegou a apresentar sua “maior arma” contra o coronavírus: dois escapulários. O proselitismo religioso, como se vê, não é exclusividade da direita.

É preciso que se diga que, até agora, tanto o México quanto a Nicarágua têm apresentado um número pequeno de infectados e de mortos, mas os especialistas advertem que a onda de contaminações ainda está para chegar com força em ambos os países. Há inclusive quem aposte que o México rapidamente pode se tornar uma nova Itália ou pior.

No Brasil, fica evidente que as ideologias devem estar em segundo plano quando analisamos as atitudes de prefeitos e governadores em comparação às do presidente da República. Independentemente do espectro político, a maior parte dos governantes do país tem tomado decisões acertadas em relação ao coronavírus, decretando isolamento social e fechamento do comércio e das escolas para proteger a população. Já Bolsonaro só fala em economia.

Neste momento, as ideologias não só não estão ajudando como estão atrapalhando o combate à pandemia. Por isso é positivo ver o ex-presidente Lula e o governador Doria deixando as diferenças de lado

João Doria Júnior (SP), Ronaldo Caiado (GO) e Wilson Witzel (RJ), de direita, agiram corretamente em relação ao coronavírus, assim como Rui Costa (BA), Flavio Dino (MA) e Camilo Santana (CE), de esquerda. Alinhado ao Planalto, o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés, se deixou guiar pela ideologia e chegou a baixar uma portaria prevendo o fim do isolamento em 30 de março, mas acabou voltando atrás e ampliou a quarentena até 7 de abril. Já o governador bolsonarista de Rondônia teve que ser forçado pela Justiça a manter o comércio fechado.

Neste momento, as ideologias não só não estão ajudando como estão atrapalhando o combate à pandemia. Os fatos mostram que não é hora de se guiar por razões político-eleitorais e sim de saúde pública. Por isso é positivo ver o ex-presidente Lula e o governador Doria deixando as diferenças de lado. Posicionar-se contra a união de contrários em nome do bem comum é uma atitude mesquinha, que demonstra apenas desamor pelo Brasil e pelos brasileiros.

 


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